No maior estudo global que investigou os efeitos da covid-19 em crianças e adolescentes, um grupo de pesquisadores britânicos concluiu que esses pacientes têm menos risco de desenvolver a forma grave da doença, assim como morrer devido à infecção por Sars-CoV-2. Porém, a pesquisa, publicada na revista British Medical Journal (BMJ), também destaca a severidade de uma das consequências dessa enfermidade nos mais novos: a síndrome inflamatória multissistêmica em crianças (SIM-C), um conjunto de sintomas que, geralmente, exige internação nas unidades de terapia intensiva (UTIs) e pode levar à morte.
O artigo, publicado em um momento no qual outros estudos sugerem que crianças disseminam mais a doença — por serem, normalmente, assintomáticas e carregarem uma alta carga viral —, identificou um ponto semelhante nas manifestações da covid-19 em adultos. Assim como os mais velhos, os pequenos com obesidade têm risco elevado de sofrerem da forma grave da infecção. Outras características observadas pelos pesquisadores que aumentam a chance de internação nas UTIs são etnia negra e ter menos de 1 ano de idade.
O estudo foi liderado por pesquisadores das universidades de Edimburgo e Liverpool, do Imperial College de Londres e do Hospital Real para Crianças, de Glasgow. Eles integram o ISARIC4C, um grupo de médicos que estuda a prevenção por mortes respiratórias. Ao todo, a pesquisa envolveu 138 hospitais da Inglaterra, do País de Gales e da Escócia e coletou dados de dois terços de todos os internos por covid-19 nessas instituições. No recorte publicado no BMJ, entraram informações sobre 651 crianças e jovens com menos de 19 anos.
Os pacientes foram acompanhados por pelo menos duas semanas, entre janeiro e julho. Nesse período, 18% (116) foram internados em UTIs, sendo que bebês com menos de 1 mês, crianças negras e com 10 a 14 anos eram as mais numerosas desse grupo. Seis (1%) morreram no hospital e, de acordo com os médicos, tinham comorbidades. O estudo destaca que a taxa é “incrivelmente baixa”, comparada ao que ocorre com pessoas de todas as idades (27%).
Complicação
Da população estudada, 11% tinham sintomas que as encaixavam na síndrome inflamatória multissistêmica em crianças. Os pacientes tinham média de idade de 10,7 anos e eram de etnias não brancas. Além dos sintomas já observados em casos de SIM-C (conjuntivite, erupção cutânea e/ou problemas gastrointestinais), os pesquisadores identificaram novas manifestações da doença: dor de cabeça, dor muscular e de garganta, fadiga e plaquetas baixas.
Os pacientes com a síndrome apresentaram cinco vezes mais risco de serem internados em UTIs, mas nenhum morreu. O artigo destaca a necessidade de a Organização Mundial da Saúde atualizar as manifestações clínicas de SIM-C para orientar os médicos na identificação da síndrome.
Um dos autores do estudo, Louisa Pollock, consultora em doenças infecciosas pediátricas do Hospital Real para Crianças de Glasgow, na Escócia, disse que a pesquisa pode tranquilizar os pais, já que mostra que poucas crianças são afetadas pela covid-19. Porém, ela ressalta que, à medida que muitos países retomam as atividades escolares, é preciso monitorar continuamente as infecções nos pequenos. “Embora rara, a síndrome aumenta a gravidade em alguns grupos de crianças, especialmente as não brancas e com obesidade”, alerta. (PO)
Genes com papel-chave
Pesquisadores do Instituto de Pesquisa Benaroya, nos Estados Unidos, identificaram uma nova via de proteção celular que tem como foco uma vulnerabilidade comum em vários vírus pandêmicos diferentes, como o do ebola e o da Sars. Segundo eles, o mecanismo pode proteger as células das infecções virais. O estudo, publicado na revista Science, mostra que dois genes específicos têm um papel importante na fusão do micro-organismo com a membrana celular. Segundo os autores, inibi-los poderá levar a um tratamento antiviral para algumas doenças, incluindo a covid-19.
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