SELO DO CORONAVIRUS

Avanço dos casos preocupa

Transmissão da covid-19 está acima de 1 há quase um mês no DF. Estudiosos da crise sanitária recomendam volta da obrigatoriedade das máscaras e incentivo à imunização. Saiba os locais onde se vacinar neste sábado

Ana Isabel Mansur
postado em 04/06/2022 00:01
 (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)
(crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)

A situação da pandemia da covid-19 no Distrito Federal tem preocupado especialistas, e a avaliação é de que o cenário atual representa uma nova onda da infecção. Acima de 1 há 29 dias, a taxa de transmissão da doença na capital do país chegou, ontem, a 1,43 — resultados superiores a 1 apontam que a pandemia está fora de controle. O dado de ontem mostra que cada 100 pacientes infectados podem contaminar, em média, 143 pessoas.

O descontrole do contágio se reflete nos novos casos diários de covid-19: há 15 dias, a média semanal de infecções no DF está acima de 500. Graças à vacinação — que contempla, com duas doses, 84,35% dos brasilienses acima de 5 anos — o cenário alarmante não tem se estendido às mortes pela doença. Ontem, o DF não registrou óbito em decorrência da infecção, pela sexta vez desde o início da pandemia.

No entanto, a baixa quantidade de mortes não deve servir de justificativa para despreocupação com a crise sanitária. Especialistas de diferentes áreas ouvidos pelo Correio alertam que a situação merece atenção. "Estamos numa situação pior que em dezembro e semelhante ao início da última onda", aponta o professor Tarcísio Marciano, da Universidade de Brasília (UnB), integrante de um grupo de pesquisadores da universidade que acompanha a evolução da pandemia no país. Infectologista, Ana Helena Germoglio é ainda mais incisiva que o colega: "estamos vivendo, infelizmente, uma nova onda de covid-19. Claro que não se compara ao que já vivemos, mas, sim, representa um aumento", destaca a médica.

A situação é reforçada por Breno Adaid, pesquisador do Centro Universitário Iesb e pós-doutor pela UnB em ciência do comportamento, que acompanha diariamente os índices da pandemia desde o começo da crise sanitária. "Estamos em (cenário de) alta. A taxa de transmissão está dando sinais de estabilidade no alto. Ainda temos um longo caminho até o índice voltar a ficar abaixo de 1. Até lá, os casos vão subir", prevê. Breno Adaid cita, ainda, fatores que contribuem para o descontrole do vírus. "Estamos no clima frio, que favorece o contágio. O contexto é pior (do que no início do ano): sem máscara e frio, situação muito favorável para disseminação. Soma-se a isso aglomeração em locais fechados e ausência de máscaras", acrescenta.

Subnotificação

Parte do atual cenário pode ser explicada pelas pessoas não imunizadas. "Temos de ter especial preocupação com os jovens e adolescentes, menos vacinados que os mais idosos, e, sobretudo, com as crianças em idade escolar, que estão muito expostas nos colégios", observa o professor da UnB Tarcísio Marciano. Por enquanto, apenas as crianças acima de 5 anos estão autorizadas a receber as duas doses (D1 e D2) dos imunizantes. A dose de reforço (terceira aplicação) pode ser administrada apenas em pessoas com 18 anos ou mais que receberam a D2 há, pelo menos, quatro meses.

A infectologista Ana Helena Germoglio ressalta a constatação do professor. "Isso (alta de casos) é fruto de muitas pessoas que sequer buscaram a terceira ou quarta doses da vacina. Talvez a suspensão do uso de máscaras tenha sido de forma precoce", avalia a médica. Para Mauro Sanchez, epidemiologista da UnB, a situação é ainda pior. "Sabemos que há subdetecção dos casos de covid-19, o que é agravado pelo uso de autotestes, que nem sempre têm os resultados integrados aos sistemas oficiais de informação", explica. O especialista observa que apenas parte do grande volume de infecções tem sido contabilizadas. "O que indica circulação aumentada e significativa do vírus", acrescenta.

Condutas

Os especialistas concordam quanto ao que deve ser feito para frear o avanço de casos no DF. O ideal é retomar as medidas sanitárias e acelerar a vacinação contra a doença. "Voltar a exigir o uso de máscaras e evitar aglomerações, sobretudo em locais fechados e sem ventilação natural", recomenda Tarcísio Marciano. Segundo o professor, o comportamento das pessoas é essencial no combate à pandemia. "(A vacinação avançada) é a principal causa da redução da mortalidade. A probabilidade de alguém morrer estando com a vacinação completa (1ª e 2ª dose mais reforço) é muito baixa. Por isso, a pandemia ficou menos mortífera", explica, sem deixar de destacar: "mas há ainda um número importante de pessoas não vacinadas ou que não tomaram o reforço."

Mauro Sanchez completa a explicação e alerta para o perigo de não reforçar a imunidade contra a doença. "Existe a possibilidade de agravamento do quadro, em caso de infecção. Temos de ter uma grande campanha para, novamente, sensibilizar a população para ir aos postos de vacinação, além de retomar o uso de máscaras em ambientes fechados ou com grande aglomeração de pessoas", sugere o epidemiologista, que admite, contudo, a exaustão da população. "O uso da proteção individual é uma ferramenta que, no momento, não pode ser deixada de lado — apesar de todo o cansaço, compreensível após mais de dois anos de pandemia", completa.

Ana Helena Germoglio é categórica ao reforçar o posicionamento dos demais especialistas. "Só temos, agora, dois grandes aliados contra a doença: o uso de máscara, principalmente em locais com muitas pessoas ao nosso redor, independentemente de ser aberto ou fechado, e a imunização", elenca a epidemiologista. "Enquanto não insistirmos na ferramenta mais eficaz, segura, confiável e necessária — a vacinação — vamos continuar, infelizmente, patinando e tendo novas ondas", lamenta.

 

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Vacinação

Segundo a Secretaria de Saúde, cerca de 177 mil brasilienses acima de 12 anos não deram início ao ciclo vacinal contra a covid-19. Além disso, quase 110 mil pessoas com 12 anos ou mais não retornaram às unidades de saúde para receber a segunda dose. Estima-se, ainda, que 743 mil pessoas, que já podem tomar a terceira dose (D3), não buscaram o reforço.

Explicação

O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) protocolou um ofício, ontem, pedindo informações sobre as medidas tomadas pelo Executivo local para o enfrentamento do aumento de casos no DF e a elevada taxa de transmissão na capital federal. A Casa Civil recebeu o requerimento. A força-tarefa de enfrentamento à covid-19 do MPDFT requisitou, ainda, à Secretaria de Saúde a ampliação da testagem na população.

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