VARÍOLA DOS MACACOS

"Risco de pandemia é pequeno"

Após primeiro caso suspeito da doença sob investigação no DF, médicos listam ações para evitar a transmissão do vírus monkeypox

Aline Gouveia*
postado em 23/06/2022 00:01
 (crédito:  Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
(crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

Enquanto a covid-19 se mantém no radar das autoridades de saúde, os olhos de pesquisadores e do restante do mundo se voltam a outra doença: a varíola dos macacos. Até a última sexta-feira, a virose havia chegado a 42 países, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, até ontem, o Ministério da Saúde tinha confirmado 11 casos. No Distrito Federal, a Secretaria de Saúde (SES-DF) registrou um paciente com suspeita de infecção. O caso é investigado pela pasta. Apesar das notificações, médicos especialistas acreditam que o vírus capaz de provocar a enfermidade não deve resultar em uma nova pandemia.

Considerado causador de uma zoonose — pelo fato de ter sido transmitido aos seres humanos por animais —, o orthopoxvirus conhecido como monkeypox foi identificado pela primeira vez em 1958, em um laboratório na Dinamarca. O período de incubação viral varia de 3 a 15 dias, com possibilidade de chegar a 21, segundo a OMS. Os sintomas são semelhantes ao da varíola comum, mas os quadros clínicos apresentam menos gravidade. "O risco de pandemia é muito pequeno, pois a transmissão só ocorre com contato mais próximo, mais íntimo e com uma convivência prolongada", afirma a infectologista Joana D'Arc Gonçalves.

Outro ponto destacado pela médica é a menor possibilidade de mutação do vírus, o que o torna mais estável. Após a suspeita de infecção, o paciente deve passar por testes. No DF, o material coletado é enviado ao Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen), onde é analisado. O resultado do exame sai em poucas horas, segundo Joana D'Arc, e a confirmação é necessária para a tomada de outras medidas, como rastreio de quem teve contato com a pessoa infectada.

O médico Hemerson Luz, do Hospital das Forças Armadas (HFA), lembra que a taxa de letalidade da varíola dos macacos é inferior a 1%. No entanto, chama a atenção para o risco a crianças muito novas. "Elas não têm um sistema imunológico preparado para ter contato com o vírus. Então, tendem a ter um quadro pior", alerta o infectologista.

Nesta semana, após notificar o primeiro caso do DF, em um homem com idade entre 20 e 29 anos, a Secretaria de Saúde informou estar preparada para lidar com a situação. "Assim que os primeiros casos foram registrados no Brasil, o Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde (Cievs) do DF emitiu um alerta epidemiológico às unidades de atenção primária e hospitalares das redes pública e privada", comunicou a pasta, em nota.

Transmissão

Recentemente, cientistas encontraram o vírus da varíola dos macacos no sêmen de pacientes, na Itália. Para Joana D'Arc, a descoberta levanta a possibilidade de haver mais uma via de transmissão: a sexual. E, pelas formas de transmissão conhecidas — por contato próximo com lesões, fluidos corporais, gotículas respiratórias e materiais contaminados —, a infectologista frisa que o momento é de alerta para os cuidados necessários. "Geralmente, as pessoas têm complicações por infecções secundárias", observa.

Mesmo com poucos registros de mortes pela doença, a médica ressalta ser possível aos pacientes desenvolver infecções bacterianas associadas à varíola dos macacos ou que o quadro evolua para uma meningite ou pneumonia. Joana D'Arc recomenda buscar atendimento de saúde a partir da suspeita de sintomas ou do contato com pacientes diagnosticados.

Um dos sinais característicos, segundo Hemerson Luz, é o surgimento de lesões que se espalham pelo corpo. "Eles começam com cansaço, febre, dor no corpo, dor de cabeça, e os gânglios são acometidos, formando as ínguas", elenca o médico. Ele comenta que, atualmente, os protocolos de segurança recomendados são o isolamento de pessoas com suspeita da doença.

Além disso, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) emitiu orientações: "Medidas não farmacológicas, como o distanciamento físico sempre que possível, o uso de máscaras de proteção e a higienização frequente das mãos, têm o condão de proteger o indivíduo e a coletividade não apenas contra a covid-19, mas, também, contra outras doenças".

* Estagiária sob a supervisão de Jéssica Eufrásio

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    Hemerson Luz recomenda dar atenção às crianças Foto: Minervino J?nior/CB/D.A Press
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