A bolha sanitária

Correio Braziliense
postado em 11/06/2022 00:01

Em razão de minhas sucessivas recusas em participar de eventos públicos, mesmo os restritos, durante a pandemia, uma amiga afirmou, em tom recriminatório, que eu queria viver dentro de uma bolha sanitária. Achei a definição perfeita. Era isso mesmo que desejava, não só pelo perigo da terrível doença coletiva, mas pela ameaça da gestão desrazoada dos governantes.

As excelências acabaram com a pandemia por decreto, mas esqueceram de combinar com o vírus. Uma bagunça total. Você chega a um lugar, tem gente com e sem máscara. Não deveria ser uma questão opcional, quando a doença não é individual; é coletiva.

O resultado está na nova onda que nos assola. Eu queria pedir a todos os que me acompanham que coloquem como prioridade número 1 tomar as doses de reforço e completar o ciclo vacinal. Porque se a covid lhes pegar, vocês estarão protegidos. Essa doença não é uma gripezinha. Por favor, cuidem-se!

Tomo a liberdade de relembrar trechos de uma crônica que publiquei em março, quando as excelências do planeta Marte realizaram a tentativa de encerrar a pandemia por decreto. Comparem o que aconteceu em Marte com o que ocorreu aqui na taba.

"Um jornalista de Marte me enviou a cópia do decreto, assinado pelo presidente marciano, que determina o fim da pandemia naquele planeta tão distante. Fala, excelência!"

"A partir desta data, fica decretado, em caráter irrevogável e irrecorrível, o fim da pandemia. No uso de minhas prerrogativas imperiais, delibero que a pandemia cairá para a segunda divisão das doenças e terá o status rebaixado para endemia.

Fica estabelecido, definitivamente, que as pandemias são gripezinhas, que não provocarão a morte de mais do que 2 mil pessoas.

É vedada à pandemia durar mais de duas semanas. Se o vírus não obedecer, a PF marciana entrará em ação e o blindado Fumacê será acionado.

É terminantemente proibido, nos meios de comunicação de Marte, o uso do termo contaminação pelo vírus. A expressão correta é operação especial do vírus.

É terminantemente proibido criminalizar a ação, a omissão, a prevaricação, o peculato, a venalidade, a corrupção ativa, a corrupção passiva, as campanhas negacionistas e outros eventuais e pequenos deslizes dos governantes de Marte durante as endemias.

É terminantemente vedado aos cidadãos de Marte morrerem em razão da operação especial do vírus.

A partir desta data, o uso da máscara está proibido, com agravante para quem recomendar a utilização do equipamento de proteção pelas crianças, sujeitando-se à obrigação de dar explicações no Conselho Tutelar da Infância.

Fica terminantemente proibida a transmissão viral em concessionárias ou empresas de transporte público, sobretudo nos horários de pico.

Os eventuais atos de inépcia, incúria, ignávia, inscísia, sopor, desídia e desaso, cometidos por autoridades, na gestão da crise sanitária, deverão ser condecorados com o título de Grão Mestre da Ordem Nacional do Mérito Científico".

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