Toda sexta-feira é dia do brinquedo e da fantasia na escola. Ainda não temos um repertório grande, pois, aos 3 anos de idade, a diversão se garante com as coisas mais simples, não é mesmo? Aproveitamos as roupas do Dia das Bruxas e do carnaval, revezando a cada fim de semana, e, às vezes, improviso com alguma que ela já tem no armário, mais algum acessório esquecido pela casa. Já montamos uma pirata, por exemplo, com direito a tapa-olho e tudo o mais.
Minha mais velha cresceu na pandemia e, apesar de achar que os rótulos atrapalham o desenvolvimento de qualquer criança, são inegáveis os impactos que os tempos de isolamento e de combate à covid-19 tiveram na rotina familiar. Talvez, a pessoa que ela mais tenha visto fora do convívio próximo tenha sido a pediatra, uma médica de referência, que nos ajuda a passar com tranquilidade pelos momentos de aflição e a resistir às noites maldormidas.
"A cronista enlouqueceu", você deve estar pensando aí desse lado da tela ou do jornal. Certamente, essas noites em claro não têm feito bem à pobre. O que tem a ver uma coisa com a outra? Confiem: chegaremos lá.
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Acontece que as visitas ao consultório da pediatra sempre ficam marcadas de alguma forma na cabeça de Alice. De vez em quando, ela arranja um jeito de brincar de faz de conta e fingir que é uma médica. Coloca qualquer coisa em volta do pescoço e diz: "Eu sou a doutola Alba" (ela ainda fala "igual ao Cebolinha", mas a própria médica já explicou que é algo esperado para a idade).
Para ajudar a imaginação e tornar a brincadeira ainda mais divertida, o avô a presenteou com um kit de médica no aniversário, com direito a jaleco personalizado. Toda caracterizada, com seringa e estetoscópio, ela começa a auscultar, a fazer curativos e a vacinar os "pacientes" em casa.
Foi quando chegou a sexta-feira e os pais, ingênuos, pensaram em unir o útil ao agradável e sugeriram: "Hoje, é dia da fantasia na escola! Por que você não vai de médica?". A resposta veio rápida e certeira: "Médica não é fantasia, ué", disse ela, visivelmente irritada com nossa proposta. "Eu vou de mulher-mamavilha, que é super-helói!", atestou.
Surpresa com a reação e com a sagacidade da criança, ainda tentei retrucar, explicando que não havia problema, mas que, ao mesmo tempo, ela estava certa, pois médica é uma profissão — e uma muito importante, inclusive. Mas logo percebi que a argumentação era em vão e só serviria para confundir uma mente que já está no caminho correto. Restou aos dois adultos se render à sabedoria infantil. É fato: médica não é fantasia.
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