Saúde

Pacientes com câncer levam até 6 meses para consulta na rede pública

Apesar da Lei Federal Nº 12.723 de 2012 determinar que, a partir de um diagnóstico de câncer, a pessoa tem o direito de se submeter ao primeiro tratamento no SUS, no prazo de até 60 dias, alguns aguardam há mais de seis meses para a primeira consulta

Darcianne Diogo
postado em 07/06/2023 17:37 / atualizado em 07/06/2023 17:45
Fila de espera leva até seis meses -  (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)
Fila de espera leva até seis meses - (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)

Pacientes em tratamento contra o câncer relatam demora para conseguir atendimento nos hospitais da rede pública de saúde do Distrito Federal. Apesar da Lei Federal Nº 12.723 de 2012 determinar que, a partir de um diagnóstico de câncer, a pessoa tem o direito de se submeter ao primeiro tratamento no Sistema Único de Saúde (SUS), no prazo de até 60 dias, há aqueles que aguardam há mais de seis meses para a primeira consulta. Atualmente, um total de 627 pessoas esperam para consulta em oncologia clínica na capital, segundo informou a Secretaria de Saúde (SES-DF).

O aposentado Luiz Alves, 68 anos, é um dos pacientes que está há mais de seis meses na espera por uma consulta. Por quatro vezes, ele conseguiu agendar, mas relata que, quando vai ao hospital na data marcada, é informado sobre a ausência dos profissionais de saúde. Luiz descobriu o câncer de próstata em 2021 e conseguiu operar em 2022, mas precisava retornar ao médico. “O doutor recomendou a consulta até para saber se vou precisar de quimioterapia ou não. A gente fica sem saber o que fazer. Já fui quatro vezes e em todas elas falam que não tem médicos”, diz.

Para Luiz, a situação representa um descaso com a sociedade. “O governo tem que prover o mínimo, que é a saúde, segurança e educação. Tem equipamento, tem hospital, mas não tem médico. Se o governo não fizer essa prevenção, ele vai gastar o dobro mais à frente. Entrei na ouvidoria para ver se consigo um retorno”.

Sob condição de anonimato, um médico da rede pública do DF desabafou e disse ao Correio que a situação é preocupante e caótica. “Basicamente, os pacientes inseridos na fila de oncologia clínica são categorizados de acordo com o médico ou o funcionário da SES em cor vermelha, que é emergência, ou seja, o paciente precisa passar rápido. Ou amarelo, que é urgência, e a verde, que é uma situação em que não é obrigatório que a consulta seja rápida. Acontece que, depois de um tempo, quando o verde demora dois meses, automaticamente era para ele virar vermelho porque entra como uma urgência, uma vez que já passou dos 60 dias”, explica.

O profissional de saúde explica que a demora nas consultas para pacientes categorizados como vermelho ou amarelo chega a ser de 80 a 90 dias. “Está uma situação calamitosa. No estado de Goiás, um paciente que mora no que é inserido na fila de Goiás, em três semanas, ele está lá em Goiânia”, afirmou.

Casos


Uma paciente que aguardava pelas sessões de quimioterapia no DF precisou iniciar o tratamento pela Secretaria de Saúde do Estado de Goiás (SES-GO), em Anápolis. Só depois de três ciclos, o equivalente a quase dois meses, ela foi chamada pela SES-DF. O caso é semelhante a uma outra mulher diagnosticada com câncer de laringe. Ela não conseguiu vaga pelo SUS no DF e foi para Barretos, em São Paulo. Após um tempo, foi chamada no DF e precisou entrar novamente na fila.

A reportagem questionou a SES-DF. Por nota oficial, a secretaria respondeu que os dados abrangem pessoas já com o diagnóstico de câncer. De acordo com a pasta, em 2022, foram 3.877 consultas agendadas, e em 2023 foram 1.328 consultas agendadas.

No ano passado, foram realizados um total de 47.264 procedimentos de quimioterapia na rede pública de saúde do DF, segundo informou a pasta. Neste ano, entre janeiro e março, o número foi de 15.744. Em relação aos 627 pacientes que aguardam consulta em oncologia clínica, a secretaria disse que nem todos os pacientes são candidatos à quimioterapia.

Na capital, os hospitais que disponibilizam tratamento oncológico são: Hospital de Base (HBDF), Hospital Regional de Taguatinga (HRT), Hospital Universitário de Brasília (HUB) e Hospital da Criança de Brasília (HCB). 

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