COMUNIDADE

Rede de vizinhos atua em prol da segurança nas quadras do Plano Piloto

Interação entre as forças policiais e a população ajuda a diminuir a criminalidade no Distrito Federal. Dados da SSP mostram que houve queda nas ocorrências de roubo a veículo e furto a pedestre entre 2019 e 2021

O combate à criminalidade é responsabilidade das forças de segurança. A Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) responde pelo policiamento das regiões administrativas e promove o patrulhamento por meio de rondas, 24h por dia. No entanto, o olhar atento da população também pode colaborar para comunidades mais seguras. O programa Policiamento Vizinhança e a Rede de Vizinhos Protegidos conta com o monitoramento civil dos moradores da Asa Sul e da Asa Norte para garantir a tranquilidade das quadras.

A moradora e vice-prefeita da Quadra 210 Norte, Maria Goreti, 67 anos, afirma que o grupo Rede de Vizinhos Protegidos foi implantado na região em 2021. Ela explica que o projeto funciona por meio de um grupo no WhatsApp, criado para estabelecer a comunicação direta entre moradores e a PMDF. "Dessa forma, as informações sobre situações suspeitas da quadra podem ser debatidas de forma mais ágil entre os vizinhos e depois repassada para polícia, caso seja necessário agir", diz Maria.

Embora o grupo seja importante, as ações não se restringem ao mundo virtual, são feitas reuniões presenciais para avaliar o trabalho de monitoramento, propor novas estratégias e fortalecer a relação entre as partes envolvidas. "Em novembro de 2021, por exemplo, ocorreu uma reunião com o Conselho Comunitário de Segurança (Conseg) da Asa Norte. Na oportunidade, foi dialogado sobre os problemas da cidade e os resultados alcançados com a rede", ressalta. "Além de problemas que englobam a PMDF, também são debatidas demandas que envolvem outros órgãos, como a Novacap e o Detran-DF", aponta a vice-prefeita.

Atualmente, a Asa Norte conta com 87 grupos de redes de vizinhos, entre residências, comércios e o Setor Hoteleiro Norte, segundo o capitão Barbonaglia, chefe da Seção de Comunicação do 3° Batalhão da Polícia Militar e coordenador da Rede de Vizinhos Protegidos. A proposta é contar com as pessoas como "câmeras vivas", com um olhar disciplinado para colaborar com as ações da Polícia Militar. O contato com os grupos permite que os vizinhos consigam identificar situações suspeitas e reportá-las. "Eles informam os acontecimentos no grupo, onde também estão policiais e o próprio batalhão da área. Os moradores possuem um apito que serve de alarme humano e, ao perceberem algo suspeito, podem utilizá-lo. Dessa forma, alertam a todos e faz o suspeito perceber que está sendo vigiado", afirma o capitão.

O programa atua, principalmente, na prevenção de roubos e furtos, segundo Barbonaglia. "Pequenos delitos como a subtração de cabos de energia, arrombamento de veículos, roubo a transeunte são evitados pela solidariedade dos moradores e ações rápidas da polícia militar", acredita. "A partir do momento em que a comunidade passa a ficar mais atenta ao que ocorre na vizinhança, esses crimes são evitados com maior frequência", destaca o capitão.

De acordo com o oficial, a própria Polícia Militar toma a iniciativa de apresentar a filosofia do projeto, organizar e cadastrar todos os vizinhos interessados em fazer parte da rede. "Quando tudo está funcionando, placas de identificação são instaladas para indicar que os imóveis daquela região são monitorados pela própria comunidade", frisa Barbonaglia. Na 210 Norte, onde Maria Goreti mora, existem seis placas que foram posicionadas em locais estratégicos da quadra, segundo a vice-prefeita.

Relação de confiança

O major Marcos Braga, subcomandante do 1º Batalhão da Polícia Militar (Asa Sul), afirma que o programa Policiamento Vizinhança funciona de forma parecida com o da Asa Norte. "A intenção é interagir com a comunidade e, a partir disso, criar um vínculo. Dessa forma, a gente passa a ter uma relação de confiança entre comunidade e PMDF", ressalta. "Por meio da rede social que utilizamos, a gente pode orientar e conversar sobre segurança com a comunidade, além de passar e receber informações importantes, que acabam refletindo nas operações que desenvolvemos na área. Com isso, temos conseguido bons números, reduzimos bastante a criminalidade aqui na Asa Sul", comemora o oficial.

É o que tem percebido o prefeito da 113 Sul, Bruno Apolonio, 41. Apesar de ainda não fazer parte do programa, ele possui um grupo com os porteiros dos 11 prédios da quadra, onde as demandas são repassadas e o próprio prefeito encaminha para o 1º BPM. "Reduziu bastante. Antigamente, furto de celular era frequente. Dá para dizer que, com o grupo, diminuíram as ocorrências em cerca de 50%. O tempo médio de resposta é de 10 minutos. Se fôssemos fazer da forma convencional — ligando para o 190 —, ficaria em torno de 40 minutos", frisa.

Mesmo com a eficiência do grupo próprio, o síndico profissional diz que pretende aderir ao programa da PMDF. "Já fizemos o pedido, agora falta a realização do treinamento dos porteiros. Quando isso acontecer, a intenção é que, além dos porteiros e o representante da polícia, dois síndicos participem do grupo", ressalta Bruno parabenizando a parceria entre a polícia e a comunidade. "O contato é muito bom, nós temos um grupo muito amistoso", completa. Em relação ao Conseg da Asa Sul, Bruno Apolonio afirma que é bem ativo e ajuda bastante à comunidade. "Há reuniões mensais com a presidente para discutir sobre diversos temas sobre segurança", destaca o prefeito da 113 Sul.

A efetividade da união entre as forças de segurança e a população pode ser comprovada não apenas pelos relatos dos policiais e prefeitos de quadras do Plano Piloto. Dados da Secretaria de Segurança Pública (SSP-DF) mostram que as ocorrências de crimes mais atendidas pelas redes de proteção tiveram queda nos últimos anos. Em 2019, Brasília teve 130 roubos a veículos, número que caiu no ano seguinte para 78. A tendência foi mantida e, em 2021, somente 56 ocorrências de roubos a veículos foram registradas.

 

Marcelo Ferreira/CB/D.A Press - 11/03/2022 Crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF - Prefeituras de quadras ajudam a polícia militar a vigiar a região. Rede de vizinhos protegidos. Maria Goreti, vice-prefeita da 210 Norte.
Marcelo Ferreira/CB/D.A Press - 11/03/2022 Crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF - Prefeituras de quadras ajudam a polícia militar a vigiar a região. Rede de vizinhos protegidos. Bruno Apolonio, prefeito da 113 Sul.
Marcelo Ferreira/CB/D.A Press - O prefeito da 113 Sul, Bruno Apolonio, conta com a colaboração dos porteiros da quadra. Demandas são repassadas a 1º BPM
Marcelo Ferreira/CB/D.A Press - 11/03/2022 Crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF - Prefeituras de quadras ajudam a polícia militar a vigiar a região. Rede de vizinhos protegidos. Maria Goreti, vice-prefeita da 210 Norte.
Marcelo Ferreira/CB/D.A Press - 11/03/2022 Crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF - Prefeituras de quadras ajudam a polícia militar a vigiar a região. Rede de vizinhos protegidos. Bruno Apolonio, prefeito da 113 Sul.

Raio-X

Dados sobre os Crimes Contra o Patrimônio (CCP) — principais ocorrências atendidas através dos programas de policiamento de vizinhança — em Brasília:

Roubo a transeunte

2019 - 2.952
2020 - 1.662
2021 - 1.429

Furto a transeunte

2019 - 1.039
2020 - 443
2021 - 450

Roubo a veículo

2019 - 130
2020 - 78
2021 - 56

 

Fonte: SSP-DF

Solução efetiva

Leonardo Sant'Anna —
especialista em segurança pública

Todas as vezes que se cria uma conexão com a comunidade, é possível entender o que ocorre dentro daquele grupo social. Existem muitas especificidades: culturais, geográficas ou de um microambiente que tem uma relação com o tipo de família, de veículo, de configuração e até das próprias áreas edificadas. Existem apartamentos, por exemplo, de um ou dois quartos e a estrutura, pela sua arquitetura, acaba trazendo uma ideia, uma necessidade de segurança própria.

No momento que se tem uma conexão com as pessoas que estão ligadas a essa comunidade, oferta-se um tipo de segurança customizado para aquele cenário. Então, quando nós falamos desse tipo de correlação ou ponte social que é feita, nós também estamos falando de algo cirúrgico, desenhado para aquele mesmo grupo. Isso evita, por exemplo, que haja um gasto excessivo em relação à segurança.

Assim surgem soluções das próprias forças de segurança e a comunidade passa a ser atendida em um tempo curto, gastando menos dinheiro e oferecendo, sim, uma solução efetiva, uma solução garantida para aquela comunidade.