Sempre vigilantes

Correio Braziliense
postado em 25/04/2022 00:00 / atualizado em 25/04/2022 00:00

A vida começa a se parecer um pouco mais com o que era antes. É claro que, como tudo o que fica para trás, os dias pré-pandemia jamais retornarão do mesmo jeito. Nem duas folhas de papel em branco o são, pois ocupam posições diferentes no espaço. Corrijam-me em caso de engano, mas creio que é assim que nos ensina a filosofia.

Participar de celebrações de Natal, carnaval, feriados e de shows não é mais motivo de preocupação ou angústia. Conseguimos aos poucos retomar parte da rotina. Seguimos vigilantes, no entanto, para a possibilidade de uma nova onda do vírus, para voltar a viver uma realidade de cuidados redobrados, por nós, pelos nossos e pelo próximo.

Devemos permanecer atentos também para os impactos das nossas escolhas. Em um ano eleitoral, isso se torna ainda mais essencial. Na crônica em homenagem ao aniversário de Brasília — em uma delas — Severino Francisco levantou a questão essencial, visceral: que cidade legaremos a nossos filhos e netos? E acho que podemos (e devemos) ir mais longe. Que país legaremos a nossos filhos e netos?

Minha preocupação é em dose dupla, como sabem, e depois ainda multiplicada por mais dois, em progressão geométrica, crescendo assustadoramente. Mãe de duas pequenas, não posso deixar de pensar no futuro, nos projetos de cidade e de país que gostaria de deixar para elas. Mas, mais do que isso, há certas coisas inegociáveis, das quais nunca admitirei privá-las, muito mais importantes até do que o leite que jorra do peito.

A liberdade, a capacidade de compreender e interpretar os acontecimentos do mundo, nutrir respeito pelos outros. Essas são algumas das cláusulas pétreas da constituição aqui de casa. Não há negociação. E são elas que guiam nossas escolhas. Desde as compras do supermercado, passando pelo ensino formal das crianças, até as escolhas sobre quem queremos que nos governe.

Isso significa a impossibilidade também de escolher o caminho mais fácil. A felicidade e a paz de espírito trazem um preço alto consigo. Estava assistindo ao mais recente filme do Homem Aranha numa sessão de cinema em casa com amigos queridos e uma das cenas nos lembrou a frase clássica: "Com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades". Dessa vez, dita pela tia May, interpretada por Marisa Tomei.

Um multiverso mais empoderado, mais feminino e feminista, mais preocupado com o bem-estar social, com a diversidade, com a educação das nossas crianças. É disso que precisamos para construir um futuro que nos orgulhe. Mesmo que tenhamos que optar pelas decisões mais difíceis ao longo do caminho, e não pelas respostas mais simples e imediatas.

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