A ideia de vender o nome da Arena Mané Garrincha não é nova. Outros governos tentaram e fracassaram. Às vésperas da Copa do Mundo de 2014, queriam negociar com alguma multinacional e rebatizar o estádio com o nome, talvez, de Arena Hans Franz Nike Strognoff Bekenbauer McDonalds Phillips Chucrutis. Mas, no movimento mais desorganizado do planeta, nós, os garrinchistas, conseguimos barrar a proposta insana.
Todos sabiam que o Estádio Nacional Mané Garrincha se tornaria um elefante branco encalhado na paisagem. Mas os governantes ignoraram o óbvio e construíram uma das arenas mais caras para a Copa do Mundo.
Brasília não tem futebol profissional para justificar o investimento altíssimo de R$ 1,7 bilhão, quando os hospitais e as escolas caem aos pedaços. Resultado: o estádio fica às moscas durante quase todo o tempo e custa a bagatela de R$ 600 mil por mês para a manutenção.
Em dia de jogo bom, o que costuma ser raro, é muito agradável ir ao Mané. Eu fui várias vezes com o meu filho. O estádio é bonito, o acesso, fácil, e a saída, rápida. Com 15 minutos de caminhada, você está na Rodoviária ou na Asa Norte. A arena de Brasília é a mais próxima do centro da cidade e de mais fácil acesso do que em outros estados. Até para o pessoal que mora nas cidades-satélites não é difícil chegar e voltar.
Nos dias dos grandes jogos, a cidade muda o clima, fica embandeirada e o estádio se povoa da garotada. Adoro estádio cheio de crianças. É só nesses instantes que a gente esquece que a nova arena é um equívoco que custou R$ 1,7 bilhão.
Mas, embaixo de toda essa confusão, ocorreu uma história bonita. Eles derrubaram o antigo estádio com nome de Mané Garrincha, construíram a nova arena e queriam vender o nome para as multinacionais, mas não conseguiram porque houve uma forte reação dos brasilienses.
Nunca vi o endiabrado ponta-direita jogar, ao vivo; só assisti a alguns lances de vídeo, mas é como se tivesse presenciado tudo. Eu vi pelos olhos dos outros. Se alguém me diz que esteve em alguma partida dele, logo se reveste de um halo e se torna especial.
Nelson Rodrigues dizia que o videotape é burro, não tem imaginação. Mas, peço licença para retificar o mestre: além de burro, o videotape era também relapso, pois só registrou uma parte pífia dos malabarismos de Garrincha em campo. Vi os bailados do Mané pelos olhos do Nelson. Contra a Rússia, Garrincha driblou até as barbas de Rasputin. Só faltaram Zeca Pagodinho e Chopin como fundo musical.
A nova operação de aquisição do nome para Arena BRB Mané Garrincha custará R$ 7,5 milhões. É estranho que o governo tenha gasto tanto para construir o estádio e agora vende o nome para um banco estatal. Quer dizer, paga duas vezes por um estádio fadado a ser deficitário, apesar de belo, agradável e de acessível.
Os múltiplos desmandos e ganâncias empurraram o futebol brasileiro rumo à decadência. Mas mantivemos o nome e a memória do Mané no estádio, pois os dribles dele eram pequenos milagres da arte, instantes frágeis de eternidade, que nos fizeram perceber, pela primeira vez, como era bom ser brasileiro. Podem fazer a negociação oficial que quiserem, mas essa arena será chamada eternamente de Mané Garrincha.
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