Cotidiano

Brasilienses se reúnem em clubes diversos, desde jogos a ensino de idiomas

Em busca dos sentimentos de pertencimento e identificação, as agremiações são cada vez mais procuradas por pessoas que têm interesse em se conectar com outras que dividem atividades em comum

Isabela Berrogain
postado em 18/07/2022 06:00 / atualizado em 18/07/2022 15:12
Integrantes do clube de ciclistas Calangos do Pedal -  (crédito: Arquivo pessoal)
Integrantes do clube de ciclistas Calangos do Pedal - (crédito: Arquivo pessoal)

Por definição, clubes são associações de pessoas que buscam dividir interesses em comum, realizando reuniões periódicas de caráter recreativo, cultural, artístico, político ou social. Nas sociedades mais antigas, existia o costume de organizações em grupos, que, por instinto, se uniam a partir de um interesse comum. Atualmente, os clubes, sejam de amantes de livros, sejam de adeptos a certo esporte, são peças fundamentais ao relacionamento social da comunidade. "Os clubes, independentemente de suas finalidades, têm sido promissores do acolhimento psíquico e do desenvolvimento emocional — simplesmente por promoverem um espaço de pertencimento e identificação", explica a psicóloga Natália Magalhães.

Para a engenheira Vanessa Santos, os clubes são ambientes acolhedores que ajudam no combate à timidez. Aos 41 anos, Vanessa faz parte do Clube Poliglota e do Clube Brasília Alumni UnB Toastmasters, conhecido como Brasília TM. Acompanhada de demais membros da comunidade, a engenheira participa, no Clube Poliglota, de diversas conversações que têm como intuito a prática de idiomas estrangeiros.

Apesar do objetivo central do grupo ser o aprendizado e o aprimoramento no uso de novas línguas, o clube tem um grande papel social para os integrantes. "Além da oportunidade de praticar e desenvolver habilidades, o Clube Poliglota Brasília me trouxe amigos na cidade, assim como nossa colaboração com os interesses comuns em diversos estados", relata Vanessa. Devido ao viés social, o grupo acaba sendo procurado também por estrangeiros que estão no país e querem conhecer brasileiros.

No Toastmasters, criado em 2016 por recém-formados da Universidade de Brasília (UnB), os integrantes buscam melhorar a capacidade de comunicação e oratória, bem como habilidades de liderança. Durante os encontros do clube, os participantes apresentam discursos preparados, além de serem desafiados a fazerem apresentações improvisadas, com temas divulgados na hora.

A atual presidente do Clube Toastmasters,  Aletéia Melo, 42 anos, encontrou no grupo a oportunidade ideal de unir o social com o profissional. "No trabalho, eu precisava muito melhorar como líder e ampliar minha rede de amigos com as mesmas afinidades. Vi no Brasília TM pelo menos 30 pessoas querendo ampliar horizontes profissionais", diz Aletéia. "Essa descoberta das habilidades, a chance de praticar e adquirir confiança, a disposição generosa dos membros em contribuir e nos escutar e muitas outras ferramentas, tudo num ambiente extremamente seguro, só poderia ser a união perfeita para a alavancagem concreta dos profissionais membros. Sou imensamente grata e entusiasta dessa iniciativa", complementa.

Fora do âmbito profissional e em busca de divertimento, Luís Clayton Mourão, 23, encontrou nos clubes uma forma de se desconectar e relaxar. Nas noites de terça-feira, o gestor de políticas públicas se reúne com os demais integrantes do clube Joga Guará para um encontro de amantes de jogos de tabuleiro. O grupo, que começou no WhatsApp, surgiu de uma iniciativa do criador Fabrício Cândido, no intuito de promover um espaço onde as pessoas se sentiriam à vontade para usufruir dos jogos de tabuleiro, interagir e fazer novas amizades e laços.

"Esses eventos me deram a liberdade de saber que eu não preciso ser muito amigo de uma pessoa para poder jogar um jogo de tabuleiro com ela, eu posso ir num evento de jogos e fazer novas amizades", compartilha o participante. Hoje, o Joga Guará reúne de oito a 12 pessoas nos encontros semanais e chega a juntar de 25 a 30 pessoas nos eventos sazonais, realizados aos sábados e domingos.

Por mais que não consiga frequentar os encontros semanalmente, Mourão procura dar prioridade máxima às reuniões. "Toda vez que eu consigo ir a um desses eventos, a minha rotina é muito melhor, porque eu tenho um tempo fixo para desopilar minha cabeça", diz. "Eu gosto muito de manter uma rotina. Então, se toda terça-feira eu for ao jogo de tabuleiro, sinto que minha semana rende melhor. Consigo me desestressar, e é algo que ajuda até na minha jornada de trabalho", afirma.

Além da questão social, a participação em clubes transforma a vida dos participantes em diversos âmbitos e Fernando Gomes, de 42 anos, é um exemplo disso. Integrante do clube de ciclismo Calangos do Pedal, o representante comercial pedala em grupos há sete anos e está no Calangos há pouco mais de um ano. "A vida de quem se torna um ciclista melhora em todos os sentidos", garante.

A maior transformação do atleta foi física. Quando começou a pedalar frequentemente, o ciclista emagreceu 20 quilos. "Eu estava com todos os sintomas de uma pessoa que viveria uns 20 anos a menos. No final de 2016, meu checape de saúde deu de tudo, desde colesterol alto à gordura no fígado", recorda. "Quando retornei [após o emagrecimento], o médico me perguntou qual era a receita. Eu respondi: "Foi a bicicleta, doutor", conta.

Transformação

Relembrando os momentos mais marcantes do clube, Fernando Gomes destaca a ocasião em que o Calangos do Pedal, acompanhado por outros grupos de ciclismo do Distrito Federal, ajudou a comunidade do Distrito Federal. "Na região do Gama, a chuva derrubou a ponte Trilha Mata Coronel, que era utilizada para ir até a escola e a igreja. Essa ponte cruzava o rio de um lado ao outro e, depois que caiu, os alunos precisavam dar uma volta de 30km de ônibus para chegar na escola", lembra o ciclista. Antes do acidente, os moradores gastavam apenas 10 minutos para atravessar o rio. Diante da situação, os clubes decidiram fazer uma vaquinha para a reconstrução da ponte. A empatia dos integrantes com a situação e a união dos grupos resultaram no arrecadamento de mais de R$ 9 mil, possibilitando a reforma.

Saiba mais

» No Brasil, os clubes voltados para a prática de esportes são os mais comuns. Dentro do mundo esportivo, os que mais se destacam são os destinados ao futebol. Nesta área, os clubes mais antigos são o Sport Club Rio Grande, criado em 19 de julho de 1900, e a Associação Atlética Ponte Preta, em 11 de agosto de 1900.

» Apesar da popularidade do futebol, os primeiros clubes esportivos do Brasil foram dedicados a atividades de remo. Um dos pioneiros foi o Clube de Regatas do Flamengo, fundado em 1895.

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