Um dos efeitos mais graves da covid-19 é o dano aos pulmões, o que torna a respiração difícil ou impossível para os pacientes em estado crítico. No entanto, existem evidências crescentes de que a doença também afeta o coração. Agora, há sinais de que a sequela cardíaca pode persistir mesmo após a recuperação e, em alguns casos, ser duradoura. Em um estudo de revisão publicado no Journal of Molecular and Cellular Cardiology, cientistas americanos examinaram mais de 100 pesquisas que relacionam a covid-19 e os possíveis efeitos no coração. De acordo com o trabalho, assim como as sequelas pulmonares, as cardíacas podem persistir e, inclusive, piorar o prognóstico do paciente.
“Os danos cardíacos não afetam todos os pacientes, mas um em cada cinco internados com covid-19 terá o problema. Quando há lesão cardíaca, as pessoas correm um risco maior de precisar de ventiladores e de morrer. Além dos efeitos agudos, ainda precisamos aprender mais sobre as implicações de longo prazo do vírus no coração, depois que os pacientes se recuperam da doença”, afirma Kirk U. Knowlton, pesquisador do Instituto de Saúde do Coração de Salt Lake City, nos Estados Unidos, e líder do estudo.
Na revisão publicada, a equipe encontrou vários relatos de miocardite ou inflamação do músculo cardíaco que pode danificar o coração e afetar a capacidade do órgão de bombear sangue. Segundo Knowlton, há evidências consideráveis de que a infecção por Sars-CoV-2 causa danos ao órgão dos pacientes internados por meio de vários mecanismos, incluindo miocardite. No entanto, pouco se sabe sobre os efeitos do vírus no coração de infectados que não requerem hospitalização ou naqueles que não desenvolvem doença pulmonar significativa.
Segundo o pesquisador, além de miocardite, as manifestações cardiovasculares da covid-19 incluem um distúrbio trombótico ou de coagulação que pode se manifestar como trombose venosa profunda, embolia pulmonar, acidente vascular cerebral (AVC) e doença arterial periférica. Além disso, a trombose de vasos pequenos e médios pode contribuir para a lesão do coração.
Outros casos
Knowlton aponta que a ligação entre doenças cardíacas e vírus transmissíveis não é nova. Autópsias de pacientes que morreram durante a pandemia de gripe de 1918 encontraram danos ao coração, e 50% dos pacientes que morreram de poliomielite entre 1942 e 1951 tiveram miocardite, diz. O mesmo foi verificado em pessoas infectadas com caxumba e sarampo.
Porém, o pesquisador diz que ainda não se conhece bem o papel que o sistema imunológico ativado por vírus desempenha nos danos ao coração. “Muitos pacientes com doença grave experimentam uma tempestade de citocinas, em que o sistema imunológico entra em atividade, ataca as próprias células, causando falência de múltiplos órgãos”, afirma. “Esses ataques são uma das maneiras pelas quais acreditamos que o vírus pode causar danos ao coração e miocardite, embora a ligação não seja totalmente clara”.
Tratar a covid-19, diz Knowlton, “é encontrar um equilíbrio entre permitir que o sistema imunológico lute contra o vírus, mas não tanto a ponto de machucar o coração”. O pesquisador acredita que os tratamentos que desativam o Sars-CoV-2 o impediriam de se replicar pelo corpo, evitando resposta imunológica tão severa. “Precisamos de uma compreensão mais completa dos efeitos do vírus no coração em uma população mais ampla de infectados, não apenas nos hospitalizados”, acredita.
"Os danos cardíacos não afetam todos os pacientes, mas um em cada cinco internados com covid-19 terá o problema. Quando há lesão cardíaca, as pessoas correm um risco maior de precisar de ventiladores e de morrer”
Kirk U. Knowlton, pesquisador do Instituto de Saúde do Coração de Salt Lake City
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OMS: pandemia não deve durar dois anos
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que a pandemia da covid-19 deve durar “menos de dois anos”. A afirmação tem como base a avaliação da entidade sobre resultados obtidos por pesquisas de vacinas e de outras ações de enfrentamento da doença.
“Esperamos acabar com essa pandemia em menos de dois anos. Acima de tudo, se conseguirmos unir esforços (...) e usar ao máximo os recursos disponíveis e torcer para que possamos ter ferramentas complementares, como as vacinas, acho que podemos acabar com um período de tempo mais curto do que a gripe de 1918”, afirmou Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da agência.
Para Ghebreyesus, agora é o momento de todos se manterem vigilantes, principalmente em razão do relaxamento de medidas restritivas e do registro de novas ondas de casos de infecção principalmente na Europa. “O progresso não significa vitória”, ressaltou, lembrando que a maioria das pessoas “continua a ser suscetível para a covid-19”. No começo da semana, a agência alertou que menos de 10% das pessoas têm anticorpos para o Sars-CoV-2, condição que nos coloca longe da chamada imunidade de rebanho, um dos argumentos usados para a reabertura de comércios e escolas.
Também ontem, a OMS repassou orientações para o uso de máscaras entre os jovens. A recomendação é de que crianças com mais de 12 anos usem a proteção facial nas mesmas condições que os adultos, “principalmente quando não podem garantir uma distância de pelo menos um metro das demais e se a transmissão é generalizada na área em questão”.