Luto

"Deixa um vazio imenso": amigos e ex-alunos homenageiam Luiz Gonzaga Motta

Também conhecido como Baga, Luiz Gonzaga Motta morreu nesta sexta (9/6), vítima de um infarto fulminante em casa, enquanto caminhava pelo jardim

Yasmin Rajab
postado em 09/06/2023 16:51
 (crédito: Acervo pessoal)
(crédito: Acervo pessoal)

O jornalista e professor de Comunicação, Luiz Gonzaga Motta, será lembrado com memórias de afeto e gentileza por ex-alunos e ex-colegas de trabalho. O ex-secretário de Comunicação e professor da Universidade de Brasília (UnB), morreu na manhã desta sexta-feira (9/6).

Um dos ex-alunos de Baga (como era conhecido), foi o atual presidente da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), Hélio Doyle. Ele relembra com carinho o momento em que se conheceram e a convivência que tiveram ao trabalharem juntos. 

"Fui aluno do Baga (depois virou Motta) quando ele veio para a UnB, em 70 ou 71. Ficamos amigos. Hospedei-me na casa dele em Madison. Depois fomos colegas na FAC e trabalhei com ele na Ema Vídeo. Tivemos um leve estremecimento quando ele assumiu a Secom do Cristovam, quando Motta e eu fomos demitidos pelo governador, mas depois superamos isso. Dei entrevista a ele para o livro sobre o Zé Oscar e fui no lançamento. Lamento muito, estava ativo e produtivo", disse Hélio. 

Márcia Abrahão, reitora da UnB, conheceu Luiz Gonzaga em 2008. Ela afirma que o jornalista sempre a inspirou. Para Márcia, Motta deixa importante legado. 

"Conheci o professor Luiz Gonzaga Motta, em 2008, quando eu era decana de Ensino de Graduação, e ele, o secretário de Comunicação da UnB. Ele era também importante conselheiro do Reitor Roberto Aguiar e, depois, do Professor José Geraldo. Tornou-se meu amigo e conselheiro também. Sempre me inspirou e guiou os meus passos desde então. Sem dúvida, um dos grandes legados que o Baga, como era carinhosamente chamado, deixa para a Universidade é a revista Darcy, de jornalismo científico e cultural, que ele ajudou a criar em 2009 e da qual foi editor e um entusiasta permanente. Desde que assumi a reitoria, fiz questão de manter a publicação da Darcy pela importância que essa iniciativa tem, tanto para a comunidade acadêmica quanto para a sociedade em geral. Motta deixa um exemplo de dedicação ao exercício do jornalismo e ao ensino da narrativa jornalística. E para nós, amigos do Baga, deixa um vazio imenso", lamentou. 

Renata Giraldi também foi aluna de Motta. A jornalista relembra o jeito do professor e o apelido no qual era conhecido: Baga. Apesar de odiar o nome, era chamado carinhosamente pelos amigos assim. 

"Luiz Gonzaga Motta, o Baga, que odiava o apelido, era do tipo que te conquista de cara: jeitão mineiro, apreciador de pássaros e flores, tranquilo, gente boa e de um humor finíssimo. Dele, guardo a melhor das recordações. Foi pelas mãos dele que ingressei na vida acadêmica, jornalistona de redação, achava que pesquisa era igual reportagem... Ilusão, foi ele com manha e técnica que me ensinou que não era bem assim.

Mestre dos mestres, super gentil, Motta era desse jeito: “Veja bem, o que você acha de ir por este caminho? Pense bem, gosto deste autor, veja o que você acha”. Jamais impunha, nunca criticava, guiava, sugeria, instruía e orientava. Era um professor nato, sem nunca ter deixado de ser jornalista.

Do nada, Motta me ligava e falava: “Você leu isso? De onde tiraram essa informação? Quem é a fonte?”. Um curioso nato, parecia jamais estar satisfeito com o saber. Transmitia isso para todos os orientandos, insistia que a pesquisa era eterna, que o ponto, era somente o encerramento de um ciclo e o início de um novo.

Assim, com uma dor imensa, imagino que Lá de Cima, meu Mestre e Sempre Amigo, Motta estará fotografando os pássaros, registrando os sons mais diferentes e as flores mais lindas. Mas não aguentará: vai ficar dando palpitada no noticiário e repetindo: “Política é uma grande novela, presta atenção”.

Só queria que, agora, a vida fosse uma novela e que a notícia da sua partida tivesse sido um grande equívoco para que logo, aparecesse por aqui, novamente, com aquele bigodão e sorriso largo, fazendo aqueles comentários agudos e pontuais... Por sorte, os amigos nunca se separam, há uma ligação inexplicável entre e a memória e o amor que mantém o vínculo mesmo quando aparentemente ele se rompe", disse. 

Cristovam Buarque, ex-ministro da Educação, conheceu Baga na UnB, no início dos anos 80. Foi durante sua gestão que o professor atuou como secretário de Comunicação, entre 1995 e 1999. 

"Conheci o Baga ainda na universidade de Brasília, como colega, no início dos anos 1980. Convivi com ele em atividades políticas durante as lutas pelas diretas e pela autonomia política do DF, e também para a eleição direta de reitor. Sobretudo, nossa convivência maior foi quando ele foi meu secretário de Comunicação durante o 'governo democrático e popular', entre 1995-1999. Devemos a ele ter levado a ideia da Bolsa Escola e dos outros programas do governo do DF para o Brasil e até mesmo para o mundo. Dificilmente a Bolsa Escola teria sido adotada pelo governo FHC, para todo o Brasil, se não fosse o trabalho competente de comunicação social do Luiz Gonzaga, nosso Baga. Por tudo isto, a morte dele é uma perda pessoal para mim e para todo o DF, especialmente para centenas de ex alunos que ele ajudou a formar. Estamos todos de luto."

Em longa nota, a Direção da Faculdade de Comunicação (FAC) da Universidade de Brasília (UnB), relembrou a história de Luiz Gonzaga Motta, os diversos trabalhos que realizou ao longo da vida, especialmente na educação superior da instituição. Leia na íntegra:

"Diante do falecimento do professor e jornalista Luiz Gonzaga Figueiredo Neto, ocorrida hoje, 09 de junho, em Brasília, a Direção da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília (FAC-UnB) vem a público externar solidariedade aos familiares (esposa Rosana, filhos Max, Pedro, Joana e netos), aos amigos e às e aos estudantes formadas e formados pelo professor Motta. Como nos relembra o professor Murilo Ramos, ex-diretor da FAC-UnB e contemporâneo de Motta na UnB, Motta foi um dos professores da geração que reconstruiu o curso de Comunicação da FAC-UnB, depois do curso quase ter sido encerrado nos anos 1960. Também a partir das palavras do professor Fernando Paulino, atual presidente da ALAIC (Associação Latino-Americana de Investigadores da Comunicação) e ex-diretor da FAC, relembramos o papel primordial do professor Motta na idealização e criação da ALAIC nos anos 1980. A própria ALAIC registra homenagem a Motta neste vídeo.

Motta também foi Secretário de Comunicação da UnB, Secretário de Comunicação do Governo do Distrito Federal e referência nacional e internacional nos estudos sobre narrativas jornalísticas, tendo formulado e implementado metodologias inovadoras a respeito. Na FAC-UnB, Motta foi docente, pesquisador, Coordenador do Programa de Pós-Graduação e Vice-Diretor da Faculdade, dentre outras funções e papéis relevantes. O próprio PPG emitirá uma Nota específica para registrar tal contribuição no campo da Pós-Graduação. Ainda na UnB, Motta foi o idealizador e criador da Revista Darcy, uma revista que sedimentou no jornalismo científico. Também na UnB atuou no NEMP (Núcleo de Estudos em Mídia e Política), espaço no qual formou gerações de pesquisadoras e pesquisadores hoje presentes em diversas entidades, a exemplo da Compolítica (Associação Brasileira de Pesquisadores em Comunicação e Política). Na SBPJor (Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo), Motta foi fundador, Vice-Presidente e coautor do Projeto Editorial da Revista Brazilian Journalism Research (BJR),hoje referência dentre os periódicos do campo.

Também se destacou, o professor Motta na defesa do Diploma de Jornalismo para o exercício profissional e, por fim, está na memória de muitos como um intelectual que sempre e permanentemente viu, e defendeu, o lugar do jornalismo como construção da realidade, imbuindo nessa premissa todo o papel social do jornalismo na construção ética da história do presente.

Assim, a Direção da FAC-UnB, ao passo que transcorremos o dia de hoje em diálogo com os impactados por essa despedida, ecoa e agradece, em nome da comunidade acadêmica da FAC, as demais homenagens como as feitas pela comunidade acadêmica e Coordenação do PPJor-UFSC, assim como pela ALAIC e por colegas e amigos da ABEJ (Associação Brasileira de Ensino de Jornalismo) e da SBPJor. Uma plêiade de homenagens justas para um jornalista, professor e pensador ímpar na construção da práxis jornalística no Brasil e América Latina: Luiz Gonzaga Figueiredo Motta."

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