DESIGUALDADE SOCIAL

Lago Sul tem renda média 143 vezes maior do que a da RA vizinha, o Itapoã

Para fins de comparação, os valores de renda média do Lago Sul correspondem a pouco mais de 19 salários mínimos. Já o ganho médio dos residentes do Itapoã é 7,5 vezes menor do que o salário mínimo atual, estabelecido no valor de R$ 1.212

Talita de Souza
postado em 14/02/2023 17:41 / atualizado em 14/02/2023 17:41
Mirante na Ermida Dom Bosco no Lago Sul -  (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)
Mirante na Ermida Dom Bosco no Lago Sul - (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)

Apontado como o “bairro” mais rico do país em um levantamento feito pela FGV Social, o Lago Sul detém uma renda média 143.92 vezes superior a dos moradores do Itapoã, região administrativa (RA) com menor concentração de renda do Distrito Federal de acordo com a mesma pesquisa. A desigualdade social se agrava ao levar em consideração a localização geográfica das RAs: as duas são praticamente “vizinhas”.

De acordo com o estudo, o Lago Sul é composto por moradores que detém uma renda média de R$ 23.140,90, enquanto a população do Itapoã tem ganho médio de R$ 160,79. Para fins de comparação, os valores do Lago Sul correspondem a pouco mais de 19 salários mínimos. Já o ganho médio dos residentes do Itapoã é 7,5 vezes menor do que o salário mínimo atual, estabelecido no valor de R$ 1.212.

A diferença também é grande ao comparar o patrimônio líquido médio das duas RAs: no Lago Sul, o valor médio é de R$ 1.430.855, enquanto no Itapoã é de R$ 1.168. Mais uma vez, o Lago Sul também se destaca nacionalmente: é o bairro com maior concentração de riqueza patrimonial do país.

“A renda no Lago Sul é R$ 23 mil, que é quase três vezes maior que o município com maior renda do país, que é Nova Lima, na grande BH (Minas Gerais)”, comenta Marcelo Neri, coordenador do estudo. Se a RA fosse um município, estaria no topo da lista dos mais ricos. O pesquisador também relaciona a riqueza com a concentração de funcionários públicos na região. 

Para chegar aos valores, a pesquisa Mapa da Riqueza no Brasil, divulgada nesta terça-feira (14/2) pela FGV Social, considerou as declarações de Imposto de Renda de Pessoa Física (IRPF) de 2020 e comparou com os índices estabelecidos nas pesquisas domiciliares, como a Pnad Contínua do IBGE, para encontrar a renda média populacional atualizada.

Ranking de concentração de riqueza nas 31 regiões administrativas do DF
Ranking de concentração de riqueza nas 31 regiões administrativas do DF (foto: FGV Social/Mapa da Riqueza)

O estudo também registrou a renda média apenas dos declarantes do IRPF, o que criou um cenário com desigualdade social ainda maior. No Lago Sul, os ganhos dos declarantes sobe para R$ 39.535 — na região, 58,53% dos moradores entregaram a declaração.

No Itapoã, a renda média entre os que são obrigados a declarar a IRPF — aqueles que tiveram renda maior que R$ 28.559,70 em um ano (média de R$ 2.379,97 por mês) — é de R$ 3.625. No entanto, apenas 4,44% dos moradores do local declararam o imposto, revelando, de acordo com os pesquisadores do estudo, que a maior parte dos residentes não recebem o suficiente para realizar a declaração.

O Lago Sul também supera com folga os outros vizinhos, até mesmo os que também tem uma renda consideravelmente maior do que a de outras RAs. Região que faz fronteira pelo lado sul, Santa Maria tem renda média de R$ 900,44; pelo lado oeste, a população do Park Way tem ganho médio de R$ 11.054 e Candangolândia de R$ 1.808,60. No lado leste, São Sebastião tem renda de R$ 459,90 e o Jardim Botânico de R$ 12.453,48. Por fim, no lado norte, Brasília registra ganho médio de R$ 11.056,24.

Confira todo o ranking do Distrito Federal aqui.

Top 5 regiões administrativas mais ricas do DF ficam na zona central

Além do Lago Sul, o ranking dos mais ricos do DF é seguido por Lago Norte, com renda de R$ 12.582; Jardim Botânico, com R$ 12.453; SIA (Setor de Indústria e Abastecimento), com R$ 12.348 e Sudoeste/Octogonal, com R$ 11.355.

Onze das 31 regiões administrativas do DF tem renda média menor do que R$ 1 mil: Samambaia registra R$ 991, valor semelhante ao de Santa Maria (R$ 900); Planaltina tem ganho médio de R$ 846 e Ceilândia de R$ 809.

Recantos das Emas (R$ 556) e Riacho Fundo II (R$ 522) ainda possuem renda média que se aproximam à metade de um salário mínimo, porém insuficiente para comprar uma cesta básica completa — que, de acordo com o último levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), custa R$ 728,78.

No Paranoá e em São Sebastião, a renda média é similar, de R$ 478 e R$ 460 respectivamente. Sobradinho II aparece com R$ 247. Outras três RAs têm renda média menor do que R$ 200: SCIA — Setor Complementar de Indústria e Abastecimento, perto da Estrutural — (R$ 193), Varjão (R$ 182) e Itapoã (R$ 161).

Para Marcelo Neri, coordenador do estudo, o Mapa servirá para o governo e organizações da sociedade civil olharem para onde está a riqueza e promover ações que combatam a desigualdade social.

“O estudo usa os dados do Imposto de Renda, que tem capacidade de captar renda dos mais ricos assim como captar patrimônio, coisas que a PNAD contínua e outras pesquisas domiciliares não consegue. Ele permite olhar os fluxos de renda, onde estão os ricos, o que possibilita a melhoria de políticas de cobrança de imposto de renda e de imposto sobre patrimônio, uma reforma tributária”, detalha Marcelo.

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