Entrevista | Aída Alvim, pneumologista

Sequelas pedem atenção médica

Ao CB.Saúde, a especialista destaca que pacientes que apresentem sintomas persistentes da covid-19 após a recuperação devem procurar um profissional. Ela ressalta, ainda, que o uso de cigarros eletrônicos pode causar inflamações no organismo

Isac Mascarenhas*
postado em 29/07/2022 00:01
 (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
(crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

Pessoas que tiveram covid-19, por vezes, após a recuperação, continuam apresentando sintomas da doença, como tosse persistente. A médica Aída Alvim alerta sobre os cuidados de pacientes que sofrem com a síndrome pós-covid. "A sequela vem para pessoas que tiveram a forma mais grave da doença. Se a tosse persistir, deve-se procurar um pneumologista para investigar o caso", aconselhou, em entrevista à jornalista Carmen Souza. Durante o programa CB.Saúde — parceria do Correio com a TV Brasília —, Aída destacou os perigos do cigarro eletrônico e os efeitos no organismo dos usuários.

Entre os infectados pelo novo coronavírus, parte dessas pessoas tem uma tosse persistente. O que tem acontecido exatamente?

Essa tosse é muito incômoda. Ela pode piorar à noite, e o acometido pode dormir mal. Ainda pode haver insônia pós-covid e falta de ar associada. É uma inflamação das vias aéreas causadas pela covid-19, mas não sabemos quanto vai durar, pois é uma doença ainda muito recente e sem estudos, mas muitas coisas precisam ser investigadas

Quanto tempo pode durar essa tosse pós-covid?

O tempo médio é de até oito semanas, como uma gripe viral. O tratamento é feito com corticoides e antitussígenos.

Que cuidados devemos tomar dentro de casa?

Se o paciente já tem um histórico de alergia, deve-se evitar espanar os objetos e trocar por um aspirador de pó, além deixar o ar mais umedecido com um umidificador, mas tomando cuidado para não mofar os móveis.

Quais são os sinais de alerta para uma sequela mais grave?

A sequela vem para pessoas que tiveram a forma da doença mais grave. Se a tosse persistir, deve-se procurar um pneumologista para investigar o caso. Pode ser uma tosse durante a situação de covid, mas não causada pela doença.

As receitas caseiras funcionam?

Funcionam, e não fazem mal. Na medicina, não condenamos essas receitas, não tem problemas. Um chá é como se fosse uma compressa natural, mas deve-se evitar ingerir alimentos que podem ser alérgicos.

A máscara pode deixar de ter eficácia com muita tosse?

A máscara é muito importante. Caso for uma pessoa positiva assintomática, a chance dela de transmitir é menor por causa dessa barreira. A máscara ajuda, mas não evita a transmissão. Se perceber que sua máscara está úmida, troque, pois diminuiu a proteção.

O pigarro é um sinal de alerta?

O pigarro vem de uma secreção retrofaríngea, ou seja, desce pela garganta e se acumula nessa região. Cigarro é uma das grandes causas do pigarro. Se a pessoa tiver, além do pigarro, com secreção amarela, é bom procurar uma pneumologista

A forma como o vírus ataca o sistema respiratório foi mudando, saindo dos pulmões e dos brônquios. Isso sinaliza tranquilidade em relação à infecção?

Atualmente, as infecções nos brônquios e nos pulmões realmente têm sido menores e mais leves, exceto nos paciente idosos e com comorbidades. No pacientes que não tem esse perfil, ficamos mais tranquilos. Mas devemos fazer o isolamento, mesmo estando bem.

A fadiga é uma sequela muito comum, como isso se relaciona com o sistema respiratório?

Devemos diferenciar a fadiga da falta de ar. A falta de ar é no sistema respiratório de fato. A fadiga é um acometimento neuromuscular. As pessoas que tiveram a forma grave, foram para a UTI e ficaram bastante tempo imobilizadas, sentem a falta de força muscular, a fadiga. A fadiga viral, parece a da gripe e não tem tanta relação com a parte respiratória

Ainda na pandemia, estamos em outro momento mais ameno. Podemos atribuir esse
período às vacinas?

Sim, mas também a variante ômicron que é mais leve. Percebemos que antes da vacinação, os pacientes tinham quadros mais graves. Após a imunização, aqueles que tinham tomado a vacina apresentavam menos sintomas e sequelas. Os mais jovens sem vacinação passaram a ser internados. Efeito da vacina.

Com a popularização entre os jovens dos cigarros eletrônicos, como isso chega no consultório?

Faz mal. É um vapor de água que, mesmo sem nicotina, pode inflamar a via aérea. Eles têm óleos essenciais que podem causar uma pneumonia lipídica. Quando isso se junta à nicotina, a pessoa pode ficar viciada. Se adicionar THC (tetrahidrocanabinol), a inflamação pode acarretar uma pneumonia grave e levar até a morte. Esses cigarros podem inflamar os brônquios, o pulmão e a boca. Não é uma coisa inócua

Esses dispositivos surgiram como uma alternativa ao cigarro tradicional. Isso de fato é efetivo?

A única desculpa para usar o cigarro eletrônico é para quem está tentando deixar o tabagismo, mas isso deve ser programado com um médico. Uma grande dificuldade é que esses cigarros não informam a quantidade nicotina, fica difícil para o profissional recomendar

*Estagiário sob a supervisão

de Guilherme Marinho

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