Pioneiro de Brasília, o servidor público aposentado Salustiano Rodrigues de Brito morreu no domingo (17/12), aos 76 anos, após uma longa batalha contra um câncer. Salu, como era conhecido entre os familiares e amigos, nasceu em Arinos, interior de Minas Gerais. De origem humilde, cresceu e se criou em serviços rurais, às margens do Rio Urucuia. Pescava, atuava na roça e ajudava os pais a cuidar de seis irmãos — era o segundo de sete filhos do casal Otoniel e Francisca.
Mudou-se para Brasília em 1963, aos 16 anos. Os primeiros anos na nova capital do país foram de grandes desafios. A família morava em uma invasão em Taguatinga. Sem escolaridade completa, Salu aceitava o que aparecia para auxiliar no sustento de casa. Trabalhou em chácaras, entregava encomendas, foi auxiliar de almoxarifado. Em algumas ocasiões sofreu calote de empregadores — voltava para casa de mãos vazias, caminhando a pé longas distâncias, faminto e frustrado.
Seguiu batalhando, completou a maioridade e conseguiu emprego na construção civil, o momento de virada na vida dele. Brasília ainda era um grande canteiro de obras, com inúmeros prédios sendo erguidos. Aprendeu o ofício, tornou-se um excelente pedreiro, fazia de tudo um pouco. Atuou em algumas edificações na Asa Norte e na Asa Sul. A renda melhorou e a pobreza diminuiu. Virou motorista e mudou de profissão. Trabalhou por algum tempo no transporte de passageiros, conduzindo ônibus para diferentes empresas. Também foi taxista por um tempo, mas desistiu do ofício após ser sequestrando, quando teve uma arma apontada para cabeça.
Completou o ensino médio, casou-se com uma cearense, Maria das Graças, com quem teve três filhos. Batalharam juntos e ambos ingressaram, concursados, no serviço público. Salu trabalhou por 18 anos na antiga CFP (Companhia de Financiamento da Produção, atual Conab). Depois, foi aprovado para o Senado Federal, onde se aposentou após cerca de 20 anos. Na Casa legislativa, foi de motorista a auxiliar de gabinete. Por anos, esteve lado a lado com parlamentares de inúmeras regiões. Colecionou histórias curiosas dos bastidores da política — boas e tenebrosas. Álvaro Dias (Podemos/PR) foi o último senador com quem trabalhou, por cerca de oito anos. Salu tinha grande respeito e consideração pelo trabalho do político.
Nos últimos anos, o mineiro do Sertão do Urucuia travou uma difícil batalha contra o câncer. Há 10 anos, em 2013, retirou o estômago. Apesar das complicações, conseguiu resguardar boa qualidade de vida. Aposentado, adorava viajar com a esposa de 48 anos de casamento. Rodou o mundo (Europa, Estados Unidos, todas as regiões do Brasil), mas gostava mesmo era de conhecer Minas Gerais. Inquieto, mesmo aposentado do serviço público, comprou um caminhão guincho e trabalhou no resgate de acidentes de trânsito. O câncer reapareceu há alguns meses. Buscou tratamento, mas a doença foi implacável desta vez. Morreu no domingo passado (17/12), por volta das 3h da manhã, em leito do Hospital Santa Helena, na Asa Norte, cercado de amor, carinho e atenção de familiares e amigos.
"Nosso pai nos deixa um legado de muita fé, pois era um cristão praticante e devoto de Nossa Senhora Aparecida. Um homem muito trabalhador, corajoso, inteligente e dedicado à família e aos amigos. Generoso, sempre estendia a mão a quem percebia a necessidade. Espero que possamos honrar a memória dele com amor, união e paz", diz o jornalista Fernando Brito.
Salu deixa esposa, uma filha, dois filhos, duas netas, seis irmãos e inúmeros amigos. O velório e sepultamento ocorrem nesta segunda-feira (18/12), de 13h30 às 16h, no Cemitério de Taguatinga.
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