Os primeiros acordes de um sucesso de Nirvana podem até levar os desavisados a pensarem que lá vem um hit da banda norte-americana. Ledo engano! Eles são, na verdade, a introdução para um clássico do brega brasileiro. É assim, com arranjos inusitados em canções regadas por muita sofrência, que o grupo brasiliense Brega & Rosas vem atraindo um público cada vez maior para os seus shows.
Como boa pernambucana, conterrânea do rei Reginaldo Rossi, o brega sempre fez parte do meu repertório musical — um prazer compartilhado com os amigos nas rodas de violão e festinhas. Na minha terra, o gênero é tão importante que ganhou até uma data para chamar de sua. O Dia Municipal da Música Brega, 14 de fevereiro, foi instituído pelos vereadores locais, que também aprovaram um projeto de lei que torna o movimento Patrimônio Cultural Imaterial do Recife.
Talvez, essas raízes nordestinas tenham ajudado a me tornar fã dos "meninos" da Brega & Rosas. Uma coisa, porém, é certa: a presença de amigos queridos em cada show, curtindo ao meu lado, ajuda a transformar o momento em algo especial — sobretudo depois de tudo o que vivemos durante esses dois anos de isolamento.
Na última apresentação da banda, reencontrei amigas que não via há tempos — algumas desde antes da pandemia — e me fez refletir o quanto aproveitar pequenos prazeres faz bem para o corpo e para a alma.
Sentimentalismos à parte, é importante ressaltar a importância do brega para a cultura brasileira. Confesso que não sou uma conhecedora musical para falar com propriedade — os estudiosos sobre o tema fiquem à vontade para me corrigir —, mas sei que o movimento surgiu entre as camadas sociais mais baixas — e marginalizadas. Associadas a prostíbulos nordestinos, as músicas românticas e com letras cheias de sofrência foram, por anos, consideradas cafonas pela elite brasileira.
No final dos anos 1970, porém, o brega ganhou uma sonoridade moderna e passou a ser melhor aceito pela elite. Acompanhados de danças sensuais, peformatizadas por Sidney Magal e Gretchen, saiu dos guetos e passou a ser ouvido pelo grande público. Com a efervescência dos anos 1980, o termo brega começa a ser empregado e difundido, ganhando, inclusive, valor artístico.
Nos anos 1990 e 2000, veio a consolidação do movimento. Reginaldo Rossi, que já era rei no Nordeste, ganhou fama no resto do país, e músicas como Garçom e A raposa e as uvas viraram grandes hits. Foi nessa época que nomes que não faziam parte desse gênero musical começaram a gravar músicas bregas. Odair José e o próprio Rossi ganharam tributos com participações de artistas como Lenine, Zé Ramalho, Otto, Mundo Livre S/A, Geraldo Azevedo e tantos outros.
A banda brasiliense faz justamente essa homenagem aos ícones do movimento surgido nas massas. E, é aí que entra o meu saudosismo: brega, para mim, é sinônimo de bons tempos, quando ninguém dependia de mim e não tinha preocupação com os boletos a pagar.
O repertório da Brega & Rosas faz uma viagem por todas essas fases. Vai de Wando a Sidney Magal, passando por Reginaldo Rossi e Amado Batista, até chegar à lambada e ao axé. Para os que ainda torcem o nariz para o ritmo, só tenho uma coisa a dizer: vocês não sabem o que estão perdendo.
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