AÇÃO SOCIAL /

Mutirão para desafogar o CRAS

Segundo levantamento, 85% das demandas nesse período se referem à demora no acesso aos serviços de assistência. Por isso, a pasta anunciou que o atendimento ao público volta a ser presencial

Carlos Silva*
postado em 04/06/2022 00:01
 (crédito:  Ed Alves/CB)
(crédito: Ed Alves/CB)

Entre 2019 e 2022, o número de pessoas à espera de atendimento nos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) aumentou em 278%, saltando de 48.988 para 185.139 entre os dois anos. Os dados são do Relatório de Demandas de Assistência Social para os dois primeiros bimestres de 2022, realizado pela Comissão de Defesa dos Direitos Humanos, Cidadania, Ética e Decoro Parlamentar (CDDHCEDP). Segundo o levantamento, 85% das demandas nos últimos três anos se referem à demora no acesso aos serviços de assistência.

De acordo com o relatório, até novembro de 2021, cerca de 185 mil pessoas aguardavam atendimento nos CRAS do Distrito Federal. Um dos postos com maior demanda não atendida é o CRAS Samambaia Sul, com 14.914 na fila. O posto de Santa Maria também tem grande demanda, com 13.002 aguardando. Os números do Recanto das Emas também não estão longe disso, ficando em 12.934 pessoas à espera de atendimento.

Os números chamam atenção, visto que, nos últimos anos, o orçamento da Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes-DF) passou por aumentos expressivos. Em 2019, foram destinados R$ 246 milhões à pasta. Esse valor disparou para R$ 517 milhões em 2020, ano em que Mayara Rocha assumiu a secretaria. A partir de então, um novo aumento se deu em 2021, com o orçamento fechando em R$ 717 milhões, dos quais somente R$ 612 milhões foram usados.

Apesar da alta verba, o cenário atual é de pessoas dormindo nas filas dos postos na esperança de conseguir atendimento. A titular da pasta explica que a pandemia impulsionou a procura pelos serviços de atendimento, resultando no que vemos hoje. "Houve uma injeção considerável de orçamento na assistência social. No que se refere ao número de pessoas procurando os serviços, temos que considerar a pandemia. Exatamente por essa crise que existiu e foi muito aflorada aqui no Distrito Federal aumentou a procura", esclarece.

Frente ao problema no atendimento de pessoas em busca de serviços de assistência social, o que resultou em longas filas nos centros, a pasta anunciou, ontem, a retomada do atendimento presencial nos postos do CRAS. Além disso, mutirões serão realizados aos sábados para receber demandas relacionadas ao Cadastro Único de Serviços (CadÚnico).

O anúncio foi feito pela primeira-dama do Distrito Federal, Mayara Rocha, em coletiva de imprensa realizada no Palácio do Buriti. Mayara também anunciou a realização de mutirões aos sábados para agilizar a assistência dos que procuram os Centros. O CRAS funcionará das 8h às 17h, porém, agora atendendo à demanda espontânea — aqueles que procuram as unidades presencialmente.

A secretaria, no entanto, vai manter os atendimentos por agendamento, em vista da alta de casos de covid-19 no Distrito Federal. A secretária destacou que o cidadão que apresentar sintomas pode optar por essa modalidade de atendimento. "O importante é que a população entenda que é preciso se vacinar para garantir sua segurança. Também é preciso ter consciência. Se tiver sintomas, é bom manter o agendamento online e tomar todos os cuidados para não colocar outras pessoas em risco", recomenda. 

A professora do Departamento de Psicologia da Universidade de Brasília (UnB) Larissa Polejack explica que a pandemia teve grande influência, porém não é o único motivo. "A pandemia colocou uma lente de aumento nas iniquidades que já existiam, mas trouxe o impacto também para as pessoas um impacto socioeconômico importante. Porém , isso também está relacionado à falta de políticas sociais que pudessem, junto com as estratégias relacionadas à pandemia, mitigar esse impacto. Agora estamos assistindo a consequência disso, então é natural que haja aumento na procura por serviços", examina.

Para Polejack, há também de se pensar sobre a utilização dos recursos em programas que tenham eficácia além da pontual. "Temos políticas que não chegam a ser políticas, são ações pontuais que não resolvem o problema a longo prazo e isso foi exacerbado pela pandemia. É preciso pensar em ações que possibilitem ao cidadão o desenvolvimento de renda. O Cras é um importante dispositivo de garantia de direitos, mas é importante que tenhamos uma política econômica que olhe mais para pessoas em situação de vulnerabilidade", pontua.

*Estagiário sob a supervisão
de José Carlos Vieira

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