Dia Mundial da Bicicleta

Projeto quer tornar vias urbanas e rurais mais seguras para ciclistas

Segundo dados preliminares do Detran, de 2012 a 2022 morreram 256 ciclistas em acidentes de trânsito

José Augusto Limão*
Raquel Lima*
postado em 03/06/2023 06:00
Ebinete Leite da Silva, é ciclista há 6 anos. O morador de Planaltina anda diariamente pelas vias do DF  -  (crédito: Arquivo pessoal)
Ebinete Leite da Silva, é ciclista há 6 anos. O morador de Planaltina anda diariamente pelas vias do DF - (crédito: Arquivo pessoal)

Pedalar é uma atividade que, além de contribuir para a mobilidade urbana sustentável, oferece inúmeros benefícios ao corpo humano. Pensando nisso, para promover o uso da bicicleta no dia a dia de diferentes pessoas, 3 de junho foi instituído como o Dia Mundial da Bicicleta, em 2018, pela Assembleia Geral das Nações Unidas. Segundo dados preliminares do Departamento de Trânsito do Distrito Federal (Detran-DF), de 2012 a 2022, 256 ciclistas morreram em acidentes de trânsito no Distrito Federal.

Buscando adequar a velocidade em áreas urbanas, o projeto Vias Seguras da União dos Ciclistas do Brasil (UCB) está em discussão na Câmara dos Deputados. Diretora financeira da UCB, Ana Carboni espera que a tramitação do projeto de lei seja realizada de forma rápida, mas entende que o tema precisa ser discutido mais profundamente. "As pessoas precisam observar que isse é algo que vai ser positivo para todo mundo. O custo das mortes e lesões no trânsito é bastante alto", pontua.

O PL 2789/2023 foi protocolada pelo deputado federal Jilmar Tatto (PT-SP), que altera a Lei nº 9.503 que institui o Código de Trânsito Brasileiro (CTB), modificando o Artigo 61, que determina as velocidades em vias urbanas e rurais, o Artigo 218, que estabelece a fiscalização de velocidades e o Artigo 280, que prevê as autuações por excesso de velocidade. Ana Carboni frisa que a UCB está bem próxima do governo para que possam efetivar esse plano. "A ideia é realizarmos esta mudança no CTB, para que consigamos também trabalhar em como estabelecer velocidades em vias, onde há o trânsito de veículos e pessoas", salienta.

A representante do UCB expõe que a alta velocidade é diretamente responsável pela causa e agravamento de colisões no trânsito. "Quanto maior a velocidade, maior a gravidade de todas as pessoas envolvidas. O campo de visão periférico do motorista também é reduzido nesses momentos", revela.

  • Ebinete Leite da Silva, é ciclista há 6 anos. O garçom costumar andar em trilhas para fugir dos riscos do trânsito Arquivo pessoal
  • Ebinete Leite da Silva, é ciclista há 6 anos. O ciclista diz que é preciso mais ciclovias para dar maior segurança a todos Arquivo pessoal
  • Ebinete Leite da Silva, é ciclista há 6 anos. O morador de Planaltina anda diariamente pelas vias do DF Arquivo pessoal
  • Amigos e familiares em homenagem ao ciclista Cláudio Mariano de Souza, atropelado em fevereiro de 2017 Arquivo Pessoal
  • As ghost bike representam ciclistas que morreram em acidentes de trânsito Arquivo Rodas da Paz
  • Grupo de ciclistas do Rodas da Paz Arquivo Rodas da Paz
  • Ciclistas se reúnem para homenagear companheiro morto em via do DF Arquivo pessoal

Mortes

De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde de 2018, ferimentos associados ao trânsito representam a oitava causa de morte no mundo e a primeira entre crianças e jovens de 5 a 29 anos. Só no Brasil são mais de 30 mil mortos todos os anos. "Pedestres e ciclistas são as principais vítimas dessa realidade. É urgente que o poder público tome iniciativas para proteger essas vidas. Trata-se de uma pauta de saúde pública", cita a diretora financeira do UCB.

Em 2017, Cláudio Mariano de Souza, à época com 69 anos, morreu em um acidente de trânsito. A motorista envolvida foi absolvida em 2020. Para a justiça o acidente "ocorreu por culpa exclusiva da vítima". Marília Rodrigues de Sousa, 41, sobrinha de Cláudio, relata que câmeras de segurança evidenciam que seu tio tomou todos os cuidados no momento do acidente. "Historicamente no DF é uma cidade onde o ciclista já é tratado como culpado e não como vítima. Mesmo quando ele perde a própria vida, e surreal", lembra.

A bancária diz que atualmente tem trauma de andar de bicicleta em alguns locais do DF, e prefere se deslocar de carro até parques. "Meu tio cresceu com a bicicleta sendo seu meio de transporte, ele tinha muita experiência. Por não andar todo equipado como uma atleta, muitas pessoas julgam e não respeitam. Ele andava de segunda a segunda", alega.

Promovendo a convivência pacífica entre motoristas, ciclistas e pedestres, o Rodas da Paz luta pela integração das ciclovias do DF. "As pessoas pensam que as ciclovias são medidas por quilômetros, mas não, um sistema cicloviário é medido pela segurança que o ciclista tem de transitar nos seus destinos rotineiros, então um sistema cicloviário, ele pode ser considerado bom quando andar de bicicleta é tão seguro quanto andar de carro numa cidade", afirma Ana Júlia Pinheiro que faz parte da coordenação do Rodas da Paz.

Estilo de vida

A bicicleta é um transporte de baixo custo, que previne o desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis e que têm relação direta com sedentarismo, com a obesidade, hipertensão e doenças cardiovasculares. "O ciclismo é um esporte mas não é a única forma de uso da bicicleta, o brasiliense a utiliza para lazer, transporte e alguns são ciclistas. Além da vantagem de ser um veículo que não gera poluição, é eficiente no horário de engarrafamentos e garante ao usuário melhor qualidade de vida", aponta a coordenadora.

Pedalando diariamente há quase seis anos, Ebinete Leite da Silva, 41, expõe as dificuldades que enfrenta para trafegar pelas áreas urbanas do DF. "Temos poucos quilômetros de ciclofaixas aqui na região norte. Antes, eu ia até o Lago Sul de bicicleta. Eu hoje evito por causa da violência no trânsito", pondera. O garçom conta que para fugir dos perigos das vias urbanas acabou optando por andar em trilhas na natureza, "Tendo essas extensões das ciclofaixas vai melhorar muito nossa vida."

*Estagiários sob a supervisão de Suzano Almeida

 

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