Investigação

Ex-administrador Alan Valim nega envolvimento com grilagem: "Abominável"

Ao Correio, o pré-candidato a deputado distrital Alan Valim classificou como "abominável" o crime e disse que combateu o parcelamento irregular do solo

Darcianne Diogo
postado em 19/07/2022 22:09
Alan negou envolvimento com grilagem de terras  -  (crédito: Redes sociais)
Alan negou envolvimento com grilagem de terras - (crédito: Redes sociais)

Um dos alvos da operação Non Domino, que investiga um esquema milionário de grilagem de terras em São Sebastião, o ex-administrador regional da cidade Alan Valim concedeu entrevista ao Correio, onde se defendeu das acusações. Pré-candidato a deputado distrital, o mergulhador do Corpo de Bombeiros (CBMDF) classificou como "abominável" esse tipo de crime e frisou que, enquanto esteve no posto de administrador, combateu o parcelamento irregular do solo.

Na manhã desta terça-feira (19/7), policiais civis da 30ª Delegacia de Polícia (São Sebastião) prenderam sete pessoas e cumpriram 33 mandados de busca e apreensão. O Correio revelou em primeira mão que entre os investigados estão o ex-administrador e dois homens apontados como os chefes das organizações criminosas: Antônio Aldair Araújo Montalvão e José Borges do Nascimento.

  • Alan negou envolvimento com grilagem de terras Redes sociais
  • Empresários, advogados e ex-administrador são investigados por grilagem de terras no DF PCDF
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  • Empresários, advogados e ex-administrador são investigados por grilagem de terras no DF PCDF
  • Segundo as investigações, o esquema contava com o envolvimento de empresários, advogados e servidores públicos da Administração Regional PCDF
  • Empresários, advogados e ex-administrador são investigados por grilagem de terras no DF PCDF

Desde 2019, o servidor esteve no cargo de administrador de São Sebastião e deixou o posto este ano para concorrer às eleições. À reportagem, ele contou que foi surpreendido com a operação da PCDF e nega qualquer envolvimento em grilagem de terras. “Estava saindo para trabalhar, quando notei toda a movimentação. Naquele momento, me prontifiquei a prestar qualquer depoimento e me dispus para o que precisava. Estou com a consciência tranquila. Passei todos esses anos da minha profissão mantendo minha integridade e nunca pisei numa delegacia para responder qualquer acusação que fosse”, frisou.

Valim suspeita que as acusações ligadas a ele possam ter sido fruto do trabalho prestado na administração. “Eu, como administrador, mantive relação com muita gente em São Sebastião. Agora, compactuar ou concordar com qualquer tipo de ilegalidade, isso nunca. Acredito que, por causa dessa proximidade de encontrar, receber na administração, possa ter perpetrado de alguma forma. Mas, literalmente, eu abomino a grilagem de terras. Imagina um grileiro que vende um terreno para uma pessoa humilde, o morador constrói e o governo derruba. A palavra que uso é abominar esse tipo de coisa”, se defendeu.

“Tenho 46 anos e, em 27 deles dediquei ao serviço público. Sou uma pessoa respeitada e conhecida no meio político e profissional. Conheço minha postura. Tudo o que quero é esclarecer e me defender. Que os culpados paguem pelo o que devem, e os que não têm culpa, que os processos sejam arquivados”, afirmou.

Enquanto esteve à frente da administração, Alan enviou inúmeros ofícios ao GDF pedindo análise técnica e providências cabíveis quanto às ocupações irregulares em São Sebastião. Em um dos documentos obtidos pela reportagem, a administração alega ter constatado, por meio de vistoria, ocupações irregulares no interior da poligonal da ARIE Córrego Mato Grande.

Chefes do esquema


De forma ordenada, os líderes das organizações criminosas comandavam três grupos distintos. A apuração policial constatou que Antônio e José, os mais velhos de idade, ficavam responsáveis por organizar a grilagem de terras. Fruto disso foi o patrimônio milionário que herdaram. Em cinco anos, eles faturaram cerca de R$ 20 milhões. Paralelamente a isso, os grileiros montaram um complexo esquema de lavagem de dinheiro e utilizaram se “laranjas” e empresas de fachada, como academia, loja de ginástica e de material de construção.

O Correio apurou que a nora de um dos investigados, identificada como Michaely Araújo Pinheiro, auxiliava o sogro na ocultação do dinheiro ilícito. A mulher administra a empresa Assessoria Primor Eireli, fundada em abril de 2021 e com capital social de R$ 110 mil.

Um outro grupo comandado por um terceiro líder era encarregado de agir com extrema violência. Eles invadiam e tomavam lotes, entravam em guerra com outros grileiros e usavam da violência para impor silêncio e medo aos moradores. Há investigações da polícia que apontam, ainda, registro de homicídios cometidos na região ligados ao parcelamento irregular do solo urbano.


Cartório digital


De forma a dar “mais conforto e gerar confiança” ao comprador do lote, os grileiros vendiam os imóveis por meio de Contratos de Cessão de Direito, normalmente com firma reconhecida. “Os cartórios do DF começaram a não fazer reconhecimento de firma para Cessão de Direito e, então, eles recorreram aos cartórios do Entorno, principalmente o de Luziânia (GO)”, explicou o delegado-adjunto da 30ª DP, Ulysses Luz.

Audaciosos, os criminosos criaram uma espécie de cartório digital em São Sebastião, onde eles mesmos passaram a reconhecer firma e, assim, ganhar mais dinheiro. A polícia apura, ainda, o suposto envolvimento de servidores da Administração Regional da cidade. Há a suspeita de que alguns grileiros mantinham vínculos com os agentes públicos, que são investigados por corrupção passiva. As apurações seguem no sentido de saber se os servidores foram de fato beneficiados. Já os advogados também alvos da operação são suspeitos de ser grileiros e de manter elo com empresários.

"Tão grave quanto a atuação dos grileiros, são os indicativos de que os líderes recebiam apoio de agentes públicos, os quais, ao invés de cuidarem do interesse público, perverteram os valores de deveriam ser protegidos'', destacou o delegado. Os envolvidos são investigados por integrar organização criminosa, lavagem de dinheiro, parcelamento irregular do solo urbano e crimes ambientais. As investigações seguem com o objetivo de identificar outros suspeitos.

Até o fechamento desta edição, a reportagem não conseguiu contato com as defesas de Antônio, José e Michaely.

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