Brutalmente assassinada, Jeanne Pereira dos Santos, 31 anos, foi encontrada em sua casa na QNN 1, do Setor N, Ceilândia Norte, ontem pela manhã. Nas primeiras horas do dia, testemunhas ouviram gritos e uma briga. O companheiro, identificado como Leandro Nunes Caixeta, 34, é o principal suspeito do crime.
De acordo com a delegada Adriana Romana, da Delegacia Especial de Atendimento à Mulher 2 (Deam 2), é provável que Jeanne tenha sido estrangulada. "Há sinais de violência. Mas só o laudo cadavérico poderá confirmar", apontou Adriana.
Após o crime, segundo a Polícia Civil (PCDF), Leandro, que está desempregado, procurou um posto do Corpo de Bombeiros (CBMDF) afirmando que a mulher estava com dificuldade para respirar. Ao chegar no local, os militares encontraram a vítima caída no quarto do casal. Os bombeiros tentaram reanimá-la, mas ela morreu no local.
Logo que os bombeiros iniciaram o socorro, Leandro fugiu. Até o fechamento da edição, ele não havia sido encontrado.
Uma das testemunhas que viu o corpo de Jeanne relatou ao Correio que observou hematomas no pescoço da mulher, marcas pelo corpo e olhos roxos. Vizinhos disseram que as brigas eram comuns entre o casal. Afirmaram que, em várias ocasiões, presenciaram Jeanne e Leandro correndo pela rua e se agredindo.
Conforme a PCDF, a vítima já havia registrado uma ocorrência no ano passado na Deam 2. O processo tramitou no Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT), mas foi arquivado e a polícia não informou o motivo, porque as investigações correm em sigilo.
Os dois estavam juntos há cerca de oito anos e tinham uma filha de 11 anos. A menina estava na casa na hora do crime. Abalada, Jaqueline Pereira, tia da vítima, disse ao Correio que o relacionamento do casal era volátil e que os dois eram usuários de drogas. "Eles brigavam muito. A polícia chegou a ser chamada algumas vezes. A mãe dela ia internar, mas ela fugiu. Ele também era usuário de drogas. Então, fica difícil um usuário ajudar o outro. O relacionamento era conturbado, muita briga, muita confusão, muita bebida", relatou a tia de Jeanne.
Feminicídio
Neste ano, já são 11 feminicídios. Nos primeiro sete meses do ano passado, o número foi ainda maior, 17. Os casos mostram que há muito a ser feito para por fim a esse tipo de crime.
Para a especialista e pesquisadora do Grupo de Pesquisa sobre Violência, Tráfico e Exploração Sexual de Crianças, Adolescentes e Mulheres da Universidade de Brasília (UnB), Anna Carolina Aureliano, as estatísticas refletem a falta de políticas públicas e investimento na educação a respeito da violência de gênero. "Essas pautas têm que estar incluídas de forma legal, obrigatória na educação pública e privada. É importante que se tenha conhecimento da perspectiva de gênero, da desigualdade de gênero e das violências que são sofridas, tanto no território de Brasília, como a nível nacional", disse.
A pesquisadora destacou que o acesso a esses temas está restrito e, quando não há conhecimento em relação aos dados, não se tem noção dos números e nem da gravidade desse tipo de violência. "Com isso, a gente também vai ter uma política pública inefetiva que não supre a demanda local", analisou.
Anna Carolina destacou, ainda, a importância da denúncia e do suporte a mulheres vítimas de violência. "A gente tem todos os instrumentos necessários de apoio para que essa mulher denuncie e para que outras mulheres não passem por essa mesma situação", afirmou. A especialista observou que as pessoas podem ajudar, quando se deparam com epidódios de violência. "Se desconfiar que alguém próximo está vivendo uma situação de violência, que pode, inclusive, levar a um feminicídio, você pode evitar isso denunciando através do telefone 180 ou de uma delegacia especializada", orientou a pesquisadora.
* Estagiário sob a supervisão
de Malcia Afonso
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