Os problemas do Hospital de Base e da saúde pública do Distrito Federal foram tema do CB.Poder —programa realizado por meio de parceria entre Correio Braziliense e TV Brasília — de ontem. À jornalista Ana Maria Campos, o presidente do Sindicato de Médicos do DF, Gutemberg Fialho, comentou que atualmente não é atrativo para o médico trabalhar na rede pública. Fialho falou também da trajetória de Roland Montenegro Costa — uma das vítimas do acidente de avião em Barcelos, no Amazonas— e sua importância para a medicina da capital do país.
É incrível como grandes médicos do DF passaram pelo Hospital de Base. O Hospital de Base é praticamente uma escola, doutor Gutemberg?
Exatamente. O Hospital de Base foi um dos hospitais terciários mais importantes do Centro-Oeste e talvez do Brasil. Infelizmente, hoje nós não temos muitas notícias agradáveis, temos uma redução de oferta de serviço, crises em cima de crise. Mas nós precisamos resgatar o que foi a essência do Hospital de Base, principalmente na formação do médico. Quem é da minha geração vai lembrar da frase: "Sofri um acidente me leve para o Hospital de Base".
Hoje é ainda assim?
Não, antigamente era assim, precisamos resgatar essa excelência. O hospital precisa está capacitado e com mais inclusão para atender a população.
Ainda é atrativo para um médico fazer concurso para Secretaria de Saúde, atuar na rede pública do DF?
Nós temos um histórico nisso. A Secretaria de Saúde e alguns governos do DF atualizaram o plano de salário dos médicos e permitiram que esses profissionais fizessem concurso e permanecessem na rede. Nos últimos oito anos nós tivemos um declínio nisso, houve uma defasagem do plano de carreira e salários. Hoje não é atrativo. Brasília tem hoje a maior proporção de médicos por habitantes. No entanto, tem um déficit enorme de mais de três mil médicos na rede pública. O DF tem maior proporção de médicos do Brasil, seis para cada mil habitantes, mas não tem médico na Secretaria de Saúde, qual a causa? Falta vontade política do governo de atender o Sindicato dos Médicos, de discutir uma reformulação do plano de salários, para que os médicos voltem a se interessar a trabalhar na Secretaria de Saúde. Com segurança no local do trabalho e um plano de salário que seja compensatório.
O senhor acha que essa transformação do Hospital de Base em Instituto de Gestão Estratégica d e Saúde do Distrito Federal (Iges-DF) é um modelo de gestão eficiente?
Os indicadores mostram que não, diminui o fechamento do serviço e ameaça de fechamento de residências médicas. Nós estamos com uma ameaça de devolução de colegas, que estão em uma curva de maturidade fantástica para serem desenvolvidos com a Secretaria de Saúde. Não sabem onde vão alocar esses colegas, provavelmente em hospitais que não têm estrutura para desenvolver aquele conhecimento.
Para a história de Brasília, a morte do doutor Roland Montenegro teve um impacto, uma repercussão imensa, ele era um grande médico.
Além de ser um profissional excepcional, foi um médico que formou e estava formando vários outros cirurgiões. Roland foi residente do Hospital de Base, foi chefe da cirurgia geral daquele hospital, buscou se aperfeiçoar no exterior. É dono de uma técnica na cirurgia de tumor de pâncreas que reduz em quase 95% das complicações da cirurgia. Com a técnica, Montenegro reduziu para 5% as chances de complicações. Dedicado, sempre à disposição, extremamente estudioso. Vai deixar um vácuo, um espaço difícil de ser preenchido na história da medicina do Distrito Federal.
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Ele ia fazer 71 anos, tinha muito tempo pela frente ainda para trabalhar, ensinar e fazer cirurgias, ele estava em plena atividade.
Em plena atividade, esteve comigo no sindicato uns 30 dias atrás, era médico sindicalizado há mais de trinta anos. Doutor Roland também é membro da Academia de Medicina de Brasília, portanto tem uma formação invejável, além da dedicação e da competência. E a capacidade dele de fazer amigos, é possível observar como a cidade está consternada com esse acidente. Não só a área médica, o cidadão comum, os pacientes, as autoridades. Em situações onde você achava que não tinha solução, que a cirurgia não teria resultado, ele realizava o trabalho e conseguia grandes sucessos.
Como ele desenvolveu essa técnica?
Ele fez cursos nos Estados Unidos e na Alemanha, principalmente. No decorrer da profissão, você vai ali analisando e desenvolvendo algumas técnicas, e ele terminou avaliando o resultado de seus estudos. E conseguiu na cirurgia especificamente de pâncreas com uma técnica que reduziu as complicações a 5%.
*Estagiário sob a supervisão de José Carlos Vieira
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