O Distrito Federal é o maior exemplo nacional quando o assunto é o respeito pela faixa de pedestres. Mas dados do Departamento de Trânsito deixam um alerta: houve um aumento progressivo dos atropelamentos fatais ocorridos nestes pontos de travessia. Foram duas mortes em 2019, contra seis no ano passado — número três vezes maior. Até setembro de 2023, outros dois óbitos foram confirmados.
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Na capital do país, existem 4,3 mil faixas de pedestres e, de acordo com a doutora em transportes Adriana Modesto, a simples existência do recurso não é o suficiente. "Tem que ter a manutenção, desobstrução visual das sinalizações verticais — inclusive no em torno das faixas de pedestres —, a limpeza que evidencie o contraste entre sua marcação e o pavimento, portanto, contribuindo para sua visualização, além de iluminação pública adequada, considerando o período noturno", enumera, acrescentando a incorporação de recursos tecnológicos que favoreçam a visualização do pedestre em travessia iminente.
A especialista avalia o que precisa ser feito para que se garanta a segurança no trânsito ao pedestre, para que ele possa promover seus deslocamentos com conforto e segurança. "É necessário uma série de medidas, tais como a redução dos limites de velocidade, a oferta de passarelas, a implantação de faixas de pedestres, a promoção de ações educativas e de sensibilização, quanto a escala de vulnerabilidade no trânsito", detalha Adriana.
A doutora em trânsito afirma que é importante destacar que todos, em algum momento de seus deslocamentos diários, ocuparão a condição de pedestre. "Outro ponto é que, considerando-se os usuários da via, o pedestre é aquele que apresenta maior grau de vulnerabilidade, uma vez que não dispõe de recursos de proteção", avalia.
Adriana Modesto comenta que não é raro haver ocasiões em que usuários se ressentem ou pela carência ou pelas condições precárias das faixas de pedestres. "Elas precisam ser extensivas, sobretudo, em locais onde há grande fluxo de pedestres e/ou maior prevalência de atropelamentos ou riscos de sinistros envolvendo pedestres", observa a especialista.
Atropelamentos fatais em faixa de pedestre
2019 - 2
2020 - 3
2021 - 6
2022 - 6
2023* - 2
*Até setembro
Fonte: Detran-DF
Conscientização
Uma das pessoas que reclamam é a dona de casa Luzia Corrêa Barros, 65 anos. A moradora do Guará diz que está na região há 40 anos. "Quando morava na QE 15, era mais tranquilo. Mas quando passei a morar na QE 38, em 2007, as coisas mudaram", lamenta. Ela costuma atravessar, quase todos os dias, uma faixa de pedestre que fica próxima de colégios e conta que, antigamente, tinha um redutor de velocidade perto. "Nessa época, eles respeitavam. Só que depois que tiraram, os motoristas passaram a trafegar em uma velocidade maior", detalha. "São três faixas. Em duas, geralmente param, mas tem uma que não para", complementa.
Luzia, que tem artrose, afirma que não consegue mais correr quando os veículos não param na faixa. Para ela, a adição de um quebra-molas ajudaria a melhorar a situação. "Além disso, tinha um buraco na faixa, que taparam, mas não repintaram ela", aponta. "Já vi um acidente, no ano passado. Um senhor foi atropelado e acabou falecendo. Foi na mesma faixa que tem problemas", ressalta.
A dona de casa acrescenta que, além da manutenção, é necessário conscientização por parte dos condutores. "Às vezes, por mais que a gente dê o sinal, alguns motoristas não param e até xingam a gente. Outros estão no celular e nem prestam atenção na faixa", reclama. Luzia comenta que as melhoras teriam efeito não só para ela. "Mas pelas outras pessoas que costumam utilizar a faixa. Por ser perto de uma escola, muitas crianças e adolescentes costumam atravessar ali. É perigoso", alerta.
A educadora social Elza Aparecida Pereira, 54, também reclama das condições das faixas de pedestres. Ela mora na QE 38 do Guará há 20 anos e, além do local onde atravessa todos os dias, percebe o problema em outras regiões. "Nos locais mais distantes do centro, as pinturas das faixas estão mais desgastadas e os motoristas têm menos educação. Sempre que vou a lugares como Samambaia e Ceilândia, percebo que a manutenção é precária", avalia.
Elza destaca que, na faixa em que passa diariamente, não houve qualquer tipo de manutenção neste ano. "Os motoristas estão mais desatentos e parando muito em cima da hora", observa. "Acho que é necessário fazer alguma coisa logo antes da faixa, para que não passem com uma velocidade muito alta", acrescenta. A educadora ressalta que muitos condutores não esperam o pedestre terminar de atravessar para seguir viagem. "Acho que tem que melhorar a educação. Os condutores também vão ser pedestres em algum momento. E, no trânsito, o maior tem que proteger o menor", avalia.
Para ela, o DF está deixando de ser referência quando o assunto é o respeito às faixas de pedestres. "Em relação a outros estados, ainda estamos melhores. Mas, em comparação a quando cheguei em Brasília, as coisas estão piorando", lamenta. "Após a pandemia, desde que a circulação de carros voltou a normalizar, os problemas ficaram piores. Percebo que a pressa no trânsito ficou ainda maior e a faixa de pedestre foi deixada de lado", argumenta.
Levantamento
Em nota, o Detran-DF afirmou que a manutenção das faixas de pedestres é realizada de acordo com o cronograma de revitalização, organizado pela Diretoria de Engenharia do departamento que, de acordo com a autarquia, leva em consideração o tipo de material empregado, o prazo de garantia da pintura — que pode ser de um ou dois anos — assim como as prioridades de sinalização ao término de obras, por exemplo.
A autarquia ressaltou que está licitando novas empresas para a realização da sinalização horizontal (pintura) das vias e, por isso, a Diretoria de Engenharia de Trânsito do departamento está realizando um levantamento detalhado das faixas que necessitam de revitalização, para que as novas empresas possam restaurar a pintura das faixas, assim que os novos contratos estiverem vigentes. O prazo para isso, de acordo com o Detran-DF, está estipulado para meados de novembro.
Questionado sobre o que faz para conscientizar a população sobre a faixa de pedestre, o órgão ressaltou que, além de campanhas publicitárias, tem uma série de ações educativas realizadas em escolas e nos locais de grande circulação, como o programa Café na Faixa, peças teatrais, interação com mímicos e bonecos, palestras e distribuição de material educativo com a temática.
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