Conversa no Uber

Correio Braziliense
postado em 24/05/2022 00:01

Em princípio, não tenho simpatia pelo Uber ou por qualquer modelo de negócio sem regulação ou controle. Não tenho dúvidas de que a desregulação leva a um estado de barbárie. É muito estranho, você pede o serviço e chega um carro sem qualquer identificação. Todos os meus amigos utilizam transporte por aplicativo, mas continuo com as minhas reservas.

No entanto, precisei usar os serviços do Uber e fui atendido por uma moça de sotaque nordestino. Eu gosto de conversar com motoristas, pois eles sempre trazem informações, observações ou histórias interessantes.

Para puxar conversa, perguntei à moça se ela gostava do ofício, e ela comentou: "trabalhava com RH, mas, com a crise econômica, perdi o emprego, peguei o carro, inscrevi no Uber e comecei a trabalhar. Tem muita gente desempregada. É o que está salvando a gente".

Você gosta de trabalhar de motorista?

Gosto muito, sempre gostei muito de dirigir, não tenho preguiça. Transformei a habilidade em profissão. Gosto tanto que, alguma vezes, trabalho à noite.

Mas não é um pouco perigoso trabalhar à noite?

Muito!

E vocês têm algum aplicativo para garantir a segurança?

Temos.

Qual deles?

É Deus! Mas temos um sistema de comunicação, e o GPS ajuda na localização.

Já viveu alguma situação de insegurança?

Claro, várias. Em uma delas, uma moça pediu uma corrida para a Ceilândia. Mas, quando chegou próximo à cidade, ela me comunicou: 'Moça, eu disse que era para a Ceilândia porque fiquei com medo de que você recusasse a corrida se eu dissesse que o destino era Sol Nascente'. Perguntei qual era o endereço, e ela respondeu que não saberia dizer, seria preciso me guiar até chegar ao destino.

E conseguiu chegar lá?

Rodei por muitas vielas e becos tortuosos. Até que cheguei a um lugar estranho. A sensação era a de estar em uma favela do Rio de Janeiro. As pessoas andavam armadas pelas ruas, em frente a casas onde rolavam funk. Nunca pensei que pudesse existir algo assim dentro de Brasília.

E como é que saiu de lá?

Liguei para os colegas e um motorista que conhecia a região foi lá me ajudar a sair. Ele disse: 'Essa área é muito perigosa. Nunca mais aceite uma corrida para cá. Você teve sorte de não ter acontecido nada com você'. Felizmente, saímos sem nenhum problema e eu voltei em paz para casa.

Cheguei a meu destino e desejei boa sorte àquela trabalhadora. Só Deus mesmo para protegê-la. "Que Deus te proteja!". E ela respondeu: "Amém!"

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