Vacina não é fundamental para retomada, mas controle da transmissão, sim

Segundo o epidemiologista e professor da UnB Jonas Brant, medidas governamentais para rastrear propagação do vírus são mais urgentes que vacina

Correio Braziliense
postado em 13/08/2020 19:02 / atualizado em 13/08/2020 19:04
Segundo professor da UnB, é preciso ter capacidade de rastreamento de contato e fortalecer a atenção primária à saúde -  (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
Segundo professor da UnB, é preciso ter capacidade de rastreamento de contato e fortalecer a atenção primária à saúde - (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

“Não acho que a gente deva contar com a vacina como uma certeza, e sim como uma esperança. Se der certo a vacina, ótimo, mas a gente não deve contar com ela como essencial para começar a desencadear as ações que precisam ser feitas hoje para enfrentar esse vírus”, determinou Jonas Brant, epidemiologista e professor da Universidade de Brasília (UnB).

Brant foi o entrevistado desta quinta-feira (13/8) do programa CB.Saúde, uma parceria do Correio Braziliense com a TV Brasília, e comentou com o jornalista Vicente Nunes que espera que a Rússia tenha tomado a decisão certa ao registar a vacina antes da conclusão dos estudos. "A Rússia acabou atropelando uma série de protocolos internacionais de garantia da segurança dessa vacina na esperança de que ela seja segura, seja eficaz. A gente espera que essa realmente seja uma vacina segura e eficaz e que eles realmente tenham tomado a decisão correta ao autorizá-la", diz.

O pesquisador também falou sobre a volta às aulas, segundo, ele ainda não é o momento para o retorno às atividades presenciais.

Apesar disso, para Brant, o enfrentamento à covid-19 precisa ser feito com as ferramentas e o conhecimento acumulado até aqui, como vêm fazendo os outros países: "Enfrentar o vírus, controlar e depois garantir que ele fique em níveis baixos até que a gente tenha uma vacina – fato que não deve ocorrer com a rapidez com que algumas pessoas esperam, até pela dificuldade de encontrar insumos."

"De maneira geral, as outras vacinas também estão tendo um progresso muito bom, mas, em geral, desenvolver uma vacina toma tempo e, depois que desenvolver a vacina, tenho que produzi-la numa escala nunca antes vista no planeta. Eu tenho que ter insumos numa escala nunca antes vista no planeta. Imagina a gente vacinar seis bilhões de pessoas, conseguir ter seringas e agulhas para esse volume de pessoas. Não é uma coisa simples", justificou.

Por esse motivo, segundo o epidemiologista, a retomada de todas as atividades pode e deve ser feita antes que o imunizante seja produzido em larga escala. Mas a retomada depende de um controle da transmissão da covid-19. "O que eu acho que é o critério é primeiro nós precisamos controlar a epidemia a níveis aceitáveis, para qua a gente possa ter capacidade de investigação, capacidade de rastreamento de contatos, fortalecimento importante da atenção primária e aí a a gente tem condições de voltar", estabeleceu.

Além do fortalecimento das Unidades Básicas de Saúde (UBS) e das equipes de saúde da família, como iniciativas governamentais desejáveis para diminuir o contágio, Brant também determinou que mudanças de hábitos individuais, como uso de máscara, respeito ao distanciamento social e correta higienização das mãos, são atitudes necessárias.

“Não é fácil mudar hábitos e garantir que a gente tenha essas medidas de biossegurança na nossa rotina. Acho que cada vez mais a gente está incorporando, avançamos bastante e esse é o momento que a gente continua a incorporar isso e garantir que as crianças comecem a aprender isso, que os idosos comecem a aprender isso, para que isso esteja incorporado de maneira geral na nossa sociedade e não somente nas pessoas que estão ativas nesse momento”, ponderou.
 

Assista à entrevista completa:

 

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