Coronavírus

Resultados da vacina russa são animadores, dizem pesquisadores americanos

Resultados de testes publicados na revista britânica The Lancet são os primeiros a serem compartilhados com a comunidade científica. Segundo os criadores da Sputnik V, novos experimentos mostrarão se ela pode evitar a infecção pelo Sars-CoV-2

Correio Braziliense
postado em 05/09/2020 08:58 / atualizado em 05/09/2020 11:15
 (crédito: Handout/AFP)
(crédito: Handout/AFP)

Pela primeira vez, a Rússia publicou resultados de testes feitos com a vacina Sputnik V, a primeira do mundo contra o novo coronavírus a receber registro. Um estudo divulgado na revista médica britânica The Lancet atestou a segurança da substância, que já foi aplicada em militares, profissionais de saúde e, segundo o presidente Vladimir Putin, em uma filha dele.

O artigo concluiu que não houve efeitos colaterais graves em 76 voluntários de 18 a 60 anos. Contudo, os próprios autores ressaltam que ainda não é possível afirmar que a imunização protege contra o Sars-CoV-2. Para isso, são necessários testes com um número considerável de participantes.

A vacina, cujo nome faz referência ao primeiro satélite a sobrevoar a Terra, causou desconfiança no meio científico quando, em 11 de agosto, autoridades russas afirmaram que ela foi registrada para uso amplo, e não apenas experimental, como é o caso das outras substâncias em teste atualmente. Até agora, nenhum dado havia sido compartilhado com a comunidade científica, o que levantou dúvidas sobre eficácia e segurança. De acordo com os desenvolvedores do imunizante, os testes de fase três, que envolvem milhares de pessoas, ficarão prontos neste mês.

Por sua vez, Moscou denunciou as críticas como uma tentativa de deslegitimar a investigação russa. O presidente Putin foi além e afirmou que a vacina, desenvolvida pelo governo e pelo Instituto de Pesquisa Gamaleia, garante “imunidade de longa duração” contra o novo coronavírus. No estudo publicado ontem, os cientistas descrevem que a Sputnik V induziu uma resposta robusta, com uma produção de anticorpos ainda maior do que a da fórmula desenvolvida pela Universidade de Oxford. Também houve formação de células T específicas para o Sars-CoV-2, relata o artigo.

Duas doses

A vacina russa tem uma plataforma semelhante à de Oxford: usa dois adenovírus comuns para levar ao organismo a proteína spike, que permite ao Sars-CoV-2 entrar no núcleo celular e se replicar. No artigo, os autores relatam que o regime de vacinação foi com uma primeira dose, seguida de reforço três semanas depois. A publicação na The Lancet baseia-se em dois pequenos estudos, realizados entre 18 de junho e 3 de agosto por pesquisadores dos ministérios russos da Saúde e da Defesa e financiados pelo primeiro.

Agora, são necessários “ensaios em larga escala, com um acompanhamento mais longo, incluindo a comparação com um placebo” para “estabelecer a inocuidade ao longo do tempo e a eficácia da vacina na prevenção da infecção com a covid-19”, disseram os autores. Esse será o objetivo do teste de fase três, que incluirá 40 mil participantes “de várias idades e com diferentes níveis de risco”, completam.

Para Naor Bar-Zeev, especialista em vacinas da Johns Hopkins Bloomberg School of Public Health, nos Estados Unidos, os resultados são animadores, mas ainda em pequena escala. “Provar que as vacinas contra a covid-19 são seguras será crucial não apenas para que sejam aceitas (por parte da população), mas também para a confiança na vacinação em geral”, enfatizou, em um comentário publicado na The Lancet. “O estudo mostra que, até agora, vai tudo bem, mas uma resposta imunológica não significa, necessariamente, proteção contra a covid-19”, alertou Brendan Wren, professor de microbiologia e medicina tropical na London School of Hygiene and Tropical Medicine.

OMS

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), existem 176 projetos de vacinas em andamento no mundo, com 34 em fase de ensaio clínico. Isso significa que já começaram a ser testados em humanos. Desses, oito estão na fase três, os mais avançados. A OMS alertou, porém, que não espera uma vacinação generalizada contra a covid-19 antes de meados de 2021.

“Um número considerável de candidatas entrou na fase três de testes. Conhecemos, ao menos, de seis a nove que já percorreram um bom trecho em termos de pesquisa”, declarou Margaret Harris, uma porta-voz da OMS, em um encontro com a imprensa em Genebra. “Mas, em termos de calendário realista, não esperamos ver uma vacinação generalizada antes de meados do próximo ano”, completou. A porta-voz explicou que a fase três dos testes clínicos — ou seja, a etapa de testes em larga escala com voluntários — leva tempo porque os cientistas precisam verificar se as vacinas são eficazes e seguras.

"O estudo mostra que, até agora, vai tudo bem, mas uma resposta imunológica não significa, necessariamente, proteção contra a covid-19”
Brendan Wren, professor de microbiologia e medicina tropical na London School of Hygiene and Tropical Medicine

"Em termos de calendário realista, não esperamos ver uma vacinação generalizada antes de meados do próximo ano”
Margaret Harris, porta-voz da Organização Mundial da Saúde (OMS)

 

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Carência de vitamina D e infecção

Em um estudo retrospectivo com pacientes que tiveram a covid-19, pesquisadores da Universidade de Medicina de Chicago encontraram associação entre a deficiência de vitamina D e a probabilidade de infecção pelo coronavírus. “A vitamina D é importante para a função do sistema imunológico e já foi mostrado que os suplementos da substância reduzem o risco de infecções virais do trato respiratório. Nossa análise estatística sugere que isso pode ser verdade para a infecção por covid-19”, disse David Meltzer, MD, Ph.D, chefe de Medicina Hospitalar da instituição e autor principal do estudo.

A equipe analisou 489 pacientes cujo nível de vitamina D foi medido dentro de um ano antes de eles terem testado positivo para a covid-19. Aqueles com deficiência de vitamina D e que não foram tratados dessa complicação tiveram quase o dobro de probabilidade de serem infectados pelo Sars-CoV-2, em comparação com os que tinham níveis suficientes da vitamina. O estudo foi publicado na revista on-line Jama Network Open.

“Entender se o tratamento da deficiência de vitamina D altera o risco de covid-19 pode ser de grande importância globalmente”, ressaltou Meltzer. “A vitamina D é barata, geralmente muito segura de tomar e pode ser amplamente dimensionada.” A equipe enfatiza a necessidade de mais estudos experimentais para determinar se a suplementação da substância é capaz de reduzir o risco e a gravidade da covid-19.

 

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