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Imunidade pode durar apenas alguns meses

Correio Braziliense
postado em 13/07/2020 21:55
 (foto: Miguel Medina/AFP - 10/6/20)
(foto: Miguel Medina/AFP - 10/6/20)

Resultados de um estudo britânico servem de alerta para a importância de estar sempre atento aos impactos do novo coronavírus, inclusive as pessoas que já foram infectadas. Liderados pelo King’s College de Londres, cientistas descobriram que a imunidade baseada em anticorpos, adquirida após a cura da covid-19, não dura muito tempo: a quantidade máxima de células de defesas que combatem o Sars-CoV-2 pode permanecer por até três meses.

O prazo foi detectado pela equipe ao estudar a resposta imunológica de mais de 90 pessoas que tiveram diagnóstico positivo para a infecção. Os níveis de anticorpos neutralizantes, capazes de destruir o coronavírus, atingiram o pico médio cerca de três semanas após o surgimento dos primeiros sintomas. Depois, começaram a diminuir rapidamente. Apenas 16,7% dos indivíduos apresentavam altos níveis de anticorpos neutralizantes 65 dias após o início dos sinais da infecção.

Exames de sangue mostraram ainda que mesmo os indivíduos com sintomas leves da doença apresentaram uma resposta imune ao vírus. A reação, porém, foi geralmente menor do que a de pacientes acometidas com formas mais graves da doença e também foi enfraquecendo ao longo do tempo.

Para os autores do estudo — publicado no site medrxiv, mas ainda não revisado—, os dados também sinalizam novos desafios na busca por uma vacina contra a covid-19. “Se a infecção fornece níveis de anticorpos que diminuem em dois a três meses, a vacina potencialmente fará a mesma coisa, e uma única injeção poderá não ser suficiente”, explica Katie Doores, principal autora do estudo, em entrevista ao jornal Guardian.

Proteção global

O trabalho também tende a enfraquecer a hipótese de imunidade coletiva, que supõe uma proteção global após uma alta porcentagem da população adquirir imunidade por ter sido infectada. A ideia serve de estímulo para a retomada das atividades em países que enfrentaram o pico dos casos, como os europeus.

Por isso, a indicação de especialistas é não afrouxar as medidas protetivas. “Mesmo aqueles com um teste de anticorpos positivos, especialmente aqueles que não sabem onde foram expostos, devem continuar a ter cautela, a manter o distanciamento social e a usar máscara apropriada”, afirma James Gill, professor honorário da Warwick Medical School.

Mala Maini, consultor da University College de Londres e professor de imunologia viral, pondera que a imunidade não se baseia apenas na ação de anticorpos. “Mesmo que você não tenha anticorpos circulantes detectáveis, isso não significa, necessariamente, que não tem imunidade protetora. Isso porque, provavelmente, têm células de memória imune que podem rapidamente entrar em ação para iniciar uma nova resposta imunológica caso seja exposto ao vírus novamente”, explica.

 

16,7%
Quantidade de infectados que apresentaram altos níveis de anticorpos neutralizantes 65 dias após o surgimento dos primeiros sintomas da infecção

 

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