Agricultura

Tecnologia e inovação ajudam na produtividade agrícola

Tecnologia tem ajudado do pequeno ao grande produtor do campo. Utilização de sistemas avançados economizam o uso de recursos como água e defensivos agrícolas

Naum Giló
postado em 14/08/2023 03:55
O agricultor Miguel Simões de Oliveira faz uso de irrigação por gotejamento para economizar água e fertilização  -  (crédito: Naum Giló/CB/D.A Press)
O agricultor Miguel Simões de Oliveira faz uso de irrigação por gotejamento para economizar água e fertilização - (crédito: Naum Giló/CB/D.A Press)

A tecnologia deixou de ser exclusividade das zonas urbanas há muito tempo, estando presente, também, no campo, fomentando a produtividade e otimizando o uso dos recursos disponíveis. Os avanços tecnológicos estão presentes nos sistemas de irrigação, no maquinário agrícola e no cultivo protegido, e beneficiam pequenos, médios e grandes produtores do Distrito Federal e regiões próximas.

Um dos destaques da aplicabilidade dela é no uso moderado da água. Com o sistema poupador, o produtor consegue diminuir significativamente a quantidade do recurso utilizado na lavoura. A coordenadora de operações da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do DF (Emater-DF) Adriana Nascimento explica que, desde 2016, quando o DF atravessou a crise hídrica, que fez a população passar por racionamento, o agricultor precisou conviver com dificuldades de obter a outorga de captação de água de rios, córregos e lençóis freáticos.

"Com o sistema poupador de água, o agricultor gasta de 80% a 20% menos água. Isso traz grande impacto para as culturas olerícola, frutífera e grandes produtores. Desde a crise hídrica, o sistema pode ajudar na obtenção dessa outorga, cuja emissão depende de uma análise do volume de água a ser gasto para não prejudicar o meio ambiente nem os recursos hídricos para a população. Algumas fontes de água não suportam mais novas outorgas", detalha a coordenadora.

Na área de maquinários pequenos, médios e grandes, agricultores fazem usos diferentes da tecnologia. "Os pequenos usam até dois tipos de máquinas, como as grades aradoras e os microtratores. Além desses, é mais comum os médios usarem tratores maiores, pulverizadores e pequenas colheitadeiras", enumera Adriana. Entre os grandes produtores de grãos, segundo a coordenadora da Emater, o uso do maquinário é o mais diversificado, atingindo as etapas desde o plantio, passando pela colheita, chegando ao pós-colheita, que é a fase de armazenamento daquilo que é produzido.

A novidade dos últimos anos, que serve tanto para a área das comunicações quanto para o trabalho no campo, são os drones. Nas plantações, os aparelhos voadores, entre outras utilidades, ajudam na pulverização de defensivos agrícolas no controle de pragas e doenças. "Mas os drones são mais utilizados pelos médios produtores. É um serviço caro e que é prestado, geralmente, por outras empresas."

Não enfrentar a entressafra, período que contempla o fim da colheita até o início do novo ciclo produtivo, é uma das principais vantagens do cultivo fechado. Túneis e estufas ajudam a controlar a temperatura e a umidade, permitindo ao agricultor produzir durante o ano inteiro.

Cultivo fechado

Miguel Simões de Oliveira, 54 anos, trabalha há 30 anos com a produção de hortaliças em sua propriedade, na Ponte Alta do Gama. Há seis, o produtor familiar passou a usar a técnica do cultivo fechado. Metade dos três hectares plantados contam com a estrutura de cobertura feita com plástico 150 micra, mais resistente ao mesmo tempo que permite a passagem da luz do sol.

Nesta época do ano, devido à estiagem, a plantação fica descoberta. "O problema é quando vêm as chuvas. A umidade atrai fungos e as tempestades danificam as plantas. Com o sistema de cultivo fechado, eu consigo produzir bem o ano inteiro", explica o agricultor, que revela produzir 50% a mais nas estações chuvosas, em comparação à época em que não adotava o cultivo fechado.

Miguel avalia a vida de agricultor familiar como muito difícil. Segundo ele, o trabalho é de domingo a domingo, sem folgas. No entanto, o cultivo fechado permitiu que evitasse prejuízos. "Já perdi tudo várias vezes por causa das chuvas. Agora, com a chegada das chuvas eu desativo toda a parte da lavoura que é desprotegida e trabalho apenas com a parte coberta", detalha o produtor, que diz ter a intenção de ampliar a área fechada para o restante da plantação.

A técnica, além de permitir a produção mais estável de brócolis, alface, salsinha, cebolinha, acelga e outras culturas, também permitiu que ele produzisse jambu, planta amazônica muito presente na culinária paraense. "Só nesse período mais frio que não consigo colher o jambu", pontua o produtor. Com a produção, são feitos chocolate, tucupi e a famosa cachaça que "adormece a boca".

Na gestão dos recursos hídricos, Miguel agora economiza cerca de 40% dos gastos com água e energia, após ter substituído o sistema de irrigação convencional pelo de gotejamento, pelo qual é possível, também, poupar a quantidade de fertilizante utilizado.

Antenado

"Às vezes, em um espaço de tempo menor do que um ano, já preciso me atualizar com as novas tecnologias que vão surgindo", revela Henrique Fiorese, 34, produtor rural de Água Fria de Goiás, situada a cerca de 140km de Brasília. Nos 5,7 mil hectares plantados, são cultivados soja, milho, feijão e trigo.

Fiorese conta que a tecnologia está presente, desde antes do plantio, com sementes desenvolvidas para aguentar estresses hídricos e diferentes altitudes, o que proporciona economia de água e, consequentemente, de energia, em cerca de 25%. "Além disso, cada vez mais precisamos preparar sementes para climas extremos. O clima é um fator que não conseguimos controlar", aponta Henrique.

Na lavoura, plantadeiras e colheitadeiras maiores fazem o mesmo trabalho que várias outras menores fariam ao mesmo tempo. Outro destaque é o mapeamento via satélite das partes das plantações que precisam pulverizar os agroquímicos. "Com o mapa de calor, que nada tem a ver com temperatura, mas sim com plantas daninhas, é possível fazer uma pulverização mais inteligente, focando nas partes mais prejudicadas e usando a quantidade mais precisa", detalha Fiorese.

 


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