LITERATURA

CIEM, o ensino futurista

O livro escrito por Antônio de Pádua Gurgel, faz um resgate da história do CIEM, projeto que revolucionou o ensino médio na década de 60.

Davi Cruz*
postado em 28/07/2022 06:00
Vista de cima do Centro Integrado de Ensino Médio (CIEM), uma escola que revolucionou o ensino -  (crédito: Fotos: Livro CIEM: Uma escola para a vida/Divulgação)
Vista de cima do Centro Integrado de Ensino Médio (CIEM), uma escola que revolucionou o ensino - (crédito: Fotos: Livro CIEM: Uma escola para a vida/Divulgação)

Como parte de um dos elementos das celebrações pelo 60º aniversário da Universidade de Brasília (UnB), está sendo realizada uma pré-venda do livro CIEM: Uma escola para a vida, durante a 74ª Convenção da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), realizada até o dia 30, no campus da Unb.

A obra do historiador e jornalista Antônio de Pádua Gurgel, baseia-se no Centro Integrado de Ensino Médio (CIEM), uma espécie de laboratório pedagógico da Faculdade de Educação da UnB. Em meados da década de 1960, o CIEM testava alguns métodos pedagógicos, que somente agora estão sendo implantados nas escolas públicas de todo o país por meio da Base Nacional Comum Curricular (BNCC).

Este projeto de educação integral, tinha o objetivo de estimular os estudantes a desenvolverem competências socioemocionais, como é proposto agora com a BNCC. Na época, o CIEM realizava essas atividades por meio das chamadas Práticas Educativas Vocacionais, que serviram como inspiração para o atual Projeto de Vida, que tornou-se a linha mestra do ensino médio.

Sobre este projeto revolucionário, o próprio Darcy Ribeiro declarou que  “o CIEM foi a melhor experiência em educação secundária feita no Brasil”. Além de Anísio Teixeira, considerado o pai da escola pública no Brasil, Darcy Ribeiro, Lauro de Oliveira Lima e José Aloisio Aragão, o primeiro diretor da escola, participaram da elaboração do projeto.

Apesar de ser instituição de ensino experimental, o CIEM não se furtou apenas ao aprendizado, mas também trouxe a tona o lado humano e a importância de celebrar o ensino, por meio do congraçamento, um momento de comunhão entre estudantes, professores e funcionários como uma grande família, onde havia o sentimento de alegria, amizade e amor. 

Entrevista para o Correio // Antônio de Pádua Gurgel

Como surgiu a ideia de escrever um livro sobre o CIEM?
Em 2018 um grupo de ex-alunos do CIEM fez um grande encontro celebrando os 50 anos de 1968, ano em que todas as pessoas daquele grupo estavam estudando no centro de ensino. Esse encontro seria em maio de 2018, mas foi formado um grupo de WhatsApp em fevereiro e, desde então, começou-se a trocar ideias e etc. Muita gente que não tinha contato a muitos anos e alguns até 50 anos. Nessas conversas do grupo, quando chegou mais ou menos em abril, tive a ideia de todas as pessoas darem depoimentos falando sua trajetória no CIEM e também sua trajetória depois que saiu da instituição e cada um falou isso. A partir daí eu tive a ideia de fazer um livro sobre o CIEM. Inclusive utilizando aqueles depoimentos.

Qual a importância do lançamento deste livro no mesmo ano em que a UnB celebra o 60º aniversário?
O projeto do CIEM fazia parte do próprio projeto da UNB, que era um projeto revolucionário, um projeto que foi idealizado por Darcy Ribeiro junto com Anísio Teixeira. Até então não havia no Brasil nenhuma coisa semelhante a uma faculdade de educação. O CIEM é uma parte integrante, uma parte importante na história dos 60 anos da UNB. Tanto no que se refere ao lado positivo, do projeto pedagógico revolucionário, como no que se refere a repressão que também vitimou a Universidade de Brasília.

Por que demorou tanto tempo para implantação desses métodos criados na década de 1960?
Como o regime militar acabou em 1985, na Constituinte de 1988, foi inserido um capítulo em que previa a criação de uma base nacional comum curricular. A partir da Constituinte de 1988, do ponto de vista formal, existiu essa disposição para que o projeto ocorresse. Agora até isso chegar a prática demorou muito mais tempo. Porque a educação no Brasil, infelizmente, não é um assunto prioritário para os governos, o que deveria ser. Até que em 1996 a Lei de Diretrizes e Base da Educação, previu medidas concretas para implementação da base nacional comum curricular ,e só em 2018, que o negócio começou a andar.

Qual relação de Darcy Ribeiro e Anísio Teixeira na criação do CIEM?
Eles foram parceiros historicamente desde 1952 pelo menos. Que eles começaram a trabalhar juntos. Porque os dois eram apaixonados pela educação. Cada um no seu campo, faziam esse trabalho em conjunto, como uma dupla de parceiros em prol da educação. Então eles também estavam juntos na criação do projeto do CIEM, que era um braço, digamos assim, do projeto da universidade (UnB) que eles construíram juntos também. É uma parceria de longa data.

Quais figuras famosas passaram pela escola?
No clube de mecânicos de automóveis, tinha integrantes como Alex Dias Ribeiro, por exemplo. Esse grupo resolveu montar a oficina Câmber, que montou um protótipo de carro de corrida, cujo nome era Patinho Feio. Esse Patinho Feio ganhou a corrida de 1.000km de Brasília. Depois disso, Alex Dias Ribeiro, que era um dos principais integrantes da equipe e do clube mecânico, continuou investindo na carreira e depois foi para Londres tornando-se vice-campeão mundial de Fórmula 3.

A aplicação destes métodos educacionais hoje em dia, ainda é atua ou é ultrapassada?
O que está sendo feito agora não é literalmente o que se fazia há 50 anos. Aquilo ali foi uma espécie de inspiração. As técnicas foram adaptadas, até porque, no decorrer desse período, houve importantes alterações, tanto na sociedade quanto na tecnologia, por exemplo internet não tinha naquela época. Então hoje a BNCC, tem um capítulo amplo que se dedica a essa questão do uso da internet, dos jogos eletrônicos, na educação isso é uma coisa que não existia naquela época.

O CIEM pode ser considerado uma escola vanguardista?
Ele seria vanguardista até hoje. 60 anos depois ele seria ainda hoje uma escola revolucionária. Era um laboratório pedagógico e hoje não existe isso, não existe essa escola experimental ou escola de aplicação como se chamava também na época algumas dessas unidades, que existiam em outros estados como Rio de Janeiro e outros. Então as escolas de aplicação ou escolas experimentais deveriam ser um projeto permanente. Cabe ainda hoje uma escola como CIEM e cabe mais do que nunca, cada vez mais fica evidente a importância da educação para que o país alcance os objetivos que ele tem e principalmente no que se refere ao bem-estar da população.

Serviço
O livro CIEM: Uma escola para a vida está em pré-venda na 74ª Convenção da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), realizada entre os dias 24 e 30 de julho, no campus da Unb. A obra pode ser adquirida também pelo site: www.paduagurgel.com.br pelo valor de R$ 50.

Estagiário sob supervisão de José Carlos Vieira

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  • Alunos durante aulas integradas no centro do ensino
    Alunos durante aulas integradas no centro do ensino Foto: Livro CIEM: Uma escola para a vida/Divulgação
  • Os cursos eram variados e iam de artes à mecânica
    Os cursos eram variados e iam de artes à mecânica Foto: Livro CIEM: Uma escola para a vida/Divulgação
  • Antonio de Pádua Gurgel:
    Antonio de Pádua Gurgel: "A proposta do Ciem fazia parte do próprio projeto da UnB" Foto: Carlos Vieira/CB/D.A.Press
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