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"Desesperada pelas meninas"

Três dias após o atropelamento de cinco crianças, quatro das vítimas seguem internadas na UTI. Ontem, a Justiça decidiu pela prisão preventiva do motorista que atingiu as garotas. Mãe de Maria Eduarda, que recebeu alta, desabafa

CARLOS SILVA*THAÍS MOURA
postado em 25/05/2022 00:01
 (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)
(crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)

Quatro das cinco crianças que foram atropeladas por um motorista embriagado em Ceilândia, no último domingo, continuam internadas no Hospital de Base. Uma delas teve melhora. O Iges-DF não indicou qual delas. Ana Julia, 6 anos; Bruna Raquel, 6; Ester Isabely, 10; e Sofia Valentina, 4, seguem na unidade de terapia intensiva (UTI). Uma das vítimas recebeu alta e foi para casa, sem ferimentos graves. Traumatizada, Maria Eduarda da Silva, 10, agora, torce pela recuperação das amigas. "Que elas fiquem bem e logo estejam aqui comigo", diz a menina. Ontem, a Justiça decidiu pela prisão preventiva do motorista, Francisco Manoel da Silva. Ele estava bêbado quando atingiu as meninas e possui habilitação.

Apesar da preocupação que sente em relação às outras vítimas, a mãe de Maria Eduarda, Francisca da Silva, 35, está aliviada com a rápida recuperação da filha. "Ela teve poucos hematomas, alguns ralados nas costas, na cintura e joelho, mas, pela gravidade do acidente, os hematomas são o de menos. É um milagre. Estou desesperada pelas meninas, mas sinto alívio por ela", revela, ao Correio.

Enquanto acontecia a audiência de custódia que converteu a prisão em flagrante do homem em prisão preventiva, familiares e amigos das vítimas e moradores da região de Ceilândia e Sol Nascente participavam de uma manifestação, no Instituto Abraço Solidário, para pedir justiça e segurança para as crianças da comunidade. Maria Eduarda, que recebeu alta na tarde de segunda-feira, foi ao ato com a mãe. A memória que ela tem da tragédia é do pavor que sentiu antes de ser atropelada. "Não lembro muito de quase nada, porque fiquei muito assustada, senti medo demais. Eu não imaginava que isso ia acontecer", conta a menina.

O protesto de ontem ocorreu no Instituto Abraço Solidário, na Quadra 202 do Sol Nascente, a algumas quadras do local onde aconteceu o atropelamento, na QNP 5 de Ceilândia Norte. A entidade, sem fins lucrativos, oferece doações, ações sociais e esportivas para pessoas carentes, crianças e jovens da região. As meninas atropeladas no domingo faziam aulas de artes marciais no local.

O filho da balconista Mayara Santana, 28, é amigo das meninas. Segundo a mãe de Michel, o garoto está tão abalado que não consegue ir à escola. "Sou mãe e me vejo no lugar delas. Sei que é uma dor muito grande, e a gente não pode fazer nada a não ser pedir justiça, para que isso não fique impune, e que o motorista pague pelo que fez, pois destruiu a vida delas e a da gente também", protesta Mayara, emocionada.

Glória Shirley Pereira, 50, é avó de Ana Julia, Bruna Raquel, e Ester Isabely. Ela esteve no ato e contou que Ester foi a única que não precisou passar por cirurgias. "As quatro que estão internadas tiveram traumatismo craniano, e três passaram por cirurgias", explicou. Segundo ela, a preocupação dos médicos é com a possibilidade de sangramento pós-cirúrgico, o que poderia levar a hemorragia. Abalada, a avó das meninas espera que o homem responsável pela tragédia continue preso.

Autoridades manifestaram solidariedade às vítimas da barbárie. Na manhã de ontem, o governador do DF, Ibaneis Rocha (MDB), comentou o assunto. "Torço muito para que essas crianças saiam do hospital com saúde e que possam ter as suas vidas contempladas pela benção de Deus." Na ocasião, o chefe do Executivo local afirmou que, apesar da fiscalização feita pelo Departamento de Trânsito (Detran) e pelas polícias, a população precisa se conscientizar sobre a mistura entre o álcool e a direção. "Senão, vamos continuar tendo acidentes graves como este, independente do trabalho que o governo faça", avaliou o governador.

Investigação

Francisco Manoel da Silva, 53 anos, atropelou as crianças enquanto elas atravessavam a faixa de pedestres. O homem não tem carteira de habilitação e tentou fugir do local após o acidente, mas foi detido por motociclistas que presenciaram o crime. O exame do Instituto Médico Legal (IML) constatou a embriaguez do condutor, que confessou à polícia ter ingerido uísque. Em 2015, Francisco teve outra passagem criminal por dirigir sem habilitação. Ele foi preso em flagrante no domingo, e ontem, a juíza Monike de Araújo Cardoso, do Núcleo de Custódia de Ceilândia, decidiu que a medida será convertida em prisão preventiva.

Os advogados de Francisco pediram a liberdade provisória, mas a magistrada negou por considerar que houve caráter doloso nas ações do homem — ou seja, quando há intenção. "O caso ultrapassa a 'mera' embriaguez ao volante. O autuado, além de se encontrar embriagado na condução de veículo automotor, não possuía habilitação, ou seja, não possuía conhecimento técnico para conduzir veículo automotor e, ainda assim, assumiu o risco de ferir a integridade física própria e de terceiros", detalha a decisão.

Ao Correio, o advogado Abraão Carvalho dos Santos, que representa o motorista, disse que vai recorrer da prisão preventiva e que a Justiça agiu de forma inconstitucional ao considerar que houve dolo no acidente. A defesa reforçou que Francisco repudia o acidente e que se solidariza com as famílias das crianças atropeladas.

À reportagem, o delegado da 15ª Delegacia de Polícia (Ceilândia Norte), Fernando Crisci, explica que as investigação foram encerradas e que a corporação aguarda o resultado da perícia. "Quando isso for finalizado, será encaminhado diretamente ao poder Judiciário. E, pelo que já foi levantado no dia do fato, já tem material suficiente para o Ministério Público oferecer denúncia, em nosso entendimento. Pode ser que o MP provoque, de novo, a polícia para tomar novas diligências, e, neste caso, o inquérito será transferido para a 19ª DP", adianta.

*Estagiário sob a supervisão
de Guilherme Marinho

 

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  • As meninas internadas na UTI do Hospital de Base têm entre 4 e 10 anos
    As meninas internadas na UTI do Hospital de Base têm entre 4 e 10 anos Foto: Ed Alves/CB
  • Gloria Pereira é avó de três das vítimas atropeladas no domingo
    Gloria Pereira é avó de três das vítimas atropeladas no domingo Foto: Ed Alves/CB
  •  24/05/2022. Crédito: Ed Alves/CB/D.A Press. Brasil. Brasília - DF. Cidades. Uma das crianças, vitima do atropelamento na Ceilandia recebe Alta medica. Na foto Franciska Katiane Silva e sua filha Maria Eduarda.
    24/05/2022. Crédito: Ed Alves/CB/D.A Press. Brasil. Brasília - DF. Cidades. Uma das crianças, vitima do atropelamento na Ceilandia recebe Alta medica. Na foto Franciska Katiane Silva e sua filha Maria Eduarda. Foto: Ed Alves/CB

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