Investigação /

Prejuízo para comerciantes

Dois incêndios, um na Feira dos Importados e outro na Estrutural, destruíram 14 bancas e caminhões, ontem. Perícia vai determinar as causas do fogo. Dono dos veículos queimados acredita em ação criminosa. Não houve feridos

Júlia Eleutério Carlos Silva*
postado em 31/05/2022 00:01
 (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)
(crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)

O clima de desolação e preocupação tomou conta da Feira dos Importados e da Quadra 2 da Estrutural. Comerciantes e trabalhadores lamentavam a destruição provocada por dois grandes incêndios ocorridos na madrugada de ontem. No centro comercial, cerca de 25 bancas foram atingidas pelo fogo, sendo que 14 ficaram completamente destruídas. A maioria delas vendia óculos e aparelhos eletrônicos. Somente a perícia vai dizer como o fogo começou. Na Cidade Estrutural, três caminhões foram queimados. Os veículos pertenciam a uma mesma pessoa. Ninguém ficou ferido.

Feirante há mais de 30 anos, uma senhora que preferiu não se identificar estava abalada. "Perdi tudo, estamos no grupo das 14 bancas mais atingidas", lamentou a comerciante. O filho dela, que também trabalha no box, revela que ainda não é possível avaliar o prejuízo. "O relato é de que eles (bombeiros) chegaram a molhar toda a estrutura por dentro, justamente para resfriar. Agora, os danos a gente não sabe se foi perda total ou se foi parcial", ponderou o rapaz.

Na banca, eram vendidos acessórios de vestuário, como meias, cuecas, luvas e touca. "Sentimento de perda", descreveu a feirante, que está no local desde a fundação. "Em 30 anos, eu nunca tinha visto nada dessa proporção", recordou a mulher. "Tentar resolver agora essa situação", destacou o filho.

Preocupado com a situação na feira, um dono de loja de objetos em miniatura contou que fica próximo à região destruída pelas chamas. "A minha banca não foi atingida, mas (o fogo) pegou algumas ao lado. A gente vem em solidariedade aos amigos que tiveram esse prejuízo, porque é uma situação muito difícil", disse o comerciante. "A gente ficou sem energia na semana passada. Agora, vem esse incêndio", protestou.

Para o Corpo de Bombeiros, a queimada foi considerada de grande proporção pelo tamanho do dano causado no local. "Quando se tem um incêndio, aquela fumaça sobe com a temperatura muito alta. Ela se espalhou pela feira e derreteu muita coisa em outras bancas", detalhou o tenente-coronel dos Bombeiros Fábio Ribeiro. As chamas atingiram os boxes centrais do bloco B. Os seguranças do turno da noite acionaram a corporação ao verem o fogo. Peritos do Corpo de Bombeiros foram acionada. O laudo sai em 30 dias. "A perícia vai ter um trabalho maior para descobrir a causa do incêndio. 

Durante a operação de combate às chamas, os bombeiros identificaram um botijão de gás com a válvula rompida em uma das bancas atingidas. Segundo a corporação, isso pode ter contribuído para o alastramento do fogo. A administração da Feira dos Importados informou que botijões são permitidos  somente na área de alimentação da instalação.

Em nota, a Cooperativa de Produção e Compra em Comum dos Empreendedores da Feira dos Importados do Distrito Federal (Cooperfim) destacou, após a avaliação da Defesa Civil, o espaço deve ser liberado e reaberto hoje.

Tristeza

Na Cidade Estrutural, a tristeza se fazia tão visível quanto a fumaça exalada pelos três caminhões atingidos pelas chamas. Cabisbaixo, de boné azul, chinelo, bermuda e casaco, o dono da empresa de materiais recicláveis a qual pertenciam os caminhões, Jerson Vieira, circulava entre a carcaça dos veículos que traziam o sustento.

Para Vieira, as chamas foram provocadas. "Esse incêndio não foi um acidente. Acordamos por volta das 1h30, depois que nos avisaram. Teve um primeiro incêndio, e apagamos com uma mangueira. Depois, acendeu de novo, e o fogo já estava alto. Não demos conta", explicou. Ele avalia que teve um prejuízo de R$ 650 mil.

Um dos caminhões, usado em fretes, havia sido adquirido na última sexta-feira. "Compramos por R$ 250 mil. Ele ia ser colocado no seguro hoje (ontem). Chegou de São Paulo no sábado. Pintamos no domingo e ia começar a trabalhar", lamentou Jerson Vieira. Um dos caminhões pôde ser salvo. Porém ficou com a traseira queimada. "Tenho que ter fé em Deus e continuar a vida. Não podemos parar por aqui", concluiu.

Quando o incêndio começou, pessoas próximas aos veículos tentaram aplacar as chamas. Reginaldo Guedes, 43 anos, viu o fogo e avisou Jerson. "Estava dormindo (em meu caminhão, no estacionamento), quando ouvi um estouro. Quando vi o que estava acontecendo, corri para chamar o dono, que é um conhecido meu. Ele chamou os bombeiros, mas o fogo já estava muito adiantado. Fiquei com medo. Só peguei a coberta que tenho aqui dentro e fugi", relembrou.

O autônomo Rodrigo Francisco, 24 anos, dormia em um colchão, debaixo de um dos caminhões, quando o incêndio começou e tentou conter as chamas, se ferindo. "Só senti o fogo quando pegou no colchão em que eu estava deitado. Quando pegou na minha cabeça, me assustei e corri. Ainda tentei apagar o fogo, mas acabei me queimando e tive que fugir também", descreve.

Suspeitas

O caso segue em investigação pela 8ª Delegacia de Polícia (SIA). Segundo a delegada Jane Kléber, Jerson foi ouvido ontem e defendeu a tese de fogo criminoso. "O dono acredita que o incêndio pode ter sido criminoso. Ele relatou que, no início da noite, alguém colocou um pneu debaixo de um dos caminhões e iniciou o incêndio, eles apagaram, e ele tomou conta junto com a esposa. Quando eles foram dormir, por volta de 1h da manhã, outro incêndio foi iniciado", afirma.

De acordo com Jane, nas imagens colhidas do circuito de câmeras do local, foi identificado um vulto aparentemente de uma pessoa se movimentando de maneira furtiva. O local está preservado e passará por perícia hoje.

Estagiário sob a supervisão de Guilherme Marinho

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