Levantamento do Serasa revela uma realidade alarmante no Distrito Federal. Mais da metade dos brasilienses está inadimplente. Os dados são de agosto deste ano e mostram um total de 1.278.676 pessoas endividadas na capital do país, o que representa 52,45% da população. O número cresceu 8% em relação a agosto de 2022, quando era de 1.181.898. O cartão de crédito é o campeão na lista dos gastos que mais deixam as finanças dos habitantes do DF no vermelho (veja quadro). Economistas ouvidos pelo Correio ponderam que programas como o Desenrola Brasil e o Programa de Incentivo à Regularização Fiscal do DF (Refis) podem ajudar a afrouxar o cinto, mas o consumidor precisa se planejar melhor e manter a disciplina para que a situação não fuja do controle.
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O economista César Bergo avalia que o índice de inadimplentes no Distrito Federal é preocupante. "É alarmante, sobretudo se formos considerar a renda per capita do brasiliense, que é a maior do país. Educação financeira e planejamento é fundamental. É importante preparar o orçamento familiar incluindo tudo, inclusive supérfluos como festas de aniversário. Quem quer pagar dívidas e poupar, é preciso cortar despesas ou, se for o caso, até mesmo reduzir o padrão de vida. O mais importante é disciplina e planejamento familiar", aconselha.
Negociação
A auxiliar de serviços gerais Maria da Conceição Braga, 38 anos, é um exemplo de brasiliense que não se planejou e acabou se endividando por causa do cartão de crédito. Ela deve R$ 3 mil. Há dois anos, ela não usa mais cartão de crédito e vai aderir ao programa Desenrola Brasil para resolver sua situação junto à instituição financeira. "Aprendi a lição. Agora, estou sonhando em limpar meu nome", declara.
Maria planeja aderir ao programa Desenrola Brasil na segunda fase, que vai atingir pessoas físicas com renda de até R$ 20 mil e dívidas em banco sem limite de valor. A segunda etapa do programa teve início ontem, com descontos médios de 83%, que somam R$ 126 bilhões e poderão beneficiar 32 milhões de pessoas. Plataforma para renegociação de dívidas negativadas bancárias e não bancárias — como conta de luz, água, varejo, educação, entre outras — de pessoas que ganham até dois salários mínimos ou que estejam inscritas no Cadastro Único para Programas Sociais do governo federal (CadÚnico) foi aberta ontem.
"O Desenrola vem preencher uma lacuna de uma necessidade da população de baixa renda endividada. Do ponto de vista prático, o programa vem dando bons resultados, propiciando renegociação em situação de taxa de juros menores, o que vai possibilitar a regularização das contas de muitas famílias. Além de limpar os nomes junto aos órgãos de controle e restrição do crédito, o programa possibilita que as pessoas voltem ao mercado de consumo e adquiriram novos créditos em situações mais vantajosas. Isso faz com que a economia se movimente", analisa o economista César Bergo.
Para o economista Roberto Bocaccio, o cartão de crédito é um vilão. "Depois de um certo ponto, acaba ficando inviável pagar. As pessoas se tornam inadimplentes e, quanto mais tentam negociar, mais difícil fica a quitação das dívidas. Há uma certa irresponsabilidade também por parte das instituições financeiras que concedem crédito e oferecem até mesmo sem as pessoas pedirem, elevando limites muitas vezes sem a solicitação do cliente", avalia. "Para as instituições, é vantajoso ter inadimplentes, porque os bancos ganham muito dinheiro com juros altíssimos e as pessoas acabam se tornando reféns", conclui.
Novo Refis
O Governo do Distrito Federal (GDF) também vai oferecer uma oportunidade para os brasilienses regularizarem tributos devidos ao Executivo local, como ICMS, ISS, IPTU, IPVA, ITBI, ITCD, TLP e débitos de natureza tributária e não tributária devidos ao DF e às suas autarquias, fundações e entidades equiparadas. Trata-se do Programa de Incentivo à Regularização Fiscal do Distrito Federal (Refis). O projeto que institui o Refis foi aprovado na última terça-feira na Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) e aguarda sanção do governador Ibaneis Rocha (MDB). O prazo para a adesão vai da data da sanção até o dia 10 de novembro.
A empreendedora Adriana Ribeiro, 37 anos, vai recorrer ao Refis para regularizar o pagamento do IPVA do carro e também da moto do marido. No total, o casal está devendo devendo cerca de R$ 1,3 mil. "Meu filho teve um problema de saúde e eu tive que sair de um trabalho com salário maior para fazer home office e ganhar menos. Aí as dívidas acumularam", conta.
Adriana conta que a mudança de emprego somada à padandemia de covid-19 fez com que a renda da família diminuísse muito. "Ficou inviável continuar pagando as parcelas de todas as dívidas que tínhamos feito. Tudo se acumulou. Antes, eu conseguia pagar IPVA direitinho. Mas, neste ano, as contas ficaram ainda mais apertadas e mal está sobrando para pagar os boletos mais urgentes", lamenta.
O economista Roberto Bocaccio alerta que a população precisa ficar atenta com as obrigações financeiras. "Programas como o Refis pode ter um caráter deseducativo e induzir o cidadão a ficar inadimplente à espera de condições mais favoráveis ao pagamento das dívidas. Pode criar um mau hábito por parte do contribuinte", criticou. "O ideal é que esses programas sejam mais seletivos e mais esporádicos", sugeriu.
Endividamento familiar
Segundo a Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), apurada mensalmente pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o percentual de famílias que afirmam ter dívidas a vencer nas diferentes modalidades de crédito cresceu 0,6 ponto percentual em setembro, representando 75,3% das famílias no Distrito Federal. "A queda na taxa de inflação e o retorno de pessoas ao mercado de trabalho formal nos últimos meses se apresentam insuficientes para reverter o cenário de inadimplência, face aos juros elevados e à maior quantidade de dívidas a vencer, impondo às famílias dificuldade de quitar os compromissos", analisa o presidente do Sistema Fecomércio-DF, José Aparecido Freire. "A melhora na renda, no emprego, a redução das taxas de juros e o programa de renegociação de dívidas certamente possibilitarão uma redução na inadimplência e a reinserção no mercado de crédito e consumo daqueles que hoje estão impossibilitados de honrarem seus compromissos", conclui Aparecido.
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