Enquanto o mundo explode, esta coluna conseguiu uma entrevista exclusiva com Machado de Assis. Fala, bruxo!
Há uma cultura da maledicência,
que se intensificou com a internet
e as novas tecnologias da
comunicação. Falar mal é
uma ação inocente?
Dizer mal ou fazê-lo, é quase a mesma coisa.
O senhor acredita em destino?
O destino é a vontade; cada homem faz seu destino.
Qual o lugar dos verdadeiros
amigos na vida?
Os verdadeiros amigos também são a felicidade.
Porque algumas pessoas viajam e voltam do mesmo jeito?
A maioria das pessoas que viajam nem sabem ver, nem sabem contar.
O que explica o período de
vulgaridade triunfante que
estamos vivendo?
Em nosso país a vulgaridade é um título, a mediocridade um brasão.
O senhor acompanhou muito a atividade parlamentar. Como vê as decisões açodadas, ignorando todas as normas do regimento, para passar a boiada?
Sistema parlamentar, composto às pressas, pode ficar um sistema para lamentar.
Que defeitos o senhor detecta no brasileiro?
Um dos defeitos mais gerais, entre nós, é achar sério o ridículo, e ridículo o que é sério, pois o tato para acertar nestas coisas é também uma virtude do povo.
São esses defeitos que atrasam o país?
Defeitos não fazem mal, quando há vontade e poder de os corrigir.
Atualmente, existem segmentos que acreditam que a liberdade de expressão é um direito absoluto, que pode atropelar a lei. O que acha?
O respeito da lei é a primeira expressão da liberdade. Liberdade não é só o que nos dá gosto.
Qual a responsabilidade do povo na assunção e na manutenção de um governo e de um parlamento venais?
Um governo sem equidade só pode se manter em um povo igualmente sem equidade (segundo um mestre), assim também um parlamento remisso só pode medrar em sociedade remissa.
Como se explica o culto a remédios sem comprovação científica
durante a pandemia?
O charlatanismo, bem considerado, que outra coisa é senão uma bela e forte religião, com seus sacerdotes, o seu rito, os seus princípios e os seus crédulos?
O jornalismo tem sido muito atacado pelos disseminadores de notícias falsas, que se chama hoje fake news. O que é mais criticável?
Mais mal faz um boato que 10 artigos de fundo. O boato é leve, rápido, transparente, pouco menos que invisível. A melhor água do mundo é a palavra da verdade.
E, para fechar, diga algo aos leitores sobre a arte de viver?
A arte de viver consiste em extrair o maior bem do maior mal.
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