CULTURA

Estudantes de Ceilândia se apresentam sob regência de maestro francês

O concerto Conexão Brasil França será neste sábado (2/7), no Teatro da Caixa, e faz parte do Projeto Musical Arte Jovem, que, em seis anos, formou 1,2 mil alunos

Irlam Rocha Lima
postado em 01/07/2022 06:00 / atualizado em 01/07/2022 11:20
Orquestra do Projeto Musical Arte Jovem -  (crédito:  Nata Kesller/Divulgação)
Orquestra do Projeto Musical Arte Jovem - (crédito: Nata Kesller/Divulgação)

Uma parceria musical entre projetos desenvolvidos por dois maestros, o brasiliense Edmilson Júnior e o francês Claude Brandel, tem dado oportunidade a crianças e jovens de baixa renda e de estudantes de escolas publicas do Distrito Federal de vislumbrar um futuro promissor como musicista. Eles se conheceram há três anos, e a troca de ideias resultou numa série de ações, que culmina com o concerto Conexão Brasil França, apresentado neste sábado (2/7), às 19h, no Teatro da Caixa.

Dividido em duas partes, o concerto terá a participação de grupos formados por alunos do Projeto Musical Arte Jovem, de Ceilândia, e levará os dois maestros a se revezarem na regência. O programa reunirá peças consagradas e clássicos populares, com a assinatura de compositores brasileiros e franceses.

Na primeira parte, haverá a execução de Suíte nordestina (Mestre Duda), Morceau symphonique (Alexandre Guilmont), tendo Jeerson Moura como solista; Clair de Lune (Claude Debussy) e Aquarela do Brasil (Ary Barroso). No segundo ato, o Corpo Coreográfico interpretará Maria Maria (Milton Nascimento e Fernando Brant) e Quelqu'un m'a dit (Carla Bruni), com solo de Ana Beatriz Castro.

  • "Ter a oportunidade de trabalhar o mais próximo possível das realidade brasileira e também de quem se dedica à arte e cultura, sempre me fascinou, enquanto artista e humanista", afirma o maestro Claude Brendel Arquivo Pessoal
  • Edmilson Júnior, maestro Nata Kesller/Divulgação
  • Apresentações também terão coreografia Nata Kesller/Divulgação
  • Apresentações também terão coreografia Nata Kesller/Divulgação

Em seguida, a Orquestra Arte Jovem toca Frevo mulher (Zé Ramalho) e La vie en rose (Louis Suglielmi), apresentando solos de Nicole Luz e Filype Alves; o Corpo Coregráfico volta à cena dançando Je te la donne (Vita e Silmane). Na sequência, a Orquestra Baby faz Chanson d'amour (Wayne Shanklin) e O trenzinho do caipira (Heitor Villa-Lobos); e a Orquestra Arte Jovem retorna com Trem das onze (Adoniram Barbosa) e Feira de mangaio (Sivuca e Glorinha Gadelha).

Claude Brandel vê a parceria com o Projeto Musical Arte Jovem, antes de tudo, como um encontro humano e a possibilidade de compartilhar a experiência dele com as de músicos motivados dentro de um contexto inter-geracional. "Ter a oportunidade de trabalhar o mais próximo possível das realidades brasileiras e também de quem se dedica à arte e cultura, sempre me fascinou, enquanto artista e humanista". O maestro acrescenta: "Gostaria de agradecer calorosamente ao diretor Edmilson Júnior, sua equipe e todos os músicos por estar com eles no concerto Conexão Brasil França, com a esperança de que esta primeira colaboração seja o início de uma nova história".

Serviço

Conexão Brasil França

Neste sábado (2/7), às 19h, no Teatro da Caixa

ENTREVISTA / Edmilson Júnior, maestro

O que o levou a criar o projeto musical Arte Jovem em Ceilândia?

Do sonho de promover a arte para a comunidade de Ceilândia de forma gratuita. Contamos no projeto com uma equipe de apoio e professores, que atuam de forma voluntária. Eles doam seu tempo para nos ajudar a transformar vidas de centenas de centenas de crianças e jovens.

Desde quando essa ação existe e onde funciona?

O Projeto Musical Arte Jovem (PMAJ) foi criado em fevereiro de 2016. Hoje, tem como sedes a Casa do Cantador e o Colégio Vencer no Setor P-Sul.

Em que consiste o trabalho desenvolvido por vocês?

Nossa intenção é promover a inclusão social de crianças e jovens por meio da Arte, buscando a formação integral do educando. Além de promover a cultura, buscamos também desempenhar um importante papel educativo e social na comunidade de Ceilândia.

Quantas pessoas estão envolvidas com o projeto atualmente, entre professores e alunos?

Hoje, o Projeto Musical tem aproximadamente 340 alunos, professores e equipe de apoio envolvidos nas atividades.

Poderia fazer um relato sobre as efetivas atividades do Arte Jovem?

As atividades do PMAJ iniciam-se com a musicalização infantil e educação musical, que são as portas de entrada para crianças e adolescentes que chegam. Divididas em níveis, as atividades são realizadas em sala com alunos a partir dos dois anos de idade. A metodologia Arte Jovem utilizada nas aulas foi desenvolvida ao longo dos anos com as experiências dos profissionais envolvidos. O PMAJ oferece também oficina de dança, canto coral, e aulas coletivas de instrumentos de sopro, tais como: saxofone, clarineta, flauta transversal, trombone, trompete, tuba, entre outros... A partir do desenvolvimento e crescimento do educando nos instrumentos eles passam a fazer parte das orquestras que o projeto oferece.

O processo de formação musical desses jovens é gratuito?

É totalmente gratuito. Ao ingressar no Arte Jovem, o aluno ganha materiais didáticos, camiseta e lanche ao final das aulas.

Qual é a faixa etária deles?

Nosso atendimento começa a partir dos 2 anos, na turma baby, e segue com nossos adolescente e jovens, que permanecem conosco até chegarem à orquestra principal.

Eles recebem aulas de quais instrumentos?

Na musicalização infantil é oferecido o ingresso por meio da flauta-doce, escaleta e instrumentos de percussão. Após iniciado esse processo, eles avançam para os instrumentos de sopro, que são: clarineta, saxofone, flauta transversal, trombone, trompete, trompa, eufônio e tuba.

Quantos já foram formados?

Passaram pelo Arte Jovem cerca de 1,2 mil alunos ao longo desses seis anos.

Entre os formandos há os que já atuam profissionalmente e há destaques entre eles?

Sim. Há alunos que hoje trabalham profissionalmente na área, seja atuando como professores de escolas particulares e até mesmo no Projeto Arte Jovem, como também músicos militares das Forças Armadas e Polícia Militar, como é o caso do Erik Robert que recentemente passou no concurso público para a Banda Sinfônica da Polícia Militar de Brasília.

Há também a formação de grupos — trios, quartetos, quintetos, além de orquestra?

Conforme a necessidade e demandas das apresentações, o PMAJ forma pequenos grupos. Temos hoje a Orquestra baby, a Banda melódica, a Orquestra iniciante Arte Jovem e Orquestra de sopros e percussão.

Os grupos que vão tocar no concerto são os mais importantes do projeto?

Os alunos que se apresentarão foram selecionados pelos professores por comprometimento nos estudos e dedicação. Teremos a Orquestra Baby, a Banda Melódica, o Corpo Coreográfico Arte Jovem, a Orquestra iniciante Arte Jovem e Orquestra de sopros e percussão Arte Jovem.

O maestro Claude Brandel vai reger o grupo a convite do projeto?

Em 2019, o regente francês conheceu o projeto musical Arte Jovem. Desde então, o maestro Claude Brendel tem visitado o projeto regularmente. Neste ano, a parceira ganhou mais força e a convite do PMAJ estará abrilhantando nosso concerto na Caixa Cultural.

Como ele foi conectado?

Por meio de um amigo em comum, o saxofonista Carlos Gontijo, que realizou parte de seus estudos musicais no conservatório de Rouen, na França, onde, na época, o maestro Claude Brendel era o diretor.

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