O gol de Chico Xavier

Correio Braziliense
postado em 01/07/2022 00:01

Nelson Rodrigues dizia que abandonou a igreja presbiteriana e buscou a igreja católica, porque não concebia religião sem santos. Mas a doutrina espírita também teve um quase santo, o mineiro Chico Xavier, que morreu há 20 anos. Só lhe falou um halo na cabeça e um passarinho no ombro. A renúncia, a abnegação, o devotamento ao outro e a humildade de Chico são comoventes.

Além disso, ele era humano, demasiado humano, o que o tornava uma figura ainda mais simpática. Certa vez, Chico estava conversando com um amigo, mas, como era meio avoado, se distraiu e deixou o interlocutor falando sozinho. O amigo percebeu e ficou muito magoado com a desatenção. Em retaliação, não respondia aos cumprimentos de Chico.

Certo dia, Chico armou-se de humildade e saiu em busca do desafeto para suplicar perdão de qualquer maneira. Em face do pedido dramático, o ex-amigo inquiriu: "Chico, você me procura por ser humilde ou sem vergonha?". E Chico respondeu com o maior descaro: "Por ser sem-vergonha".

Ao que o ex-amigo deu uma gargalhada, aceitou o pedido de desculpas e tornou-se novamente amigo, porque viu sinceridade na resposta. Quem conta a história é Gerson Simões Monteiro, diretor da Rádio Rio de Janeiro.

Quem era Chico? Um mineirinho humilde, nascido em Pedro Leopoldo, Minas Gerais. Mas, por meio da doutrina espírita, ele se transformou em um dos brasileiros mais queridos e mais famosos no Brasil e no mundo. Instruído pelo mentor espiritual Emamnuel, ele escreveu mais de 400 livros psicografados, vendeu mais de 50 milhões de exemplares e reverteu todo o dinheiro levantado com a comercialização das obras para instituições de caridade.

Em 1981 e 1982, recebeu indicação ao Prêmio Nobel, com 2 milhões de assinaturas na solicitação para a candidatura. Chico é muito querido. Recebeu a aclamação de Maior Brasileiro de Todos Os Tempos, em concurso promovido pelo SBT e pela BBC em 2012.

Por sugestão do mentor Emmanuel, passou a usar peruca e óculos escuros, que lhe conferiram um estilo inconfundível: "Ninguém tem o direito de enfear o mundo", esbravejou o exigente Emmanuel. Apesar de todo o conhecimento da doutrina espírita, Chico protagonizou algumas histórias hilárias de medo da morte.

Mas, aos amigos, disse que gostaria de desencarnar num dia em que o povo brasileiro estivesse feliz. Com a dedicação, os cuidados e a solidariedade, ele aliviou a dor de muitos. Em 30 de junho de 2020, Chico morreu aos 92 anos. Naquele dia, o Brasil venceu a Alemanha por 2x0, com gols de Ronaldo Nazário e Rivaldo, e sagrou-se pentacampeão mundial de futebol para a alegria da nação brasileira.

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