À QUEIMA-ROUPA

O senhor vai disputar as eleições?
A qual cargo?

Sim. Sou pré-candidato a deputado federal.

A federação PT-PV-PCdoB procura um nome para a candidatura ao governo. Pensou em concorrer ao Buriti novamente?

Não. Coloquei meu nome para deputado federal, porque acho que, nesse momento tão difícil que o Brasil está passando, posso dar uma grande ajuda no Congresso Nacional, como deputado federal. Já fui deputado federal por três mandatos, passei pelo Executivo, como ministro e como governador. Portanto, com a experiência que tenho, acredito que vou ajudar muito Brasília, buscando recursos para a cidade. Fiz muito isso como governador. Quero também ajudar o Brasil, compondo uma base de sustentação do governo Lula numa nova fase de recuperação do nosso país. Vamos precisar de uma bancada federal experiente e que possa ajudar de forma construtiva na recuperação do nosso país.

Acha que deve ter um candidato do PT?

No PT, temos dois nomes colocados: da professora Rosilene Corrêa, e do ex-deputado Geraldo Magela. São dois bons nomes. No PV, temos o deputado Leandro Grass. Essa definição tem de estar sintonizada com o projeto nacional. Só que precisa ser definido imediatamente. Já estamos passando da hora de ter essa definição. A partir disso, nós teremos uma unidade grande do PT, na federação. Vamos buscar outros partidos do campo progressista para o palanque do presidente Lula, e tenho certeza que será um projeto competitivo para disputar o governo do DF para ganhar.

Depois do governo, o senhor respondeu a vários processos. Como está sua situação na Justiça?

Quero dizer que, seguramente, esse é o maior caso de lawfare que essa cidade já viu. Houve uma perseguição absurda por parte do Ministério Público do DF, que tinha como objetivo destruir completamente a minha imagem perante a sociedade. E, como nunca apresentaram nenhuma prova de nada errado que eu tenha cometido, tenho ganhado todos esses processos. Ainda falta ganhar uns poucos. Mas estou mostrando a minha absoluta inocência sobre todas as acusações que me fizeram, de tal maneira que estou apto a disputar as eleições e representar o povo do DF.

Como o senhor se sentiu com o fim da Operação Lava-Jato e as denúncias que desmoralizaram, na visão de muita gente, as investigações?

Toda vez que os órgãos da investigação e da Justiça abandonam o ordenamento jurídico e a Constituição para tentar fazer justiça com os próprios desejos, com as próprias convicções ideológicas e políticas, a tragédia está anunciada. É a violação do Estado democrático de direito e, consequentemente, é a violação da democracia. E, toda vez que se ataca a democracia, as consequências são dramáticas, inclusive para quem pratica e os que se omitem, porque o chicote que tentaram fazer voltou a dar no lombo de quem mandou dar. E temos uma consequência dramática, que é a situação do Brasil hoje, consequência desse desastre de destruição de milhares de empregos, da soberania nacional, da democracia, de romper o ordenamento político no Brasil. Essa é a consequência dramática desse período que nós passamos e que, certamente, a sociedade, o Congresso e a Justiça estão corrigindo para mostrar que a defesa do Estado democrático de direito é o melhor caminho. Esse tipo de justiça que nós vimos não tem nada a ver com justiça e, sim, com justiceiros.

Nesta semana, depois de sete anos, saiu a terceira parcela do reajuste dos servidores públicos concedida no seu governo. O senhor se sente o responsável por esse benefício?

Essa terceira parcela foi fruto do aumento que concedi aos nossos servidores ainda no meu governo. Paguei a primeira e a segunda parcelas e faltou a terceira, que seria de 2015. Fui processado por ter concedido esse aumento, junto com meu secretário de Administração, mais dois servidores, mas nós ganhamos tudo. É a primeira vez que vejo um governador ser processado por conceder um aumento, para valorizar seus servidores. A Justiça foi feita e, agora, o governo tem que pagar e precisa, inclusive, pagar a correção retroativa a 2015, porque esta é uma conquista para os servidores definida em lei. Houve uma irresponsabilidade por não terem pago antes. É muito importante a massa salarial dos servidores para nossa economia e, agora, favorecendo 150 mil servidores, se joga R$ 1 bilhão na economia, o que é bom para toda a população. Ganha o governo como um todo num momento de grave crise. Com o arrocho dos últimos anos, essa terceira parcela é um alívio. Agora, está claro que agi corretamente, tinha respaldo legal, previsão orçamentária na LDO, portanto, todo o trâmite legal para a concessão dos reajustes. Essa é uma grande vitória dos servidores do DF, e fico muito contente de ver se fazer justiça.

Qual foi o grande legado do seu governo?

O maior legado do meu governo, sem dúvida, é o desenvolvimento humano. Foi no meu governo que tivemos o menor índice de desemprego da série histórica. Foi no meu governo que deixamos de ser a cidade mais desigual do Brasil. Foi no meu governo que erradicamos o analfabetismo. E erradicamos a pobreza e a extrema pobreza. Fizemos, também, um investimento na recuperação do Estado e do serviço público. Contratei 36 mil servidores por concurso público. Contratei 16 mil servidores da saúde. Se não fosse essa contratação, o que seria do DF na pandemia que veio depois? Fizemos seis UPAs, fizemos as clínicas da família, o Hospital da Criança, a carreta da mulher, da visão, a fábrica social, que é o maior exemplo de inclusão social pelo trabalho. Na educação, fizemos as creches, que não existiam públicas. Fiz 57 creches públicas. Adotamos a educação em tempo integral. Esse é um legado extraordinário, o desenvolvimento humano. A política habitacional também foi importante. Entreguei mais unidades habitacionais do que Roriz entregou lotes. Foram 25 mil unidades entregues e cem mil contratadas e que foram sendo entregues. Até o Bolsonaro foi entregar, para ver como se entrega habitação popular.

Hoje é possível reconhecer erros? O que o senhor não faria novamente?

Eu atribuo que um dos principais erros foi não ter me comunicado bem. A parte de divulgação das realizações falhou. Por ser médico, não ser profissional dessa área, não compreender essa dimensão, achei que teria o reconhecimento apenas pela realização. Mas, às vezes, é preciso, também, que as pessoas tenham acesso a essas informações das nossas realizações, tanto é que, com o passar do tempo, hoje a população reconhece muito mais, porque sentiu as melhorias e os benefícios dessas realizações. O momento conjuntural daquela época foi extremamente desfavorável, de muito ataque, de muito ódio, num processo em que a elite brasileira decidiu interromper um projeto nacional. Isso também repercutiu muito aqui no Distrito Federal, e nós não conseguimos reagir naquele momento. Hoje, com certeza, faria diferente porque muitos desses projetos poderiam ter tido continuidade caso eu tivesse ganhado a eleição.

E o que você se orgulha de ter feito?

Eu me orgulho do que fiz pelas crianças do Distrito Federal, as creches públicas, o Hospital da Criança, que é um exemplo. Em 10 anos, já atendeu 10 milhões de crianças e casos graves. Esse é mais um caso. Fui processado por ter feito o Hospital da Criança e só recentemente fui absolvido. Tenho orgulho de ter acabado com o Caje, que era a escola do crime. Eu me orgulho da Fábrica Social, porque é um centro de treinamento e serviço em que as pessoas são remuneradas pelo trabalho. E também os programas sociais para adolescentes, como o Jovem Candango, que estavam em área de risco, trabalhando no contraturno da escola em nossas empresas e também nas secretarias. Teve, também, o Brasília sem Fronteiras, dando oportunidade para jovens de faixa de renda muito baixa viajarem pelo mundo. Passaria muito tempo enumerando, mas esses que tratam de desenvolvimento humano são o meu maior orgulho.

O senhor faria novamente o estádio Mané Garrincha?

Faria, com certeza. Talvez a miopia e uma visão extremamente provinciana não compreendam o que significa essa arena multiuso. Essa é a melhor arena do Brasil, está entre as cinco melhores do mundo. Foi construída para os próximos cem anos e possibilita colocar Brasília no circuito nacional, cultural, de eventos e esportiva. Fizemos a Copa do Mundo e a Copa das Confederações e tivemos a avaliação de melhor arena do Brasil. E as acusações de superfaturamento nunca se comprovaram. Se há irregularidades, se deve punir o gestor e não a cidade. Essa arena é do porte da que foi construída na Rússia quatro anos depois, e lá custou R$ 5 bilhões. A nossa custou R$ 1,5 bilhão. Tenho certeza que, com o passar do tempo, vai ficar clara a miopia e o provincianismo de nossos adversários. Eu faria de novo, ainda mais porque não deixamos de fazer nenhum investimento na área social.