Entrevista

"Rede pública não está atrativa", diz presidente do Sindicato dos Médicos do DF

Ao programa CB.Poder, o doutor destacou a importância de o GDF voltar a criar ações para atrair profissionais. Falou também sobre a trajetória do colega Roland Montenegro, morto em acidente aéreo no Amazonas

 18/09/2023 Credito: Ed Alves/CB/DA.Press. Cidades. CB Poder recebe Gutemberg Fialho, Presidente do Sindicato dos Médicos do DF. Na bancada: Ana Maria Campos -  (crédito:  Ed Alves/CB/DA.Press)
18/09/2023 Credito: Ed Alves/CB/DA.Press. Cidades. CB Poder recebe Gutemberg Fialho, Presidente do Sindicato dos Médicos do DF. Na bancada: Ana Maria Campos - (crédito: Ed Alves/CB/DA.Press)
postado em 19/09/2023 03:55 / atualizado em 19/09/2023 06:29

Os problemas do Hospital de Base e da saúde pública do Distrito Federal foram tema do CB.Poder —programa realizado por meio de parceria entre Correio Braziliense e TV Brasília — de ontem. À jornalista Ana Maria Campos, o presidente do Sindicato de Médicos do DF, Gutemberg Fialho, comentou que atualmente não é atrativo para o médico trabalhar na rede pública. Fialho falou também da trajetória de Roland Montenegro Costa — uma das vítimas do acidente de avião em Barcelos, no Amazonas— e sua importância para a medicina da capital do país.

É incrível como grandes médicos do DF passaram pelo Hospital de Base. O Hospital de Base é praticamente uma escola, doutor Gutemberg?

Exatamente. O Hospital de Base foi um dos hospitais terciários mais importantes do Centro-Oeste e talvez do Brasil. Infelizmente, hoje nós não temos muitas notícias agradáveis, temos uma redução de oferta de serviço, crises em cima de crise. Mas nós precisamos resgatar o que foi a essência do Hospital de Base, principalmente na formação do médico. Quem é da minha geração vai lembrar da frase: "Sofri um acidente me leve para o Hospital de Base".

Hoje é ainda assim?

Não, antigamente era assim, precisamos resgatar essa excelência. O hospital precisa está capacitado e com mais inclusão para atender a população.

Ainda é atrativo para um médico fazer concurso para Secretaria de Saúde, atuar na rede pública do DF?

Nós temos um histórico nisso. A Secretaria de Saúde e alguns governos do DF atualizaram o plano de salário dos médicos e permitiram que esses profissionais fizessem concurso e permanecessem na rede. Nos últimos oito anos nós tivemos um declínio nisso, houve uma defasagem do plano de carreira e salários. Hoje não é atrativo. Brasília tem hoje a maior proporção de médicos por habitantes. No entanto, tem um déficit enorme de mais de três mil médicos na rede pública. O DF tem maior proporção de médicos do Brasil, seis para cada mil habitantes, mas não tem médico na Secretaria de Saúde, qual a causa? Falta vontade política do governo de atender o Sindicato dos Médicos, de discutir uma reformulação do plano de salários, para que os médicos voltem a se interessar a trabalhar na Secretaria de Saúde. Com segurança no local do trabalho e um plano de salário que seja compensatório.

O senhor acha que essa transformação do Hospital de Base em Instituto de Gestão Estratégica d e Saúde do Distrito Federal (Iges-DF) é um modelo de gestão eficiente?

Os indicadores mostram que não, diminui o fechamento do serviço e ameaça de fechamento de residências médicas. Nós estamos com uma ameaça de devolução de colegas, que estão em uma curva de maturidade fantástica para serem desenvolvidos com a Secretaria de Saúde. Não sabem onde vão alocar esses colegas, provavelmente em hospitais que não têm estrutura para desenvolver aquele conhecimento.

Para a história de Brasília, a morte do doutor Roland Montenegro teve um impacto, uma repercussão imensa, ele era um grande médico.

Além de ser um profissional excepcional, foi um médico que formou e estava formando vários outros cirurgiões. Roland foi residente do Hospital de Base, foi chefe da cirurgia geral daquele hospital, buscou se aperfeiçoar no exterior. É dono de uma técnica na cirurgia de tumor de pâncreas que reduz em quase 95% das complicações da cirurgia. Com a técnica, Montenegro reduziu para 5% as chances de complicações. Dedicado, sempre à disposição, extremamente estudioso. Vai deixar um vácuo, um espaço difícil de ser preenchido na história da medicina do Distrito Federal.

Ele ia fazer 71 anos, tinha muito tempo pela frente ainda para trabalhar, ensinar e fazer cirurgias, ele estava em plena atividade.

Em plena atividade, esteve comigo no sindicato uns 30 dias atrás, era médico sindicalizado há mais de trinta anos. Doutor Roland também é membro da Academia de Medicina de Brasília, portanto tem uma formação invejável, além da dedicação e da competência. E a capacidade dele de fazer amigos, é possível observar como a cidade está consternada com esse acidente. Não só a área médica, o cidadão comum, os pacientes, as autoridades. Em situações onde você achava que não tinha solução, que a cirurgia não teria resultado, ele realizava o trabalho e conseguia grandes sucessos.

Como ele desenvolveu essa técnica?

Ele fez cursos nos Estados Unidos e na Alemanha, principalmente. No decorrer da profissão, você vai ali analisando e desenvolvendo algumas técnicas, e ele terminou avaliando o resultado de seus estudos. E conseguiu na cirurgia especificamente de pâncreas com uma técnica que reduziu as complicações a 5%. 

 *Estagiário sob a supervisão de José Carlos Vieira


 

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