O medidor da Sociedade Brasileira de Cardiologia já registra mais de 200 mil mortes por doenças cardiovasculares somente nos primeiros seis meses de 2022. Por diversos fatores, o inverno faz as doenças desse tipo serem mais recorrentes. "O nosso corpo precisa trabalhar um pouco mais para manter a temperatura estável. Essa demanda do organismo sobrecarrega o coração.", afirmou o médico cardiologista do Instituto do Coração de Taguatinga (ICTCor) Thiago Siqueira, na edição de ontem do CB.Saúde — programa do Correio em parceria com a TV Brasília, com apresentação da jornalista Carmen Souza.
O inverno é um período mais delicado para a saúde do
coração, com mais infartos.
Por que isso acontece?
Primeiro que as pessoas começam a ter uma alimentação mais calórica, com abuso de bebida alcoólica na tentativa de se aquecer um pouco mais. O inverno é mais favorável para se ter essa alimentação diferenciada. Outra questão é a temperatura em si. O metabolismo do nosso corpo — como nós somos animais homeotérmicos, a temperatura do nosso corpo se mantém constante e, para isso, o nosso corpo precisa trabalhar um pouco mais, para manter essa temperatura estável. Essa demanda do organismo sobrecarrega o coração. Não quer dizer que pessoas saudáveis vão apresentar doença cardíaca no inverno. Não é isso que acontece. São pessoas que já tem alguma predisposição.
A Anvisa decidiu pela proibição dos cigarros eletrônicos, com efeitos maléficos para a saúde.
O uso dele aumenta ainda mais a incidência de complicações?
Grande parte dos tipos de câncer estão relacionados a produtos derivados do tabaco, principalmente da nicotina, independente de sua forma (líquida, gasosa ou sólida). O Brasil é exemplo para o mundo: saímos de uma taxa de tabagismo em adultos de 30% para 12%. Nas pesquisas recentes do DataSUS, constatou-se que de 2018 para 2019 houve uma elevação de 0,5% nessa taxa, principalmente entre adultos mais jovens. A propaganda desses cigarros eletrônicos diz que, teoricamente, fazem menos mal, o que não é verdade, fazem tão mal quanto.
Jovens com doenças ou complicações cardiovasculares têm virado uma realidade brasileira?
Hoje, a faixa etária é de 30 e 40 anos apresentando doença cardiovascular por uma série de fatores: hábitos de vida pouco saudáveis, uso de cigarros eletrônicos. Outros problemas também, como o uso de anabolizantes são problemas relacionados à nossa sociedade e que a gente tem que discutir.
A longo prazo, complicações como um infarto ou AVC são fatais, mas com implicação
de morbidade grande?
As sequelas podem ser muito graves. Não é por isso que a doença cardiovascular tem um custo muito alto para a saúde pública em todo mundo. São pessoas jovens que, às vezes, não vão conseguir trabalhar. Às vezes, a pessoa enfarta e entra em um quadro de insuficiência cardíaca em que o coração não funciona mais adequadamente, sem força para voltar ao mercado de trabalho.
Essas complicações têm aumentado entre mulheres. Você também tem essa percepção?
Elas têm assumido diversos papéis dentro da sociedade e isso é muito bom, mas está sobrecarregada com duas ou três jornadas: tem a família, a casa, o trabalho fora. Ela começou a ter os mesmos fatores de risco que o homem: não tem mais tempo para atividade física, não tem mais uma alimentação tão saudável, tem estresse. Quando ela entra no climatério, que é o momento que a mulher tem a baixa do estrógeno, ela se equipara ao homem com grande índice de doença cardiovascular e às vezes até o supera.
Você recomenda um check-up anual para quem teve covid?
Sim. Todo mundo que teve covid, leve ou grave deve passar por uma avaliação cardiológica, com certeza. Alguma sequela, alguma arritmia, miocardite (que é uma inflamação direta do vírus no músculo cardíaco, levando à insuficiência do coração) ou início de insuficiência cardíaca deve-se instalar um tratamento imediato para que essa doença não evolua e a gente possa monitorar esse paciente mais de perto. É viável que a gente faça uma consulta periódica pós-covid. Essas sequelas, inclusive, são as mais comuns. Nem todo paciente evolui com um sintoma. Não existe correlação direta entre sintoma e acometimento cardíaco no pós-covid. Não só os sintomáticos devem procurar atendimento. É claro que paciente com fadiga, dispneia, dor torácica, mais do que nunca, deve procurar por atendimento. Mesmo aqueles que são assintomáticos devem passar por uma avaliação.
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