Brutalidade

Violência de gênero marca fim de semana das mães

Em Samambaia, uma mulher foi morta e teve o corpo queimado. Em Brazlândia, a vítima levou uma facada no ombro. O crime foi praticado pelo companheiro

Ailim Cabral
postado em 09/05/2022 00:01
 (crédito:  Reprodução)
(crédito: Reprodução)

O fim de semana foi marcado por casos de violência de gênero. No primeiro crime, praticado na manhã de sábado, uma mulher foi encontrada morta e queimada em Samambaia. A segunda ocorrência foi registrada em Brazlândia, na noite de sábado.

Uma mulher de 45 anos foi esfaqueada no ombro pelo companheiro. O casal chegou em casa, na Vila São José, depois de um passeio em um quiosque de churrasco e começou a discutir.

O suspeito, um homem de 46 anos, disse em depoimento que, por volta das 23h30, a mulher pegou uma faca de cozinha e, em seguida, ele teria feito o mesmo, atingindo a companheira no ombro.

O homem ligou para o genro da vítima, dizendo que uma tragédia tinha acontecido e acionou, também, o Corpo de Bombeiros (CBMDF). Quando a mulher chegou ao Hospital Regional de Brazlândia, a equipe médica suspeitou de violência doméstica e acionou a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF).

O homem tem passagens por crimes enquadrados na Lei Maria da Penha, entre eles, lesão corporal no âmbito doméstico, injúria e ameaça. Ele foi preso em flagrante pela PMDF e vai responder por tentativa de feminicídio.

Esfaqueada e queimada

O caso mais chocante ocorreu na manhã de sábado. Por volta das 7h, vizinhos do Parque Gatumé, em Samambaia Norte, encontraram o corpo de uma mulher ainda em chamas. A vítima apresentava marcas de 22 facadas, além de mutilações e sinais de violência sexual. Ela foi abandonada na entrada da área de preservação, próximo à quadra 427, conjunto 1, de Samambaia, cerca de 10 metros dentro do mato.

A mulher estava nua, com o vestido largado ao lado. As marcas de facada estavam apenas na região acima do abdômen. O fogo consumiu quase toda a metade inferior da vítima e pode esconder sinais de mais ferimentos.

A Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) apagou as chamas e acionou as outras forças de segurança. Rodrigo Carbone, delegado da 28ª Delegacia de Polícia (Samambaia Norte) e responsável pela investigação, chama atenção para a brutalidade do crime.

"Foram muitos golpes, mais de 20 só na área que não foi atingida pelo fogo. É muito provável que tenha sofrido outras lesões na região do abdômen. Ela tinha, também, ferimentos de defesa nos braços", revela.

Entre as diversas lesões, um corte grande e profundo no pescoço se destacava. O corpo ficou muito deteriorado da cintura para baixo, elementos que fortalecem as suspeitas de crime sexual. As mãos fechadas, carbonizadas e separadas do corpo dificultaram a identificação da mulher.

Abandono e descaso

O Parque Gatumé, em estado de completo descaso, fica em uma área de proteção ambiental e tem cerca de 150 mil hectares. Próximo da via principal de Samambaia Norte, com mato alto — mais de um metro de altura —, e sem iluminação própria, é uma área propícia para a violência.

Os moradores da região afirmam que as ocorrências são comuns. Os postes da rua não ajudam na sensação de segurança, somente dois deles estão funcionando. Após o anoitecer, todos fecham as janelas e trancam os portões.

O desleixo com o parque é uma reclamação antiga. Reportagens veiculadas pelo Correio em 2010 mostram reclamações da população com a falta de cuidado com a área de proteção ambiental.

A preocupação estava mais voltada à conservação do parque, moradores costumavam se reunir para retirar lixo do local e denunciar a ação de grileiros e criação de gado. Pouco foi feito desde então e há mais de dez anos os vizinhos já relatavam casos de violência e barulhos de tiros.

Por meio do então assessor da Superintendência de Áreas Protegidas, Luiz Otávio França Campos, o Instituto Brasília Ambiental (Ibram) esclareceu, na época, que não existia previsão de melhorias no parque.

Para uma posição atual, nossa equipe entrou em contato com o instituto, mas ainda não obteve retorno.

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