A humanização no parto desperta interesse entre gestantes, mulheres que desejam engravidar e profissionais de saúde. Ainda assim, a questão precisa ser mais discutida e as práticas aprimoradas, principalmente na rede pública de saúde. Em entrevista à jornalista Carmen Souza, o médico obstetra Petrus Sanchez sintetiza alguns desafios da massificação desse tipo de atendimento e destaca a falta de investimentos. "Percebemos que há requintes de desumanização por falta de estrutura", disse, ontem, ao CB.Saúde — programa do Correio em parceria com a TV Brasília.
Um tema que tem sido falado cada vez mais é a humanização da obstetrícia. Do que se trata exatamente?
É uma forma de lidar diretamente com a paciente e o seio familiar em que essa paciente está envolvida. A obstetrícia também traz ao consultório a família. Com muita propriedade, eles se envolvem porque, naquele momento, a gestante tem um certo grau de vulnerabilidade. A humanização tem muito a ver com respeito e empatia pela paciente e sua família.
Podemos pensar em parto humanizado tanto para o normal quanto para a cesariana?
As modalidades de parto — normal ou cesariana — podem ter algumas ações que são chamadas de humanizadas. O parto é da paciente, da família, da natureza. Quando ele assume o papel de que o parto é dele, na realidade, o médico já não entende alguns conceitos de humanização. Quando entendemos que a humanização é o melhor a ser feito, todos os processos se tornam consequência. Se a paciente quer alguma ação, existem inúmeras possibilidades para a paciente. Se isso não leva a nenhuma repercussão no acompanhamento com segurança e vigilância para a figura fetal e materna, por parte do obstetra e a equipe colaboradora, é perfeito que a paciente tenha essa possibilidade. Ela precisa ter a boa vivência daquele momento. E, de uma maneira direta, isso repercute no pós-parto. Reduzindo indicadores de psicose puerperal, principalmente a depressão, gerando sintonia e afinidade da paciente com o seu bebê.
Podemos pensar em
obstetrícia humanizada na
rede pública de saúde?
Em termos de normatizações e legislações, percebe-se que existe um norte. Em 2015, houve o Estatuto do Parto Humanizado, que se tornou uma lei. Depois, em 2020, tivemos um avançar nessa normatização, que seria a portaria nº 868 da Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF), que coloca a importância da doula nesse processo. A doula é uma profissional extremamente atuante, que traz o bem-estar e uma boa condução do trabalho de parto, com excelentes indicadores, não só aqui no Brasil. Temos a normatização como uma possibilidade, mas, na prática, percebemos que há requintes de desumanização por falta de estrutura.
Quando falamos de parto humanizado também temos o contraponto que é a violência obstétrica. O que a mulher precisa fazer para estar atenta?
É importante que as pessoas que a circundam e que estejam cientes dessas necessidades ou vontade dessa paciente, observem o recinto para ver como essa gestante, em trabalho de parto, está envolvida. Se há, também, alguma fala inadequada, se a estrutura é adequada ou não. Podemos ter essa figura da violência desde a entrada no seu acolhimento na unidade hospitalar, na equipe de enfermagem, ou pela equipe administrativa. Tudo isso acaba machucando o psicológico e criando traumas. Existem modelos de documento, planos de parto que podem ser muitas vezes discutidos com a equipe profissional. Seguir referência também é muito bom, porque sabemos aos poucos coisas boas de unidades hospitalares e equipes de profissionais, para que o ambiente seja o melhor possível para a paciente.
De que forma o surgimento
do novo coronavírus influenciou nesse movimento e nas gestações?
Em 2020 e 2021, no Brasil, tivemos uma ascensão muito grande dessa mortalidade materna, seja porque um pré-natal ficou mais deficiente, seja porque o coronavírus, na gestante, era um grupo totalmente de risco e levou ela a complicações. Tanto que houve um movimento da validação na aplicação de vacinas nas gestantes. Com dados muito robustos, houve uma redução no número de complicações de pacientes gestantes graves. E, também, uma repercussão fetal pode ter sido reduzida.
* Estagiário sob supervisão de Juliana Oliveira*
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