Violência contra a mulher

Violência contra a mulher: DF registra dois estupros a cada 24 horas

De janeiro a outubro deste ano, o DF registrou 679 casos de abusos e violações sexuais. O número é o maior dos últimos quatro anos, numa comparação entre os mesmos períodos. Na última semana, dois casos chocaram os brasilienses

Entre janeiro e outubro de 2023, o Distrito Federal alcançou o maior número de estupros em comparação aos últimos quatro anos. Foram 679 registros criminais. Isso significa que, a cada 24 horas, ao menos duas mulheres sofrem abusos sexuais na capital federal.

Na última semana, dois casos provocaram revolta. Em um deles, uma menina de 12 anos foi raptada e violentada por um homem de 38 anos. O acusado, identificado como Ricardo Félix Evangelista, foi um dos semifinalistas da terceira temporada do reality show Ídolos, exibido em 2008 pela TV Record. Ele acumula antecedentes por crimes contra as mulheres. O músico trabalhava como motorista de transporte por aplicativo e, segundo a Polícia Militar (PMDF), havia alugado o automóvel para prestar o serviço.

Na tarde de terça-feira da semana passada, Ricardo passava com o carro em uma via, em Arniqueiras, quando viu a menina e a obrigou entrar no veículo. Ele percorreu por mais 5km, até chegar a uma área atrás da Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) do Núcleo Bandeirante. Lá, ele abusou da vítima. Após cometer o crime, o homem deixou a adolescente na parte de trás de um mercado na Área de Desenvolvimento Econômico (ADE) de Águas Claras e ofereceu a ela R$ 30 em troca do silêncio.

A vítima foi socorrida por populares e narrou a situação. De posse das informações, a PMDF identificou o proprietário do veículo, que informou ter alugado o carro para Ricardo trabalhar com transporte de aplicativo. O músico foi abordado na Estrada Parque de Taguatinga (EPTG) e disse que havia apenas beijado a menina. No veículo, ele levava uma passageira. Ricardo foi preso, conduzido à 21ª Delegacia de Polícia (Taguatinga Sul) e teve a prisão preventiva decretada pela Justiça.

Na mesma semana, um homem foi preso pela PM por suspeita de estupro de vulnerável e envolvimento em crimes ligados a pornografia infantil, na região rural de São Sebastião. Os militares receberam a denúncia de que uma criança, de 6 anos, havia sido abusada por um amigo da família.

Os policiais realizaram buscas na área e prenderam o suspeito que, ao ser questionado, negou o estupro, mas confessou armazenar, solicitar e compartilhar material pornográfico envolvendo crianças. Os conteúdos ilícitos estavam nos celulares do homem e eram enviados em grupos do Telegram. Os arquivos incluem vídeos e imagens com crianças de diversas idades, inclusive uma com 2 anos. Ainda não se sabe se os vídeos teriam sido produzidos pelo suspeito.

O autor foi levado à 30ª Delegacia de Polícia (São Sebastião) e autuado em flagrante por posse e distribuição de pornografia infantil, além de investigado por estupro de vulnerável.

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Terminal do crime

Todos os dias, cerca de 700 mil pessoas transitam pela Rodoviária do Plano Piloto. Os relatos dos frequentadores em relação à insegurança no local são semelhantes: furtos, roubos, além da venda e de uso de drogas de forma escancarada. No rol de queixas, também entram os abusos e importunações sexuais. Mas, um caso ocorrido na última quinta-feira chocou os brasilienses, tamanha a crueldade.

Uma mulher, de 41 anos, estava na Plataforma F, quando um homem em situação de rua, de 23 anos, tentou introduzir um pedaço de madeira nas partes íntimas da vítima. Populares que viram a situação informaram a Base Móvel do 6º Batalhão de Polícia Militar. Os PMs, por meio das câmeras de segurança, identificaram a localização do autor e imediatamente acionaram os policiais da área. Uma equipe do Policiamento Ostensivo Geral (POG) avistou o suspeito em fuga nas escadarias do metrô e o autor foi capturado.

A vítima foi socorrida pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), que constatou escoriações nas partes íntimas. O caso é investigado pela 5ª Delegacia de Polícia (área central).

Sem se identificar, a mulher aceitou conversar com o Correio. Ela contou que passava pela Rodoviária, como faz todos os dias, quando percebeu o homem vindo em sua direção com um pedaço de madeira na mão. "Quando ele chegou bem perto de mim, ele usou um pouco a força e tentou introduzir o pedaço de madeira em mim, porém ele pegou na parte de cima. Quando ele fez isso, eu me abaixei e comecei a sentir muita dor", disse.

Segundo ela, o exame de corpo de delito constatou a tentativa de estupro. "Hoje, eu me senti impotente. Sabemos que amanhã ou depois ele vai estar ali circulando pela Rodoviária, fazendo mais vítimas. Estou traumatizada. O que está acontecendo na Rodoviária é muito sério. Está virando uma Cracolândia", desabafou.

Não é de hoje que a Rodoviária é alvo de reclamações por parte de quem transita no local. Ao Correio, o major Rapha Brooke conversou sobre o esquema de segurança policial na área. Além da base de policiamento instalada no local, militares fazem a ronda por todo o espaço a pé. Ainda há, de acordo com o major, o reforço da equipe do complexo administrativo, bem como as tropas especializadas, como o Grupamento Tático Operacional (Gtop).

"O Gtop, por exemplo, está o tempo todo em condições de atuação. Porém, temos uma circulação de centenas de pessoas por dia em uma área com várias desordens sociais, estruturais, de ocupação irregular, por exemplo. Tudo isso colabora para a sensação de insegurança. A PM, infelizmente, acaba fazendo um papel de retrabalho, visto que há inúmeros criminosos naquele local que são reincidentes e cometem o crime várias vezes", explica Brooke.

O administrador da Rodoviária do Plano Piloto, Josué Martins, explica que a mancha criminal no local caiu em cerca de 80% após as ações integradas entre a administração e as forças de segurança. "Hoje, não tem um ponto da Rodoviária que não esteja iluminado. Tem luz em todo lugar, no mezanino, subsolo e adjacentes. Nossa intenção é sempre melhorar", frisou.

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Números

O levantamento da SSP-DF mostra que, de janeiro a outubro deste ano, Brasília registrou um total de 679 casos de estupro, 20 casos a mais comparado ao mesmo período do ano passado (veja Escalada do crime). O relatório aponta que 75,9% dos casos de estupros de vulneráveis ocorreram dentro de casa. "É um delito de natureza complexa, de difícil enfrentamento, em que a denúncia cumpre papel fundamental", frisa a SSP-DF.

Dados do Painel da Ouvidoria do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania apontam aumento de 42,29% no número de denúncias de violência de liberdade sexual, tais como estupro, abuso, importunação, exploração e assédio sexual, no Distrito Federal, comparado a 2022. Foram 5.225 denúncias, nos primeiros seis meses de 2023, contra 3.672 em relação ao mesmo período do ano passado. Os dados são relativos aos canais Disque 100 (Disque Direitos Humanos), Ligue 180 (Central de Atendimento à Mulher) e aplicativo Direitos Humanos Brasil.  Para a SSP-DF, os números revelam maior conscientização da sociedade.

O delegado Ronney Augusto Matsui, da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) de Ceilândia, analisa uma das possíveis causas para o aumento no número de registros por estupro. "No período da pandemia, por causa da restrição, principalmente no convívio com os outros, tivemos uma diminuição desses casos. Agora, com a retomada, estamos vendo o crescente número de ocorrências desse tipo, principalmente de abusos em vias públicas, que tinham diminuído na pandemia", argumenta.

O medo da vítima em denunciar pode resultar na subnotificação desses casos, diz o delegado. Entre os receios de prestar queixa, está o fato de a vítima não ter um amparo social, por exemplo, e até mesmo do Estado. "Às vezes, até a própria família duvida da vítima ou tenta justificar o crime, como se ela tivesse culpa", relata. O delegado dá algumas orientações básicas para coibir esse tipo de crime. Evitar andar em locais escuros e sozinha ou mexer em celular dentro do carro podem ser algumas opções.

 

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Canais de ajuda

Polícia Civil

https://www.pcdf.df.gov.br/servicos/197/violencia-contra-mulher

197

Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam 1 e 2)

E-mail: denuncia197@pcdf.df.gov.br

WhatsApp: (61) 9.8626-1197.

Em casos específicos envolvendo crianças e adolescentes, o DF conta com a Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), localizado no Departamento de Polícia Especializada (DPE). 

As emergências são atendidas no telefone 190 da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF).