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Estudantes realizam provas do PAS e tentam uma vaga na UnB

Alunos compareceram aos locais de prova para realizarem as duas últimas etapas do Programa de Avaliação Seriada (PAS). Aproximadamente 17 mil fizeram o primeiro ciclo de testes no sábado e dez mil a última fase ontem

Ana Maria Pol
postado em 12/12/2022 06:07 / atualizado em 12/12/2022 06:08
 (crédito:  Marcelo Ferreira/CB/D.A. Press)
(crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A. Press)

Munidos de canetas esferográficas de tinta preta e sonhos, que vão desde dar o primeiro passo em uma carreira de sucesso até causar orgulho aos pais, milhares de estudantes passaram o fim de semana focados na disputa por uma vaga na Universidade de Brasília (UnB). Cerca de 27 mil pessoas compareceram nos locais de prova para realizarem as duas últimas etapas do Programa de Avaliação Seriada (PAS). Destes, aproximadamente 17 mil fizeram a primeira etapa, no sábado. Quase dez mil compareceram, ontem, nos locais para realizar a última fase do exame. Dos 10.088 estudantes que estavam inscritos para Fase 3 do PAS, 9,3% não participaram neste domingo.

O teste de conhecimentos é organizado pelo Centro Brasileiro de Pesquisa em Avaliação e Seleção e de Promoção de Eventos (Cebraspe) e funciona como um vestibular, dividido em três provas, sendo que as duas primeiras etapas têm aplicações também em cidades do Goiás e Minas Gerais. Já a última prova, destinada a estudantes do terceiro ano do ensino médio, aconteceu apenas no Distrito Federal, e teve 9,75% de abstenção. A primeira etapa acontece no próximo sábado, às 8h, e são previstos 21.204 estudantes.

O Correio acompanhou a chegada dos alunos ao Bloco de Sala de Aulas Sul (BSAS) da UnB, localizado ao lado do ICC Sul, e conversou com alguns deles. E antes dos portões fecharem, às 13h10, pairava no ar um sentimento entre alunos, pais e responsáveis, que se dividia entre a tensão e a positividade. "Ao mesmo tempo que estou insegura, há certa confiança, porque a única coisa que preciso fazer é manter minhas notas. Nas últimas duas provas eu fui bem, então acho que vai dar certo. É só manter o ritmo, não é preciso de nenhum milagre", conta a candidata Ana Clara Boslon, 17 anos, que sonha em cursar psicologia.

Moradora do Lago Norte e estudante do Sigma, Ana diz que criou uma intensa rotina de estudos para se preparar para prova. "Fiz muita revisão de conteúdo e exercícios. Sempre que surgia alguma dúvida, questionava o professor e pedia uma explicação", diz. A velha teoria de que a prática leva a perfeição garantiu que Ana criasse um modelo próprio para o exame. "Ao ver que falta o conhecimento de alguma questão, eu passo para a próxima. Antes eu tinha mania de ficar pensando demais, e arriscava o chute. Mas isso prejudica, porque no PAS, uma questão errada anula uma certa", explica.

Pleiteando uma vaga em ciência da computação, André Acioli, 17, conta que aproveitou a facilidade em decorar para se preparar para o vestibular. "Sempre aprendi as coisas rápido, então trabalhei muito com resumos. Na escola, apesar das atividades e dos professores ajudarem a gente, as sínteses sempre me ajudaram", garante. Para o candidato, o PAS 1 foi um tanto complicado. "No começo, tivemos problemas para ajeitar as aulas, devido a pandemia, então acabamos com um pouquinho de defasagem de conteúdo, mas nada que fosse muito importante. No final deu certo, tirei boas notas. Agora é manter isso no PAS 3", completa.

Apoio da família

Em meio ao nervosismo e ansiedade, Daniele de Lima, 19, encontrou na família a calmaria e o apoio que precisava. Minutos antes do portão fechar, acompanhada do pai, o militar Marcelo de Almeida, 48; da mãe, a designer de interiores Lidia de Lima, 49; e da irmã, a universitária Marcele de Lima, 25, a postulante à uma vaga de odontologia participou de um momento de oração em família. "Cremos em Deus, que ele tem um propósito para cada pessoa. Então pedimos a ele que, da maneira mais tranquila, ela possa alcançar esse objetivo. Que o Senhor cumpra o propósito na vida dela. E entendemos que odontologia é a missão que ele colocou no coração dela", explica o pai.

Para o militar, a família é um apoio importante para esse momento, em que estudantes traçam o futuro. "A gente preparou ela para esse momento. Achamos que o PAS é ainda mais importante que o Enem, porque o foco dela é a UnB. Então a família toda está envolvida nesse momento", argumenta. Para ajudar, Marcelo diz que a família tentou, ao longo dos últimos anos, criar um ambiente seguro para que Daniele pudesse desenvolver e descobrir suas habilidades. "A gente incentiva para que ela possa se realizar como mulher, mãe e profissional", pontua.

Segundo o pai, o momento é importante. "Ela disse que quer odontologia na UnB, então é isso que vamos apoiar. Se ela quiser ser astronauta em Marte, ela pode ser. Estamos aqui para dar suporte. Nossa participação é trazê-la aqui, para viver o momento dela. Ver ela passar, fazer o que gosta, é uma recompensa para nós, e mostra que fizemos um bom trabalho enquanto pais", garante.

Segunda etapa

No sábado foi a vez dos estudantes inscritos no PAS 2, que teve 9,75% de abstenção. Diferentemente dos candidatos que realizaram a última prova do programa, o sentimento de ansiedade e preocupação foi menor. Moradora do Setor Militar Urbano, Ana Luísa Ribeiro Rangel, 17, estuda no Colégio Militar de Brasília e explica que a preocupação surge no último ano do ensino médio. "O peso da prova 3 é maior, então a gente acaba focando mais nela. Mas isso não diminui o esforço para as outras provas", diz Ana

Obstinada, Ana conta que pretende conseguir uma vaga no curso de enfermagem na UnB. "Eu não cheguei a fazer o PAS 1 porque perdi a data, mas estou empenhada em conseguir uma vaga na UnB. Ainda que a minha primeira experiência tenha sido essa prova, consegui usar o conhecimento que adquiri na escola e nos meus estudos para fazer o exame", comenta. Agora, a estudante planeja a rotina de estudos para o próximo ano: "Eu estudo todo dia um pouquinho, mas agora vou intensificar a rotina, já que é a última etapa. Devo entrar em algum cursinho, vamos ver como vai ser", prevê.

Morador da Ponte Alta, no Gama, Nicolas Santos, 17, conta que sonha em fazer direito e virar diplomata. Com foco nisso, resolveu tentar uma vaga pelo PAS. Para garantir uma boa nota, ele deve adotar alguns cuidados na hora de responder a prova. "Evito chutar porque uma resposta errada anula uma certa", conta. No caso da redação, não é diferente. Ele diz que aproveitou a experiência que adquiriu em sua escola, o CEM 1 do Gama, para formular um bom texto. "Estamos acostumados a escrever semanalmente, então aprendemos a nos informar antes de qualquer coisa. Isso me ajudou", garante.

Redação

Os estudantes tiveram cinco horas para responder às questões, que englobam diferentes áreas do conhecimento, além da redação, que neste ano teve como tema, na primeira etapa: "Como a falta de representatividade feminina alimenta o ciclo de desigualdade de gênero e limita o papel da mulher na sociedade". A professora de língua portuguesa do Centro de Ensino Médio do Gama, Jacqueline Cavalcante, reitera que o tema foi trabalhado dentro das matrizes do programa. "Algumas obras no PAS também abordaram o assunto, além de outras disciplinas como filosofia, história, geografia. O aluno que citou as obras, e fez uma abordagem interdisciplinar conseguiu fazer um bom texto", diz.

Ainda segundo a professora, o tema foi uma boa escolha para dar a liberdade aos candidatos para se aventurarem. "A UnB pede que eles tenham uma boa leitura de mundo. Então, o escritor que optou por falar dos diversos segmentos que onde mulher deve estar: esporte, ciência, ou qualquer outro, como os próprios textos motivadores mostraram se saíram bem", ressalta. Para a professora, o novo modelo de ensino médio, que trabalha o conteúdo interdisciplinar, oportunizou isso. "A molecada teve a oportunidade de ver assuntos relacionados ao tema a partir dos projetos trabalhados em sala com o novo ensino médio", comenta.

Quanto à terceira etapa, realizada ontem, muito do que foi opinado pela professora de língua portuguesa Kelleny Cryss, do Cem 404 (Santa Maria) se viu confirmado. "Como se esperava, a banca cobrou um texto dissertativo-argumentativo. O cebraspe tem essa tradição no PAS. Na maioria das vezes, cobra texto dissertativo (expositivo) para a primeira e a segunda etapas e argumentativo para a terceira etapa", destaca a professora.

Com mais de 18 anos de experiência na área, a professora Kelleny, que está no Distrito Federal há 12 anos, analisou para o Correio, precisamente, o tema apresentado: "Exclusão social, invisibilidade social e preconceito, posicionando-se sobre a relação desses conceitos com a violência".  "O tema é muito pertinente e atual. O estudante precisava conceituar exclusão social, invisibilidade social e preconceito e defender um ponto vista acerca desses conceitos e a sua relação com a violência. Importante salientar que a sequência do texto necessita ser exatamente esta: primeiro traz os conceitos solicitados pela banca, depois faz a relação deles com a violência por meio de argumentos consistentes. É fundamental primar pela coesão e coerência. Observar a sequência desse 'roteiro' trazido na frase temática é essencial para uma boa prova de redação. A banca observa isso sempre", observou.

*Colaborou Ricardo Daehn

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