Trânsito

Faixas de pedestres apagadas oferecem risco à população nas ruas do DF

Motoristas e transeuntes reclamam de pintura danificada e pouca manutenção da sinalização nas faixas de pedestres de algumas vias. Detran-DF informa que mais de 60% delas foram revitalizadas com pintura ou lavagem

Pedro Marra
postado em 07/06/2023 07:00 / atualizado em 09/06/2023 08:38
 (crédito:  Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
(crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

Orgulho dos brasilienses, a faixa de pedestre ganhou protagonismo nas vias do Distrito Federal pela campanha de conscientização Paz no Trânsito, lançada em 1996. Essa cultura do respeito ao sinal de vida, entretanto, tem sido prejudicada com os equipamentos de segurança apagados e esburacados em várias regiões da capital do país. 

Na QNM 17 de Ceilândia Sul, uma faixa de pedestres apagada em frente ao Hospital Regional de Ceilândia (HRC) e próxima à Coordenação Regional de Ensino da região gera indignação. O dono de quiosque Werley Vieira Silva, 41 anos, argumenta que a região tem um fluxo diário de crianças e adolescentes que usam o equipamento sem segurança. "Pedimos há mais de um ano para o governo melhorar as condições. Ligamos na administração regional, registramos boletim de ocorrência e reclamamos com o Detran, que fala que vai fazer a manutenção, mas nada ocorre", desabafa.

Dono de um quiosque na QNM 17, Werley Vieira Silva, 41, reclama de faixa apagada com fluxo de estudantes e pais
Dono de um quiosque na QNM 17, Werley Vieira Silva, 41, reclama de faixa apagada com fluxo de estudantes e pais (foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

Werley também comenta que a pouca educação de trânsito entre condutores e pedestres ainda é um obstáculo. Ele conta que alguns motoristas buzinam quando uma pessoa para em frente à faixa para ultrapassar a via. "Já teve vários acidentes de carros batendo na traseira do outro e até de cadeirante parar em frente a faixa por três minutos até os veículos pararem. Eles não veem que tem a sinalização e acham que são pessoas folgadas esperando a passagem", detalha.

Faixa esburacada

O problema de visualização da faixa é pior em uma via na altura da QE 32 do Guará 2, por onde dirige o entregador Daniel Aquino Fogaça, 23. Segundo ele, além da tinta apagada, a faixa está esburacada e prejudica ambas as partes. "Faz sete anos que moro aqui e nunca vi pintarem essa faixa. Isso é ruim porque nós, condutores, não vemos a faixa muito bem e eles dependem dos veículos para ultrapassarem a faixa em segurança", avalia.

 01/06/2023. Crédito: Mariana Lins/Esp.CB/D.A Press.Faixas de pedestre apagada-Guará,Na foto Daniel Aquino.
01/06/2023. Crédito: Mariana Lins/Esp.CB/D.A Press.Faixas de pedestre apagada-Guará,Na foto Daniel Aquino. (foto: Mariana Lins/Esp.CB/D.A Press)

Daniel lembra de uma ocasião em que presenciou uma colisão entre dois veículos. "Eu e meu irmão demos o sinal de vida e o carro de trás bateu no que estava na frente. Isso deixa a vida dos pedestres em perigo", completa o condutor. Por pouco, os dois não tiveram o mesmo destino do homem, de 34 anos, que morreu após ser atropelado por uma moto, ao atravessar a faixa na Avenida Contorno, do Guará 2, na altura da QE 34, próximo à rotatória de entrada da região. O acidente com morte aconteceu na véspera do aniversário de 26 anos da campanha de respeito à faixa de pedestres em Brasília. Um motociclista, entregador de comida por aplicativo, sem idade revelada, ultrapassou o sinal vermelho e atingiu a vítima.

A comerciante Janaína Alves, 47, também mora na região e confessa que, se não fosse a placa de sinalização indicando a existência da faixa de pedestres no local, ela não estaria atenta. “Os condutores também são muito imprudentes e andam acima da velocidade permitida da via, de 60km/h, o que gera bastante imprudência. E há alguns pedestres que dão o sinal de vida e já entram na faixa, quando o ideal é esperar os veículos pararem. O ideal é todos terem mais calma”, opina.

Janaína reconhece que passa por faixas de pedestres na região mais de carro do que a pé, e vê poucas em bom estado de conservação. “Para quem dirige é péssimo porque tem buracos em algumas e outros condutores dirigem colados aos outros carros. Tanto que, quando vou frear, olho se tem alguém atrás. Se dirigem rápido, fica mais propício a acidentes”, complementa.

Para se evitar esse tipo de situação, a professora de segurança no trânsito do programa de Pós-Graduação em Transportes na Universidade de Brasília (UnB) Michele Andrade explica que uma cidade não ter as faixas adequadamente visíveis para o motorista coloca os pedestres em uma situação de risco maior. "Temos faixas posicionadas em locais com velocidade muito alta, acima do permitido em vias de 60 km/h. Se essa faixa está apagada, a gente potencializa o risco de morte do pedestre por atropelamento por não ter uma visibilidade adequada", analisa.

Coordenadora do grupo de pesquisa em segurança viária da UnB, ela cita que, em 2019, antes da pandemia de covid-19, alguns estudos indicavam queda na desobediência ao equipamento de segurança. "É muito importante a realização de ação conjunta para a manutenção das faixas, fazer o planejamento das ações de fiscalização e intensificar a comunicação a respeito da importância da obediência da faixa de pedestres. Com isso, a importância de se respeitar a faixa de pedestre fica mais viva na mente das pessoas", afirma Michele Andrade.

Faixa de pedestres apagada na Rua 4 de Vicente Pires
Faixa de pedestres apagada na Rua 4 de Vicente Pires (foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

Manutenção

Ao Correio, o Departamento de Trânsito do Distrito Federal (Detran-DF) explicou que, das mais de 4,3 mil faixas de pedestres, 2.157 foram revitalizadas com pintura no ano passado. Existe, ainda, o serviço de lavagem das faixas, que começou em 2022 e é utilizado, principalmente, no período da seca, quando há acúmulo de sujeira e resíduos. "Esse serviço é inédito entre os Detrans, sendo o Detran-DF pioneiro", complementa o órgão, destacando que 531 foram lavadas. Os dois serviços totalizam 2.688 restaurações, o que representa mais de 60% das faixas.

Marcus Vinicius Barros, 25, cobra pintura em faixa de pedestre
Marcus Vinicius Barros, 25, cobra pintura em faixa de pedestre (foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

O gerente de um bar da QNA 38 de Taguatinga Norte, Marcos Vinícius Barros, 25, porém, denuncia que a faixa de pedestres em frente ao estabelecimento está totalmente apagada para o condutor. Ele identifica a má qualidade da tinta utilizada, que, segundo ele, dura por aproximadamente três meses. "Parece que não é uma tinta de boa qualidade, que não dura muito. O real problema acaba sendo a insegurança do pedestre, que fica a mercê da boa vontade do condutor do veículo", opina. "É uma via entre quadras, com uma academia na esquina e comércios em volta. Em decorrência disso, os pedestres sofrem porque a manutenção é recorrente, mas sem eficácia. Em um mês, a tinta apaga. Deveriam rever a forma como pintam", critica o comerciante.

O Detran-DF reforça que a ação de revitalização das faixas corresponde à pintura das faixas brancas horizontais no chão e à troca, caso necessário, da placa vertical. Também são incluídas melhorias na sinalização em quebra-molas, faixas de retenção em cruzamentos e reinstalação de placas de advertência e de regulamentação. "Para se fazer a pintura, o asfalto precisa estar seco por, pelo menos, 24 horas. Por isso, em períodos de chuvas intensas, o serviço fica uma pouco mais lento", conclui a nota enviada pela autarquia à reportagem.

A população pode solicitar a instalação ou manutenção de faixas de pedestres pessoalmente nas unidades do Detran-DF, ou pelos canais da Ouvidoria pelo site, telefone 162 ou por meio das administrações regionais.

 

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