Racismo

Professora não enxerga racismo em atitude de aluno que entregou esponja de aço

Edmar Sônia, 48, viu o gesto mais como um empoderamento machista e revelou não pretender, até o momento, registrar um boletim de ocorrência contra o estudante

Naum Giló
postado em 15/03/2023 16:09 / atualizado em 15/03/2023 23:33
A professora Edmar Sônia, 48, não pretende registrar boletim de ocorrência contra aluno que lhe
A professora Edmar Sônia, 48, não pretende registrar boletim de ocorrência contra aluno que lhe "presenteou" palha de aço no Dia Internacional das Mulheres - (crédito: Mariana Lins )

Após a repercussão do vídeo em que recebe de “presente” um pacote de esponja de aço, a professora de português Edmar Sônia, 48, decidiu falar sobre o ocorrido que tem gerado polêmica e revolta entre internautas e chamado atenção de autoridades, como a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF).

Na manhã desta quarta-feira (15/3), a educadora conversou com o Correio sobre o que pensa sobre a atitude do estudante e revelou estar mais assustada com a proporção que o vídeo tomou do que com o episódio em si. “Hoje, eu fiquei sabendo que um jornalista francês tentou entrar em contato comigo para falar sobre o ocorrido”, revela a docente, que teve a história amplamente transmitida no noticiário nacional.

Apesar do gesto reprovável, Edmar conta que, até o momento, ela vem mantendo uma relação “satisfatória” com os alunos do Centro de Ensino Médio (CEM) 09 de Ceilândia, onde foi feita a gravação, incluindo o adolescente que lhe deu o presente ofensivo. “Não houve um conflito. Foi uma manifestação repentina comigo. Não consigo pensar que aquilo foi algo pensado para acontecer comigo”, confessa a professora.

Na conversa com a reportagem, ela não conseguiu confirmar a versão de que o “presente” teria sido oferecido anteriormente à namorada do estudante, que não o aceitou e não é negra, segundo o que foi informado por outro funcionário da instituição.

No entanto, Edmar conta que não vê racismo explícito no gesto do aluno, mas que, talvez, o preconceito estaria oculto. “Eu enxerguei mais como uma forma de empoderamento machista, mas entendo que, para outras pessoas, isso deve ter doído nesse lugar da raça”, pondera.

Edmar é professora há 17 anos e começou a lecionar no CEM 09 este ano. Ela conta que não sofreu episódios de racismo ao longo da vida, tanto dentro quanto fora da sala de aula, mas o fato de ser mulher já a fez ouvir muitos comentários e piadas desagradáveis. “Já tive que aguentar falas nos diminuindo e criticando nossas condutas no trânsito, por exemplo”, lamenta.

Até o momento, a professora não pretende registrar um boletim de ocorrência contra o estudante. Contudo, mesmo sem querer oficializar denúncia por injúria, a Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA) 2 (Taguatinga) já instaurou procedimentos para investigar o fato ocorrido na sala de aula. O delegado chefe adjunto da unidade, Flávio Messina, explicou para o Correio que quando há infração envolvendo menores de idade, a polícia pode empreender investigação mesmo sem a denúncia da vítima.

Se o caso for para a Justiça, a depender do entendimento do juiz, o adolescente, se culpado, pode sofrer medidas socioeducativas, que podem ser uma advertência, obrigação de reparar o dano, prestação de serviços à comunidade, liberdade assistida, inserção em regime de semiliberdade ou internação em estabelecimento educacional.

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