Eleições 2022

Desempenho de Jair Bolsonaro anima aliados no Distrito Federal

Após o levantamento Correio/Opinião mostrar consolidação de Ibaneis e virada do presidente no DF, representantes de siglas locais comentam como pretendem utilizar os números divulgados em suas campanhas eleitorais

O crescimento do presidente Jair Bolsonaro (PL) nas pesquisas no Distrito Federal anima os candidatos da base de apoio do mandatário e acende alerta para a oposição. A 26 dias da decisão nas urnas, os concorrentes se mobilizam para fortalecer as bases e avançar na conquista de votos. No levantamento do Correio/Opinião, realizado em agosto, Jair Bolsonaro estava em segundo lugar na disputa eleitoral do DF, no entanto, de acordo com o levantamento divulgado ontem, ganha em todos os cenários do segundo turno — os dados são da pesquisa do Correio/Opinião, veiculada ontem. Um dos principais candidatos apoiados pelo presidente é Ibaneis Rocha (MDB), que se consolida na liderança de votos na disputa pelo Palácio do Buriti.

Para o cientista político Valdir Pucci, o levantamento mostra que o atual chefe do Executivo local tem chances reais de garantir vitória ainda no primeiro turno ou, mesmo que vá para o segundo turno, ter ampla vantagem em relação aos adversários. "A sociedade ainda vê de forma positiva o governo realizado por ele dentro dos últimos quatro anos, tendendo a reelegê-lo", destaca. A pesquisa Correio/Opinião mostra que o trabalho de Ibaneis tem uma aprovação de 54,3%.

CB - Pesquisa Correio/Opinião para governado do DF

Doutor em ciência política, Lúcio Rennó avalia, no entanto, que ainda há tempo para a articulação das frentes. "O número de indecisos podem ser mobilizados pelos candidatos. Além disso, o que tem ocorrido no Brasil, de forma ainda mais acentuada nas eleições distritais, é que o eleitor posterga a decisão do voto para a reta final. Ainda tem muita coisa para acontecer na campanha que pode levar a um resultado inesperado", pontua.

Dobradinhas

O especialista também analisa a associação dos candidatos do DF às figuras do presidente Bolsonaro e do ex-presidente Lula, principais alvos da polarização política. "O avanço de Bolsonaro é bastante significativo no DF e temos que lembrar que em 2018 ele foi bem votado na capital. Aqui, ele tem um público bastante representativo, o que favorece as candidaturas vinculadas a ele", reforça. "Apesar disso, a rejeição dos dois presidenciáveis também é uma consequência, um custo pago pelos candidatos ao receber esse apoio. Uma das formas de reverter essa imagem negativa causada pela associação é o concorrente destacar a própria personalidade com mais força do que a do presidente que o apoia", aponta o especialista.

Um dos postulantes ao Palácio do Buriti que sofre essa consequência, de acordo com a pesquisa do Correio/Opinião, é Leandro Grass, do (PV). Na abordagem, 66,2% disseram que não votariam no candidato da federação PT-PV-PCdoB pela proximidade com Lula. Para Valdir Pucci, a rejeição a Grass está ligada ao fato de Bolsonaro ser um nome forte no DF. "Entre os que estão com as maiores intenções de voto, (Leandro Grass) é um dos que mais se coloca como anti-Bolsonaro. Assim, ele encontra uma resistência, justamente por conta da perspectiva mostrada pela pesquisa."

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Enquanto isso, 16,1% disseram que, ao saber que Grass faz parte da base de Lula, votariam no candidato. Lúcio Rennó destaca, assim, que a visibilidade trazida por Lula a Leandro Grass é positiva. "Nesse cenário, ele não tem muita escolha, e o apoio (do ex-presidente Lula) causa muito impacto na busca por votos, no caso do candidato a governador", destaca o especialista. A cientista política Noemi Araujo concorda com o que é dito e acrescenta que as dobradinhas para as campanhas majoritárias são essenciais para ajudar uma campanha como a do distrital. "Ainda desconhecido da população em geral, Grass precisa buscar visibilidade e autoridade junto à figura de Lula, para que receba a 'bênção' do ex-presidente e conquiste votos de confiança dos eleitores do PT na capital."

CB - Pesquisa Correio/Opinião no DF para presidente

A especialista, porém, ressalta que a situação não se encaixa nos cenários em que o candidato já tenha a máquina pública a seu favor, citando o atual governador do DF. "Entendo que o distanciamento midiático entre ele e Bolsonaro ou da Simone Tebet — mesmo que alinhados politicamente e por conta do partido, respectivamente — se faz, pela busca da diminuição de sua rejeição, bem como pela sua autonomia quanto ao capital político e vantagem nas pesquisas."

Intenção de votos

Em agosto, Bolsonaro aparecia na pesquisa com 36,7% da intenção de votos na pesquisa estimulada, enquanto Lula tinha a liderança com 39%. Atualmente, Bolsonaro tem 41,4% dos votos na capital e o ex-presidente Lula aparece com 29,8%. A pesquisa foi a campo entre 1 e 3 de setembro e abordou 1.105 eleitores, com margem de erro estimada de 2,9 pontos percentuais para mais ou para menos, com um intervalo de confiança de 95%.

A mudança do cenário no DF é vista como positiva pelo presidente regional do Republicanos, Wanderley Tavares. Segundo o representante, o partido tem uma grande base de candidatos bolsonaristas. "Já é intrínseco ao partido essa mobilização muito ligada ao bolsonarismo. A prova maior disso é que a primeira dama (Michelle Bolsonaro) apoia incondicionalmente a nossa (candidata), senadora Damares Alves", frisa.

Para o presidente do partido, os bolsonaristas brasilienses aguardam com muita ansiedade e expectativa uma apresentação do candidato à reeleição em algum evento de massa. "Estamos aguardando as agendas (de Bolsonaro) para nos mobilizarmos e estarmos presentes, para reforçar o apoio que oferecemos a ele", disse Wanderley, deixando claro que as redes sociais são uma base de atuação muito forte de Bolsonaro.

Oposição

Ao Correio, o presidente local do Partido dos Trabalhadores (PT), Jacy Afonso, disse que os integrantes da sigla receberam o novo resultado com estranheza. "O que vemos nas ruas, durante as agendas de campanha, não condiz com o que saiu (no levantamento)", destaca. Para ele, nas ruas, o partido não tem percebido o crescimento de Ibaneis e Bolsonaro. "Nós não entendemos esse avanço durante as nossas atividades de campanha. No nosso entendimento, a tendência é justamente o contrário, com o crescimento dos nossos candidatos."

O presidente da sigla ressaltou que, por conta da diminuição do tempo de propaganda na tevê, as campanhas de Lula e Leandro Grass estão mais focadas nas agendas de rua e na conversa direta com os eleitores, na tentativa de "virar votos". Jacy Afonso disse que, com o resultado da pesquisa em mãos, o PT-DF está analisando os números junto à comitiva de campanha do partido local para tentar mudar o cenário. "Espero que a próxima (pesquisa) mostre o resultado de todo o nosso esforço empregado nas campanhas."

Presidente regional do Partido Verde (PV) e vice-presidente da sigla em âmbito nacional, Eduardo Brandão afirma que a pesquisa está dentro da margem de erro. Para ele, a vitória de Lula na capital do país é certa. "É uma questão de momento da pesquisa e da campanha eleitoral. A disputa começou oficialmente há duas semanas, alguns eleitores demoram um tempo para parar e observar os candidatos", opina.

Segundo Eduardo Brandão, a estratégia do partido é apresentar as propostas de Leandro Grass para a população e continuar o trabalho realizado na campanha do candidato. "O ex-presidente Lula é muito saudável para a campanha do Leandro, é muito positivo. Essa ligação só traz benefícios e vai fazer com que ele chegue ao segundo turno e ganhe no DF", acredita. O presidente regional do PV também fala sobre uma possível rejeição de Grass, pelo fato de estar ao lado de Lula nas campanhas. "Não avalio desta forma, as pessoas que não votam no Leandro por causa do Lula. Estamos em um momento de polarização e quem não vota em um, vota em outro."

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