SAÚDE

Câncer e doenças cardiovasculares atingem cada vez mais os jovens

Em entrevista ao programa 'CB.Saúde', o oncologista Nilson Correia explica sobre o câncer de pulmão e como o tabagismo pode afetar a saúde

Maria Eduarda Maia*
postado em 02/06/2023 06:00
 (crédito: Mariana Lins )
(crédito: Mariana Lins )

O Dia Mundial Sem Tabaco, que ocorreu em 31 de maio, tem como objetivo alertar sobre os malefícios que o cigarro pode levar para a saúde do indivíduo. Com isso, o câncer de pulmão foi tema do CB.Saúde — parceria entre Correio e TV Brasília — desta quinta-feira (1°/6). Com a apresentação de Carmen Souza, o oncologista da Oncoclínicas Brasília, Nilson Correia, falou sobre o câncer de pulmão e as consequências do tabagismo.

Estimativa feita pelo Inca mostra que, anualmente, no Brasil, há 48 mil mortes por cânceres associados ao cigarro, em um universo de 160 mil óbitos relacionados ao tabagismo. Como o cigarro age no corpo das pessoas?

Isso depende da carga tabágica e exige uma predisposição individual. Então, o mesmo tumor pode ter comportamento diferente de um indivíduo para o outro. A carga tabágica, quanto mais você fuma e por um período maior aumenta a probabilidade de você desenvolver um câncer. Fora isso você tem os fatores que são somatórios e que potencializam isso, por exemplo, o tabagismo e o álcool, então você aumenta muito mais o risco, tanto de um câncer no estômago, quanto de garganta. Fora isso, também, se tiver uma vida sedentária, obesa, dieta hiperproteica hipercalórica, não ter uma boa noite de sono, na verdade, não ter uma rotina.

A quais riscos uma pessoa que fuma, está sendo tratada contra um câncer e não consegue largar o cigarro está submetida?

O que se sabe é que a peça extensa do tabagismo, mesmo após o diagnóstico, tem o pior prognóstico. Existem vários trabalhos, inclusive alguns que vão ser apresentados na Asco — maior congresso oncológico do mundo que será realizado na California (EUA) —, este ano, que mostram alguns tipos de tumores, por exemplo, o câncer renal, que quando tem relação com cigarro, se você continuar fumando, vai ter sua expectativa de vida menor do que você cessar o tabagismo. O paciente que cessa o tabagismo tem 85% de chance de ficar livre de doença por um período prolongado, contra 50% dos pacientes que continuam fumando. O paciente que tem câncer e está tratando, terá efeito na imunidade, ele vai adoecer mais, terá risco de pneumonia e os sintomas relacionados ao câncer também pioram.

Estamos diante de um novo problema: o cigarro eletrônico levar ao aumento do uso do cigarro comum. Qual a opinião do senhor sobre isso?

O cigarro eletrônico pode ser considerado até pior do que o convencional. Ele tem a quantidade alta de nicotina, alguns trabalhos mostrando até 30 vezes mais nicotina do que um cigarro comum. Às vezes, até o usuário pode dizer "eu não vou consumir tudo de uma vez", mas você não tem controle disso, aquilo fica no bolso e você fica toda hora tragando, então a quantidade de nicotina que você acaba absorvendo é muito maior. Trabalhos mostram que mesmo em adolescentes, quando se dosa a nicotina na urina, a taxa é muito alta e se assemelha a um grande fumante.

Faz sentido imaginar, então, que haverá um aumento de casos de cânceres pelos cigarros eletrônicos?

Sim, nós já vemos um risco de doenças cardiovasculares ocorrendo, mais jovens tendo problemas de AVC (acidente vascular cerebral), infarto em jovem e as alterações cerebrais que diminuem a microcirculação cerebral, provocam isquemia, aumento de pressão, mas temos maiores níveis de pacientes com alterações que são chamadas de cognitivas — redução na capacidade de concentração, memória, processamento de informação, tornando mais lento e com dificuldade de aprendizagem do jovem que inicia cedo com esses dispositivos.

Podemos dizer que esses dispositivos podem estar ligados a outros tipos de tumores, não só nos pulmões?

Com certeza, o principal fator que tem relação com o câncer, a nicotina, está presente em quantidade maior, então, no futuro, eu acredito, vai voltar a ter crescimento, porque o câncer de pulmão vinha reduzindo por causa das campanhas de combate ao tabagismo e vinha reduzindo a incidência, mas não a mortalidade. Alguns tumores começaram a aumentar e talvez no futuro até ultrapasse o câncer de pulmão, como o câncer de pâncreas.

Quais são os sintomas e os sinais de alerta de que o pulmão e o sistema respiratório estão funcionando bem?

Quem fuma tem indicação a partir dos 40 anos de fazer uma exame de rotina do pulmão, chamado de tomografia de baixa dose para rastrear o câncer de pulmão. É um exame simples e rápido. O sintoma mais comum para pulmão é a tosse, e muitas vezes fica difícil identificar por conta do cigarro. Se tiver alteração de frequência, no meio da tosse, já tem que desconfiar, junto com isso pode ter também de tosse com um pouco de sangue — chamado de hemoptoico —, fraqueza, emagrecimento, fadiga. São sintomas de fase inicial. Já na fase mais avançada, aí começam as dores relacionadas ao crescimento do tumor.

Semana que vem acontecerá o maior congresso de oncologia do mundo. Teremos boas notícias?

Tem um medicamento que pacientes que tiveram câncer de pulmão e tomam aquele determinado medicamento por um período de três anos, com risco muito pequeno e uma taxa de cura alta, tem redução que é superior a 80% do risco de progressão do tumor. Para se ter ideia, 70% de ter uma recaída. A maioria dos cânceres de pulmão mesmo operados recaem. A maioria das recaídas são em dois anos, mas esse risco não diminui com o tempo, pois a célula tumoral pode ficar adormecida ali.

*Estagiária sob supervisão de Suzano Almeida

 

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