URBANISMO

Os desafios da mobilidade ativa para a população do DF

Caminhar e pedalar são atividades comuns em toda cidade, mas cada vez mais difíceis no Distrito Federal. Pessoas sofrem com buracos, bueiros abertos e ciclovias inacabadas, dentre outros problemas

Laezia Bezerra
postado em 24/06/2023 06:00 / atualizado em 24/06/2023 12:08
 Hérika reclama do risco das ciclovias "que somem" no Sudoeste -  (crédito: Fotos: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
Hérika reclama do risco das ciclovias "que somem" no Sudoeste - (crédito: Fotos: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

A mobilidade urbana e as más condições de deslocamento das pessoas no Distrito Federal causam impacto, não só pela falta de um transporte público de qualidade ou pela alta frota de carros em circulação nas ruas, mas principalmente por conta da falta de infraestrutura e ausência de manutenção e de segurança das vias, calçadas e ciclovias. São muitos os desafios que prejudicam a vida do pedestre no dia a dia, com buracos, bueiros abertos, entulhos e lixo espalhado nas vias, além da falta de iluminação e de segurança.

É comum ver, em vez de praças e espaços de convivência, grandes áreas tomadas por carros e outros entraves que atrapalham quem caminha a pé. A dificuldade está em todas as regiões do DF, de um bairro novo como o Sudoeste, onde as calçadas inacabadas se confundem com as ciclovias, a regiões mais populosas como Taguatinga, onde o pedestre precisa disputar as pistas com os carros.

Percentual

Pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) nas dez maiores regiões metropolitanas do Brasil aponta que o DF é a unidade da Federação com menor proporção de pessoas que andam a pé ou de bicicleta. Apenas 11% da população usa a mobilidade ativa para ir e vir do trabalho. Entre os mais pobres, essa taxa fica em aproximadamente 14% dos habitantes e entre os mais ricos, chega a 4%.

  • Dona Helena tem medo, todos os dias, de "ser atropelada e cair" Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
  • Hérika reclama do risco das ciclovias "que somem" no Sudoeste Fotos: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press

"Independentemente da renda, o baixo índice do uso do transporte alternativo no DF é uma questão estrutural. As pessoas estão acostumadas com o padrão urbanístico da cidade e isso molda o comportamento delas, que não têm estímulo para a prática da mobilidade ativa", destaca Rafael Pereira, pesquisador do Ipea.

De acordo com o pesquisador, uma das hipóteses para o uso de mais carros e menos locomoção a pé ou de bicicleta é a falta de manutenção nas ruas, o que gera insegurança ao pedestre.

Insegurança

Para Hérika Rodrigues, 41 anos, andar pelas ruas do DF é uma tarefa difícil. Moradora do Cruzeiro Novo, ela e o marido possuem carro, mas caminham com frequência e têm de enfrentar calçadas inacabadas, bueiros abertos, desnível nas pistas e entulhos espalhados no caminho.

"Desde o Cruzeiro até o Sudoeste as calçadas são descontínuas, não têm rampas. Estamos andando por elas e, de repente, já estamos na ciclovia ou na pista, porque se misturam — começam e não terminam, simplesmente somem. Apesar dos percalços eu opto por andar a pé. É mais econômico, e promove saúde", frisa.

Na QNM 42 de Taguatinga, Helena Rodrigues, 67 anos, também enfrenta problemas nas ruas esburacadas e na disputa por espaço com os carros. Moradora de Samambaia, ela vai à igreja  quase todos os dias e sofre com a falta de manutenção.

"Tenho medo de ser atropelada, de cair. Cerca de três anos atrás pisei na grama, estava escuro, caí em um buraco e torci o pé", conta. 

A falta de infraestrutura nas ruas é um problema que atinge também a vida da diarista Luísa de Jesus Santana, 45, moradora de Taguatinga. Com problema no quadril, devido a artrose e a falta de cartilagem, a mulher anda com o suporte de uma muleta e diz que ruas esburacadas e com asfalto desnivelado são o seu maior tormento.

"Cada buraco ou desnível que eu piso me desequilibram, além do impacto que às vezes me leva ao chão. Sinto dores terríveis, tenho pavor dos carros passarem em cima de mim. Não existe calçada para pessoas com dificuldades de caminhar como eu", reclama.

Não muito distante, no Setor H Norte, o estudante Pedro Henrique Barretos, 20 anos, perfaz o caminho para ir à faculdade e ao trabalho todos os dias, mas conta que tanto o ato de chegar à parada de ônibus como o de voltar para casa terminam sendo tarefas complexas e cheias de transtornos, por conta dos problemas.

"Brasília é uma cidade de aparências, as regiões em torno da capital estão esquecidas. Há um total descaso com a população. Sem falar que, além de econômico e saudável, andar a pé é uma questão ambiental", ressalta.

 Política Urbana

O Estatuto da Cidade estabelece princípios gerais da política urbana, de forma a estimular a estruturação de programas de mobilidade, como o direito a cidades sustentáveis. O deputado distrital Max Maciel (PSol) apresentou Projeto de Lei na Câmara Legislativa do DF, que prevê a requalificação total da estrutura de acessibilidade no Distrito Federal.

"Além de Brasília ser uma cidade pensada para carros, a falta de acessibilidade e de segurança causa transtornos para quem precisa caminhar pelas ruas. O poder público precisa corrigir isso. É necessário rediscutir a utilização dos espaços e oferecer segurança para uma mobilidade ativa no DF. Não adianta alargar pistas, construir viadutos, se não existirem calçadas, acessibilidade e iluminação para que o pedestre, o idoso e a pessoa com deficiência possam caminhar pelas ruas", alerta.

Investimentos

A Secretaria de Transporte e Mobilidade (Semob) informa que o governo tem investido na melhoria da estrutura cicloviária para contemplar diversas regiões. A pasta também informou que está em processo de elaboração da ciclofaixa, projeto que beneficiará inúmeros ciclistas e também pedestres.

Dentre os locais a serem contemplados estão Samambaia Norte, Planaltina, Ceub, Autódromo, Octogonal/Sudoeste, Samambaia/Taguatinga e proximidades do Ceub e do Autódromo.

 


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