Obituário

Morre o jornalista Bernardo Scartezini, ex-repórter do Correio

Bernando morreu dormindo em casa, no DF. Conhecido por ser um amante da arte, ele produzia o próprio programa de rádio

Ellen Travassos
postado em 20/02/2023 12:19 / atualizado em 21/02/2023 15:05
 (crédito: Arquivo Pessoal)
(crédito: Arquivo Pessoal)

Morreu, nesta segunda-feira (20/2), o jornalista Bernardo Scartezini, aos 46 anos. Conhecido pela lealdade, inteligência e por ser uma pessoa muito carinhosa, deixa saudades em todos aqueles que tiveram o privilégio de construir memórias ao lado dele. O velório será na Capela 10 do Campo da Esperanca, na Asa Sul, das 9h às 11h dessa terça-feira (21/2).

Repórter habilidoso, seguiu a carreira do pai, A. C. Scaterzini, que foi colunista e editor do Correio e morreu em setembro do ano passado. Bernardo dedicou a carreira à crítica de música, literatura e cinema, mas também deixou a sua marca na política, no esporte e até em produções para jovens e crianças. Na redação do jornal, onde começou como estagiário, acompanhava votações importantes no Congresso Nacional a pedido do então diretor de Redação, Ricardo Noblat.

Mas era nas artes que encontrava sua essência. Escreveu críticas literárias para o caderno Pensar e participou da cobertura de cultura como repórter no Diversão&Arte; assinava o guia dos cadernos Gabarito e Eu, Estudante, com dicas de livros, CD's e DVD's para jovens leitores; também colaborou com o Super!, suplemento do Correio para o público infantil.

Entre coberturas emblemáticas de que fez parte, estão as do Festival de Cinema e shows no Parque de Exposição da Granja do Torto, os 70 anos do Rei Pelé, além de sessões na Câmara dos Deputados. É lembrado por colegas do jornalismo pelo olhar crítico e diferenciado que culminavam no texto brilhante.

Atualmente, Bernardo produzia o próprio programa de rádio, chamado Blood Buzz, em que falava sobre música, indo do pop à música experimental, transmitido pela Radioweb Cult 22.

Formado em jornalismo pela Universidade de Brasília (UnB), além da redação do Correio Braziliense, Bernardo atuou no Jornal do Brasil, Veja Brasília e Metrópoles. Em 2021, ele se formou em Teoria, Crítica e História da Arte.

Saudades

Ao Correio, a mãe de Bernardo, Virgínia Scartezini, 74 anos, falou sobre a dor de perder o único filho, cinco meses depois de perder o marido: "Era meu único filho, meu companheiro, éramos só nós dois. Meus sobrinhos queridos e amigos estão em volta de mim, mas meu filho era único. Estou sozinha."

Ainda sem informações oficiais, amigos próximos acreditam que a causa da morte pode estar relacionada ao coração, pois o jornalista tinha uma arritmia e esteve internado até a semana passada. Todos reforçam que o jornalista deixará saudades. "O Bernardo era maravilhoso, meu melhor amigo, sempre muito atencioso", conta Paola Lima.

O jornalista Hélio Doyle, presidente da EBC, exalta as qualidades de Bernardo. "Bernardo foi um dos meus mais brilhantes alunos, e disse isso ao pai dele, o também jornalista AC Scartezini. Sempre citava uma matéria dele em minhas aulas, a cobertura de uma reunião de comissão da Câmara. Ele deixou de lado a cobertura formal e relatou o jogo de cena que os deputados faziam para ficar bem perante os jornalistas", lembra Doyle.

Cronista do Correio, o jornalista Paulo Pestana reforça a admiração pelo jovem repórter. "Um dos segredos de um bom repórter é saber o que há de novo e o Bernardo tinha sempre uma novidade na ponta da língua. Matou e morreu num filme muito ruim do Afonso Brazza, dando um significado radical ao que se convencionou chamar de jornalismo participativo. Com texto conciso e rico, sabia tudo de música, mas nunca concordou que Charlie Parker era o maior."

Pelo Facebook, o jornalista Marcos Pinheiro também prestou homenagem a Bernardo. Partiu um dos meus melhores amigos. Grande parceiro de programas de rádio, um dos caras mais inteligentes que já conheci. Sabia muito sobre música, cinema, literatura, artes em geral... Um cara brilhante! Fomos colegas de redação no Correio Braziliense, onde o conheci em 1997, trabalhamos juntos nas editorias de Esportes e Cultura", escreveu.

Os dois estavam trabalhando juntos novamento na rádio, no programa de roch Cult 22. "Já tinha sido produtor e apresentador de outros programas, como "Marco Zero" e "Anjos da Noite", que foram ao ar pelas rádios Cultura FM (100,9MHz) e Câmara FM (96,9MHz)", detalhou o jornalista.

"Em março de 2022, começou a produzir e apresentar o "Bloodbuzz", tocando da música pop a experimental, pela Radioweb Cult 22 (www.cult22.com). Hoje, às 20h, irá ao ar o último programa."

Depoimento

(por Ana Maria Campos)

Adeus, Berna!

Berna era um cara incrível. Inteligentíssimo, com um texto delicioso, era culto e tinha um humor na dose certa. Eu conheci o Bernardo Scartezini no Correio Braziliense, onde ele chegou jovem e já ensinando as pessoas sobre reportagem e a escolha das palavras que tornam uma leitura prazeirosa.

Ficamos amigos e trabalhamos juntos também no Jornal do Brasil. Foi numa época muito bacana do JB, quando o impresso estava em mais uma das várias fases de renovação, no início dos anos 2000. Eu era repórter da cobertura política e Bernardo foi convidado para migrar da cultura para o Congresso e a Esplanada, com a missão de colocar em textos seu estranhamento de um mundo onde os interesses públicos muitas vezes ficam em segundo plano.

Ele fez muitas matérias críticas sobre o dia a dia de deputados, senadores e ministros. Mostrava com sagacidade os métodos dos políticos conflitantes com seus discursos. Mostrava fatos que muitas vezes passam batido pelos repórteres comuns.

Berna dizia: “Ana, não consigo fazer fontes entre políticos. Sempre que entrevisto alguém, acabo criando uma birra quando a matéria sai no dia seguinte”. Mas certamente ele era adorado pelos leitores e fez muitos admiradores.

Eu era uma delas. Ele me ensinava muita coisa. Entendia tudo de cinema e música. Bernardo passava para me pegar para darmos uma volta e conversar. Ele agia como se fosse mal-humorado e rabugento, mas, no fundo, era doce e tinha um grande coração. Era dono de um sorriso meio tímido.

Nos últimos tempos, nós nos afastamos pelas voltas que a vida dá. Há anos não nos falávamos. Hoje (ontem) tomei um susto quando soube de sua partida. Fica aquela sensação de que ele tinha muita vida pela frente. E eu poderia tê-lo aproveitado mais. Vai com Deus, Berna!

 

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  • Bernardo se dedicou à crítica de música, literatura e cinema
    Bernardo se dedicou à crítica de música, literatura e cinema Foto: Arquivo Pessoal
  •  19/02/1999. Crédito: Ronaldo De Oliveira/CB/D.A Press. Brasil. Brasília - DF. Bernardo Scartezini, repórter do Correio Braziliense.

      Caption
    19/02/1999. Crédito: Ronaldo De Oliveira/CB/D.A Press. Brasil. Brasília - DF. Bernardo Scartezini, repórter do Correio Braziliense. Caption Foto: Ronaldo de Oliveira/CB/D.A Press
  • Bernardo em participação especial dos 31 anos do programa Cult 22
    Bernardo em participação especial dos 31 anos do programa Cult 22 Foto: Arquivo Pessoal
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