CRÔNICA DA CIDADE

Crônica: Vovó Ritinha

"Vim aqui fazer a relação inevitável entre os tais cabelos brancos e os vovós. Tenho a sorte de tê-los de todo o tipo: calados, risonhos, de cabeça branca como a neve ou até hoje grisalhos, como há 30 anos"

Mariana Niederauer
postado em 11/07/2022 06:00 / atualizado em 10/05/2023 09:17
 (crédito: Reprodução Instagram @roberto_de_carvalho)
(crédito: Reprodução Instagram @roberto_de_carvalho)

Assumir os cabelos brancos é mais do que uma questão estética. Trata-se de uma transformação de alma. Certamente poderei escrever mais e melhor sobre o tema dentro de alguns anos. Contrariando as probabilidades da genética, essa característica parece que herdei da família paterna e até hoje não surgiu um fio branco sequer.

Mas vim aqui fazer a relação inevitável entre os tais cabelos brancos e os vovós. Tenho a sorte de tê-los de todo o tipo: calados, risonhos, de cabeça branca como a neve ou até hoje grisalhos, como há 30 anos. E, sem exceções, amorosos, cada um à sua maneira, e dedicados à prole.

Rita Lee, ícone do rock nacional e internacional, tem jeito de ser uma avó dessas. Quem acompanhou a carreira da artista desde os tempos de Ovelha negra deve se surpreender com a transformação, que a levou até mesmo a se tornar escritora de literatura infantil. Em Dr. Alex e Vovó Ritinha: Uma aventura no espaço (Ed. Globinho), por exemplo, ela embarca numa viagem intergaláctica para tratar de um tema delicado: a morte.

Minhas meninas ainda são muito pequenas para se aventurar pelo exemplar que temos em casa. Navegamos com elas apenas pelas figuras do ratinho Dr. Alex e da nossa querida vovó Ritinha, ilustrada já com seus cabelos grisalhos no lugar dos vermelhos.

Em sua autobiografia, publicada em 2016, Rita Lee já explicava essa mudança de rumo. "Sei que ainda há quem me veja malucona, doidona, porra-louca, maconheira, droguística, alcoólatra e lisérgica, entre outras virtudes. Confesso que vivi essas e outras tantas, mas não faço a ex-vedete-neo-religiosa, apenas encontrei um barato ainda maior: a mutante virou meditante”, escreveu.

“Se um belo dia você me encontrar pelo caminho, não me venha cobrar que eu seja o que você imagina que eu deveria continuar sendo. Se o passado me crucifica, o futuro já me dará beijinhos”, continua, para em seguida falar sobre o que almeja fazer no tempo que lhe resta.

“Tempo para curtir minha casa no mato, para pintar, cuidar da horta, paparicar meus filhos, acompanhar minha neta crescer, lamber meus bichinhos, brincar de dona de casa, escrever historinhas, deixar os cabelos brancos, assistir novela, reler livros de crimes que já esqueci quem eram os culpados, ler biograas de celebridades com mais de setenta anos, descolar adoção para bichos abandonados, acompanhar a política planetária, faxinar gavetas, aprender a cozinhar, namorar Roberto e, se ainda me sobrar um tempinho, compor umas musiquinhas.” Espero viver para me ver transformar em algo parecido com Ritinha.

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