Alerta no DF

Secretaria de Saúde prepara plano de enfrentamento à dengue no DF

Com o aumento da incidência de casos da doença em todas as regiões administrativas, a chefe da pasta, Lucilene Florêncio, antecipou ao Correio o planejamento para combater a proliferação do mosquito Aedes aegypti

Secretaria de Saúde determinou o uso de 40% da força de trabalho das 178 unidades de saúde para combater o mosquito -  (crédito: SHINJI KASAI / COURTESY OF SHINJI KASAI / AFP)
Secretaria de Saúde determinou o uso de 40% da força de trabalho das 178 unidades de saúde para combater o mosquito - (crédito: SHINJI KASAI / COURTESY OF SHINJI KASAI / AFP)
postado em 07/01/2024 06:05

Para combater a alta dos casos de dengue desde o fim de ano passado, a secretária de Saúde do Distrito Federal, Lucilene Florêncio, anunciou ao Correio que irá divulgar, amanhã, um plano de enfrentamento da dengue e outras arboviroses (como chikungunya e zika), que deve valer de 2024 a 2027. Para anunciar as ações de combate ao nosquito Aedes aegypti, a secretária reunirá no Palácio do Buriti todos os administradores regionais do DF, secretários de Governo, de Educação, e representantes do Serviço de Limpeza Urbana (SLU), Defesa Civil do DF (DCDF) e Corpo de Bombeiros Militar do DF (CBMDF).

 O plano vem à tona em um momento preocupante para o DF. A Subsecretaria de Vigilância à Saúde (SVS) registrou aumento da incidência de dengue de 6 a 23 de dezembro do ano passado em todas as regiões administrativas (RAs). Brazlândia e Recanto das Emas, por exemplo, foram classificadas como locais de alta incidência, com 516,93 e 370,26 casos por 100 mil habitantes, respectivamente.

Ceilândia, Vicente Pires, Taguatinga, Samambaia, Gama, Sobradinho, Lago Sul, Estrutural, Cruzeiro, Varjão e São Sebastião estavam com incidência média, o que representa uma taxa entre 100 e 299,9 casos por 100 mil habitantes. As demais RAs apresentaram incidência baixa, com menos de 100 casos por 100 mil habitantes. Entre 2 de janeiro e 31 de dezembro de 2022, houve 11 óbitos. Nos mesmos levantamentos de 2023 — mas com registros de 1º de janeiro a 30 de dezembro —, houve nove mortes.

Os casos notificados também diminuíram. Entre os anos de 2022 e 2023, a queda foi de 82,7 mil para 46,4 mil. Número considerado alto por especialistas ouvidos pelo Correio. "Temos os acumuladores e carroceiros que despejam entulhos de forma inadequada. Precisamos acabar com essa história de descartar lixo em qualquer lugar. Isso prejudica o trabalho da vigilância ambiental, que precisa entrar na casa das pessoas e intensificar a questão dos cuidados na volta às aulas, em fevereiro", afirma a secretária de Saúde, Lucilene Florêncio.

A chefe da pasta adianta que as equipes de fumacê vão passar com 38 carros de Ultra Baixo Volume (UBV) pelas regiões em situação de vulnerabilidade social a cada três dias.  Os agentes da vigilância epidemiológica vão passar pelas ruas das 4h às 6h e das 17h às 19h. Lucilene acrescenta que determinou o uso de 40% da força de trabalho das 178 unidades de saúde para atuar no combate ao mosquito Aedes aegypti. "A dengue abrange todas as camadas sociais, mas não é uma guerra que não possa ser enfrentada e vencida. A gente pede esforço coletivo", completa.

Assustados

Moradores do condomínio Jardim Botânico V estão apreensivos com as ocorrências de dengue na região. Desde dezembro foram registrados cerca de 60 casos em mais de 50 residências, segundo os condôminos. Alguns deles foram internados em hospitais. "Está todo mundo muito assustado dentro do condomínio. Muitas pessoas internadas, minha esposa chegou a ir para a UTI", conta o servidor público aposentado João Carlos Henrique, 68. Diagnosticado com a doença, ele aposta que obras e casas vazias podem ser o motivo da proliferação.

O biólogo Carlos Bontempo, 62, que também foi um moradores a testar positivo para dengue no ano passado, trabalhou durante cinco anos do início da carreira na contenção de escorpiões e mosquitos em uma ação pioneira em Ipatinga-MG. Na casa dele, onde mora há quase três anos, os focos de mosquitos foram retirados, mas mesmo assim o Aedes aegypti atacou. "O problema não é a casa da gente, são as casas que estão vazias, seja porque o pessoal saiu de férias, ou porque não está ocupada. Foge da nossa alçada, mesmo fazendo a nossa parte", conta.

Carlos Bontempo destaca que o Jardim Botânico é um local propício à proliferação do mosquito, por ter diversas casas e áreas de mata, onde é possível ter água parada limpa, principalmente na época de chuvas. Para Bontempo, a situação que tem ocorrido era previsível. "O problema é que o governo não trabalha com planejamento. Alertei ao condomínio que isso poderia acontecer pela falta de fumacê e vistoria de seis a sete meses atrás", relata. "É necessária uma campanha de educação ambiental e de solicitação para a população fazer a sua parte. Porém, o governo deixa acontecer para depois tomar as providências. Já morreu gente e tem muitas pessoas internadas. É um absurdo", opina o morador.

Procurado pela reportagem, o síndico do condomínio, Luís Carlos, afirma que todas as casas foram vistoriadas por agentes de vigilância sanitária. Além disso, foram feitas limpezas de boca de lobo e o carro do fumacê e as dedetizações foram providenciados. "É bom que saibam como estamos empenhados nesta luta", garante.

Nos prédios

Não é apenas em regiões de casas e natureza que o Aedes aegypti atua. Os prédios também podem ser lugares com focos do mosquito. Um caso recente foi no bloco C da 115 Sul, onde quatro moradores de três apartamentos testaram positivo para a doença. A síndica Danielle Ventura afirma que as pessoas se precaveram, mas adoeceram em dezembro. "Temos um cuidado imenso com nossa comunidade e esse tema sempre nos preocupa. Aqui em nosso prédio, tenho uma empresa de engenharia que faz vistorias semanalmente. Inclusive, avalia a existência de água parada e demais ações de manutenção predial", detalha.

Danielle mantém contato com os síndicos dos outros blocos da quadra para encontrar mais formas de proteger os moradores. Proativa, ela ligou para a ouvidoria da Secretaria de Saúde, pelo telefone 160, pedindo a passagem de um carro com fumacê. Segundo a gestora, a maior parte dos casos da quadra ocorreram nos edifícios perto de uma banca de revistas abandonada, que servia como uma loja de aquários e pequenos peixes. "Essa banca tem muito mato e janelas quebradas", expõe. A síndica pede que cada um faça a própria parte além do próprio prédio. "As ações coletivas devem acontecer e, muitas vezes, o perigo está dentro de casa", finaliza.

Lugares urbanizados, como o prédio de Danielle, são os preferidos do mosquito, conforme explica o epidemiologista Walter Ramalho, professor da Universidade de Brasília (UnB). Segundo ele, apesar de áreas de natureza terem água limpa, as cidades têm o que ele chama de pequenas coleções hídricas, como poças, calhas, pratos de vasos de plantas, pneus e caixas d'água destampadas. "A população humana é farta de alimentos para as fêmeas do Aedes aegypti desenvolverem os ovos", alerta.

A presença dos mosquitos é mais comum em andares mais baixos, mas também podem estar na parte mais alta dos edifícios. "Eles se aproveitam de questões circunstanciais, como elevadores. Porém, no caminho para o trabalho ou simplesmente para fora de casa, todos corremos o risco da picada do mosquito e da transmissão da dengue, zika e chikungunya", completa o especialista. Walter acrescenta que o calor também gera riscos. "Quanto maior o calor, mais rápido é o processo evolutivo do mosquito. Desde o ovo até a reprodução, toda vida do Aedes fica mais rápida, o que gera um número maior de mosquitos em um espaço de tempo menor", contextualiza.

Em nota, a Secretaria de Saúde do DF afirma que continua o trabalho para reduzir os casos. "Os agentes comunitários continuam desempenhando suas ações de visita domiciliar, orientando a população quanto a eliminação de focos de água parada, esclarecendo sobre os sintomas da doença, orientando a busca por uma Unidade Básica de Saúde (UBS) assim que os sintomas aparecerem e conscientizando a população sobre a importância de combate à doença", informa a pasta.

Como se previnir

- Em casas, é importante observar o quintal para que não haja nenhum tipo de recipiente com água parada;

- Cantinhos escuros, como salas de TV e quartos, são visados pelos mosquitos, que sofrem de fotofobia (sensibilidade à luz). O ideal é arejar o ambiente, abrindo janelas e cortinas;

- É recomendável pulverizar repelentes no ar, além de bater toalhas atrás de móveis e cortinas, deixando que a luz tome conta do espaço;

- É aconselhável, todas as manhãs, abrir as cortinas para deixar a luz solar entrar;

- Em apartamento, é importante observar junto ao zelador e ao síndico todos os espaços que podem servir de criadouros do mosquito da dengue — fosso do elevador ou área de jardim, por exemplo;

- Não deixe que águas fiquem empoçadas após lavar calçadas e pisos;

- Pessoas que moram em chácara, precisam ficar atentas às cisternas e fossas. Observe todo o terreno baldio, verificando se não há lixo que acumule água;

- Quem tem fossa asséptica deve tampar com uma tela a boca do cano, evitando que os mosquitos se reproduzam no local;

- Informe às inspetorias de saúde de cada região administrativa sobre vizinhos que tenham abandonado a casa, ou estejam viajando, e deixaram piscinas, lotes e jardins sem os devidos cuidados;

- Em caso de sintomas como febre, dores abdominais ou dores atrás dos olhos, o recomendável é procurar, imediatamente, qualquer unidade básica de saúde (UBS).

Fonte: Diretoria de Vigilância Ambiental (Dival)

 

 

  • Agente da Vigilância Sanitária colhe ovos do mosquito da dengue
    Agente da Vigilância Sanitária colhe ovos do mosquito da dengue Foto: Ed Alves/CB/D.A Press
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