A dengue se tornou a principal endemia urbana do país, desde sua introdução no início da década de 1980. Sua ocorrência experimenta variações previsíveis em ciclos sazonais anuais, relacionadas a temperatura e umidade, e ciclos mais longos, de 3 a 5 anos, relacionados ao acúmulo de susceptíveis.
A introdução de novos sorotipos, a (in) consistência das ações de controle, a mobilidade populacional e os efeitos das mudanças climáticas também determinam variações conhecidas na ocorrência da doença.
Em 2024, tivemos a maior epidemia já documentada no país, com cerca de 6 milhões de casos notificados. No início de 2025 o Ministério da Saúde retomou os trabalhos do Centro de Operações de Emergência (COE) e lançou o Plano de Contingência Nacional, como instrumentos de resposta e preparação, definindo responsabilidades e ações a serem adotadas pelas esferas federal, estadual e municipal.
Cada nível de gestão do SUS deve elaborar seu plano, customizado às características locais, com ações proporcionais à gravidade do problema em seu território e ao seu estágio operacional.
As medidas essenciais incluem 1) vigilância epidemiológica, com ferramentas de monitoramento de casos e de circulação viral; 2) controle vetorial de combate ao Aedes; 3) preparação da rede de assistência, com capacitação de profissionais e organização dos serviços; 4) comunicação e mobilização social, visando informar e engajar a população.
A implementação das medidas exige integração entre diferentes estruturas de governo e da sociedade civil, com articulação intersetorial ampla de áreas como secretarias de obras, limpeza urbana, comunicação, meio ambiente, escolas, associações de classe, profissionais e mídia.
Após 40 anos usando as mesmas ferramentas, duas novas tecnologias prometem contribuir significativamente no enfrentamento: a vacina, disponível desde 2023, e os mosquitos infectados pela bactéria Wolbachia, cuja fábrica foi inaugurada este ano.
Um conceito essencial, no entanto, permanece imutável: todas as medidas de controle da dengue são sempre mais eficazes quando instituídas na fase pré-sazonal. Esperar o aumento dos casos é "correr atrás do prejuízo". A hora de se preocupar com o problema e começar a agir é exatamente esta.
*Thor Dantas, MD, PhD, é infectologista e hepatologista. Professor da Universidade Federal do Acre