Um dos comportamentos menos compreendidos em relação à covid-19 é a possibilidade de uma pessoa ser infectada, mas não apresentar sintomas da doença em nenhum momento. Em busca de respostas, cientistas europeus investigaram uma série de artigos científicos sobre o tema publicados desde o início da pandemia. Após uma ampla análise de dados, chegaram a algumas conclusões significativas. Entre elas a de que 20% dos infectados podem ser enquadrados nessa condição. Os resultados foram divulgados na plataforma de depósito de estudos científicos MedRxiv.
Os participantes do estudo, que ainda não foi publicado em revistas especializadas, buscaram responder a uma série de questões relacionadas aos casos assintomáticos da covid-19. “Entre as pessoas que foram infectadas pelo Sars-CoV-2, quantas não apresentaram nenhum sintoma durante a infecção? Entre as pessoas com infecção que são assintomáticas ao serem diagnosticadas, quantas desenvolverão os sintomas posteriormente? E, por fim, os assintomáticos podem transmitir mais a doença do que os sintomáticos? Fomos em busca dessa série de detalhes desconhecidos”, listam os autores, liderados por Diana Buitrago-Garcia, pesquisadora do Instituto de Medicina Preventiva e Social da Universidade de Berna, na Suíça.
No trabalho, os pesquisadores usaram dados de 79 estudos científicos sobre a covid-19 disponibilizados em plataformas especializadas atualizadas diariamente: PubMed, Embase, bioRxiv e MedRxiv. As pesquisas a esses bancos de dados ocorreram em 25 de março, 20 de abril e 10 de junho, e foram utilizados apenas dados de pesquisas em que os pacientes foram diagnosticados com o exame PCR, considerado o teste padrão ouro para a detecção da infecção pelo Sars-CoV-2.
A equipe concluiu que o percentual de assintomáticos chegou a 20%, com variações entre 17% e 25%. “As descobertas dessa revisão sistemática de publicações no início da pandemia sugerem que a maioria das infecções por Sars-CoV-2 não é assintomática durante o curso da infecção”, enfatizam.
Mais estudos
Os pesquisadores também analisaram o percentual de pacientes que, depois do PCR, apresentaram algum tipo de sintoma da enfermidade. Os dados relativos a esse perfil estavam disponíveis em apenas sete dos estudos utilizados. Nesse caso, 31% dos infectados permaneceram assintomáticos, com variação entre 24% e 38%. A equipe observou ainda que pessoas sem sintomas apresentavam menos risco de transmitir a doença. A taxa de risco de transmissão dos assintomáticos foi de 0,35 e a de pessoas com sintomas, 0,63.
Os cientistas destacaram que o estudo precisa ser aprofundado, pois tem algumas limitações que podem ter gerado falhas. “Não consideramos o possível impacto de resultados falso negativos de PCR, que subestimariam a proporção de infecções assintomáticas, por exemplo”, ilustram. Porém, acreditam que os dados obtidos reforçam a importância de tomar todos cuidados necessários para evitar uma infecção pelo novo coronavírus. “A contribuição das infecções pré-sintomáticas e assintomáticas para a transmissão geral da Sars-CoV-2 significa que as medidas de prevenção combinadas, com melhor higiene das mãos, máscaras, rastreamento de testes e estratégias de isolamento e distanciamento social, continuarão a ser necessárias”, enfatizam.
Até polêmica
A influência dos assintomáticos da disseminação do novo coronavírus é um tema que gerou polêmica. Durante uma coletiva para atualizar a população mundial sobre o combate à pandemia, um representante da Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou não haver indícios de que esses infectados transmitiriam o Sars-CoV-2. Após críticas de especialistas, a agência explicou que a epidemiologista Maria Van Kerkhove havia sido mal interpretada. Segundo a OMS, ela referia-se apenas a um estudo de pequeno porte que sinalizava ser raro este tipo de transmissão.
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Vacina evita danos pulmonares em ratos
Pesquisadores americanos testaram uma vacina experimental para a covid-19 que, em ratos, reduziu danos provocados pela forma grave da doença. A fórmula impediu que as cobaias desenvolvessem pneumonia. Destalhes do trabalho foram publicados na revista especializada Cell Host and Microbe, mas ainda não foram revisados por pares.
A equipe usou como base para a fórmula imunizante o agente infeccioso da estomatite vesicular, enfermidade que não causa danos graves ao organismo humano. O vírus foi enfraquecido em laboratório e também sofreu uma alteração que permitiu que ele passasse a transportar um pedaço do Sars-CoV-2.
O objetivo era fazer com que essa pequena parte do novo coronavírus adicionada à fórmula produzisse anticorpos de defesa no corpo dos roedores e, dessa forma, amenizasse a doença. Os testes mostraram que a fórmula experimental evitou danos nos pulmões das cobaias.
“Ao contrário de muitas das outras vacinas em desenvolvimento, a nossa é capaz de se espalhar de forma limitada dentro do corpo humano, o que significa que é provável que ela provoque uma forte resposta imunológica”, compara, em comunicado, Michael Diamond, um dos autores do estudo e pesquisador da Universidade de Washington. A próxima etapa do estudo será conduzida com animais de maior porte.